sábado, 27 de setembro de 2014

HUMORES

Não se encontra nos livros de psiquiatria um conceito de AFETO. Dito de outro modo, a pergunta "o que é a afetividade?" sequer é posta. Às vezes são encontradas aqui e ali definições ridículas, baseadas no pressuposto de que "afetividade" é tudo que não é consciência, pensamento, memória, atenção, fala, etc. É de fazer rir. Uma conceituação é assim produzida ao inverso, ou seja, pelo negativo.Dos manuais de psicopatologia (cada vez mais raros, com a progressiva extinção desse campo de pesquisa) aos tratados de psiquiatria, os textos não assumem a auto-ignorância para com um tema importantíssimo da clínica. Contudo, o mais grave ainda não é isso, e sim a construção de todo um conjunto pseudo-teórico sobre o HUMOR, sem quase nada se saber dos afetos. O humor decorre dos afetos e não o contrário. Ele, o humor, se expressa antes de tudo como afetos em variados matizes. Trata-se de um dado facilmente observável no cotidiano dos indivíduos não necessariamente doentes. Ainda assim, surge e se afirma, nos dias atuais, o conceito de bipolaridade como uma pérola de inconsistência teórica e clínica. Os pacientes tendem a acreditar nessa empulhação que supostamente irá melhorar suas vidas psíquicas. Toneladas de psicofármacos são, então, enfiados goela abaixo.

A.M.

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