SEM IDENTIDADE
O olhar da diferença é um olhar sutil. Ele não vê, apenas enxerga. Capta impressões vagas e exatas. Trabalha no detalhe ínfimo das coisas. Formiga por todo o corpo. Opera como quando se diz: "o amor é cego". Não que a diferença seja o amor, até porque este não existe como coisa, substância, essência, objeto sólido, propriedade, mas como o acontecimento-amar. Ir além é pois amar o acontecimento como o que não retorna jamais, e que sempre volta com a manhã profunda e leve. Isso é antigo e ao mesmo tempo novo. No exercício dos seus paradoxos, nas cambalhotas do pensamento da alegria o olhar da diferença é mais que um olhar, mais que a perspicácia e a doçura desse olhar. O "amar" enxerga nas trevas, orienta-se por sensações, é arte, pura arte. Questão ética: a potência. É uma prática de vida, um estremecimento, um frêmito, um grito silencioso, um instante lunático. Está encravado nas horas em que Virgínia Woolf captou com todas as suas forças, com todo o esplendor da poesia que viveu. Sem limites para criar.
A.M
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