terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

SOBRE O MÉTODO DA DIFERENÇA

(...) O  psiquiatra se  despersonaliza. Torna-se algo que se torna outra coisa. Vive nos e dos   paradoxos da linguagem que o levam a encontrar o paciente, o mundo, o cosmos. Não compreende o que se passa. Perplexo, interroga e interroga-se. Dança e entoa em silêncio cânticos extraídos do fundo de vielas existenciais aparentemente sem saídas. Não busca uma ontologia da psicose e/ou dos chamados transtornos mentais. Talvez consiga ser um feiticeiro da modernidade técnica, criando linhas de pura alegria (ainda e principalmente) nas quedas e surtos dos pacientes e de si mesmo. O método da diferença traz, pois, um conjunto de possibilidades para o interior  da  clínica. Os psicofármacos podem (claro que sim!) ser aliados nessa travessia sem signos prévios. Use e controle a droga lícita, sabendo que ela poderá se tornar ilícita se atentar contra a criatividade do seu viver. Não só a química, mas todo e qualquer objeto  pode induzir a uma dependência abjeta. O "psiquiatra-feiticeiro" não é esse objeto. O "psiquiatra remedeiro", sim. Este se nutre de subjetividades enrijecidas, esvaziadas, ocas, trastes apelidados de pacientes. Os pacientes são pacientes demais.  É preciso um combate incessante contra a máquina farmacológica que compõe a máquina do capital axiomático. No entanto, o fármaco é (ou poderá ser) um elemento prático-terapêutico, já que um devir-loucura conta e trabalha com múltiplos elementos: sensibilidades não cadastradas, intuições fugidias e operacionais,  percepções finas do invisível, senso agudo de observação, uma escuta atenta do silêncio, formas inimagináveis de espreita, vôos desejantes sem pouso certo, falas heterodoxas, enfim, todo um conjunto de dispositivos...
(...)
A.M. in Trair a psiquiatria

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