A FORÇA MAIOR
A alegria subverte a clínica.E não é maníaca. Tampouco faz o par alternante com a depressão. É, isto sim, o combustível da produção desejante de territórios existenciais, e se espraia para além de duas pessoas fabricadas numa verticalidade hierárquica. Nada a ver com a alegria fluoxetínica pois, além de estar ausente nos neurocircuitos totalitários, ela não se reduz à adequação do paciente ao meio social. Essência do devir, desanuncia a sua chegada. Surpresa ! A equação “bom comportamento=alegria”será, então, substituída pela da “potência=produção de mundos”. O corpo erótico é essa alegria, curva silenciosa e invisível que o permeia. Tudo a ver com o modo louco de viver sem a crosta psiquiátrica. Não se trata, é preciso dizer, do louco romântico. Uma experiência sustentada por mil fluxos afetivos que chegam de fora, que são o Fora. Alimenta-se da realidade "real". Mistura e dissolução dos códigos, poucos a suportam, vivendo que estão sob a tirania da técnica, da consciência, da razão utilitária, do intelecto, da moral e do bom senso. Ao inverso, desviar as subjetividades para o non sense torna-se um sentido. A psiquiatria não compreende. É que a alegria chega sem aviso, sem explicações, sem origens. Insiste nos devires inauditos como forma de estar presente no mundo (apesar de tudo) e afirmar uma prática inscrita na pele. A força de um furacão no horizonte expressa os extremos da intensidade do desejo, entre a alegria e a angústia.
A.M.
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