AFETOS E TRANSFERÊNCIA
Os afetos são o que move as relações humanas e inumanas. No campo técnico-profissional (saúde) eles adquirem um valor singular. É que a saúde se mostra como um campo existencial onde se explicitam códigos sociais vinculados a experiências-limite. A dor física, o medo, a angústia, o desamparo, a doença, a morte, a perda da autonomia, etc. são situações que se movem e se expressam por e pelos afetos. O técnico em saúde é afetado pela experiència-limite do paciente porque ela pode também acontecer consigo. Ele, o técnico, está implicado como humano, está no mesmo universo de sentido, "mesmo que não esteja". Impossível negar esta realidade que constitui o trabalho em saúde. Os afetos precedem a técnica e estabelecem uma consistência vivencial ao ato de ajuda (terapêutico). Isso é válido num espectro de gravidade que vai das situações clínicas emergenciais complexas aos atendimentos mais simples. São níveis de intensidade vivencial: atingem o técnico como subjetivação em ato. Neste sentido o conceito de transferência ( Freud) nos é útil. O real que circunda e constitui a relação com o paciente pode ser percebido como 1- um mundo imaginário de formas sociais, códigos estáveis, significações prévias como por ex. "ver" o paciente como alguém da família, ou como 2- um mundo caótico de forças (portanto invisível) que flui sem cessar entre criar/destruir. São territórios a um tempo subjetivos e objetivos que vêm misturados, entrelaçados, e só critérios ético-clínicos serão capazes de discernir a escolha.
A.M.
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