ÉTICA E SAÚDE MENTAL
Em saúde mental, a ética é indissociável da clínica e de tudo que gira em torno e a determina. Assim, ela é uma atitude a construir, a tentar, a arriscar. Não como ideia, ética idealista, não como reflexão teórica sobre a moral. Trata-se de outra coisa, outro conceito, outro rumo. A ética está encravada na prática, é a prática. Aumento ou redução da força de viver. Potência ou impotência dos corpos. A clínica em psicopatologia é a ética em si mesma, crua, real, concreta, atravessada e atravessando linhas político-institucionais muitas vezes nefastas. Impossível não haver uma escolha. O ranço da psiquiatria manicomial, por vezes disfarçado do enfoque neurobiológico, portanto, científico, ou de políticas públicas da forma-Estado legitimadas pela forma-Universidade, também é ético, ainda que regido pelo cinismo e pela destruição de singularidades. No ato clínico, a ética precede a técnica e passa por linhas singulares da existência que exigem escolhas politicas finas. Não é fácil. Não há uma chave universal para resolver os dilemas éticos. Não há modelo fixo, exceto o dos manicômios, mesmo que sejam manicômios da alma. Então a ética funciona sempre num contexto sócio-institucional dado. A não escolha é uma escolha. É essa a implicação técnica do profissional em saúde mental. Ou nada.
A.M.
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