quinta-feira, 5 de julho de 2018

DE ONDE ELE VEIO?

O boulevar periférico —o anel viário que marca os limites de Paris— é uma fronteira mental.

Do outro lado se abre outro mundo: a banlieue, ou a periferia. Desconhecido e mitificado. A banlieue é o lugar em que a França projeta seus fantasmas, suas frustrações. Palco de distúrbios ou viveiro de islamistas. Muro invisível no qual a ascensão social se choca. Também, às vezes, o território de onde a República espera que chegue a salvação, o herói que irá debelar suas ansiedades, que acalmará o terror da fratura da nação.

A Copa é uma destas ocasiões. Kylian Mbappé —produto perfeito da banlieue de Paris; filho da periferia mais dura e a mais pura; revelação na Rússia— encarna o renovado sonho dessa França diversa e coesa. Mbappé nasceu em 1998, em Bondy, uma cidade de 52.000 habitantes a 12 quilômetros do centro de Paris. Seu pai era de origem camaronesa; sua mãe, argelina. Ambos esportistas. Se existisse uma capital da banlieue, Bondy aspiraria ao posto. A banlieue castigada pela precariedade —na moradia e na educação— e pela discriminação. E pela falta de oportunidades. A banlieue, também, das casas ajeitadinhas com jardim, os cafés hipsters e livrarias independentes, um espaço de convivência e respeito aparente e de trabalho duro que desmente os retratos apocalípticos de um território sem lei. Tudo é mais complexo.
(...)

Marc Bassets, El País, 02/07/2018, 15:56 hs

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