ANGÚSTIA OU ANSIEDADE?
A semiologia psicopatológica (sinais e sintomas) passou por várias mudanças terminológicas nos últimos 20 anos. Isto se deve em parte ao avanço da psiquiatria biológica em sua conexão de pesquisa com as neurociências. A psicopatologia sofreu e sofre o efeito dos neurométodos, levando-a à beira de em extermínio prático (ou clínico). Vejamos o caso do sintoma chamado "ansiedade". Ela é mal definida, mal compreendida e expressa de modo impreciso pelo paciente. Outrora,talvez sob influência da psicanálise e da filosofia fenomenológico-existencialista, era chamada de "angústia". Seria a mesma coisa? Ora, trata-se de não comparar uma possível semelhança, mas de verificar a que isso leva no encontro com o paciente. Enquanto afetos destrutivos, ambas atingem e se efetuam no corpo.No caso da angústia, a experiência corporal (uma palpitação, por exemplo) remete a sensações de dor psiquíca que ultrapassam o corpo visível em prol de dobras da alma num regime de opacidade expressiva. Ou seja, a angústia é um sintoma mal definido, mas que no entanto traz para a clínica a dimensão do indizível ( "não tenho palavras") e do invisível ( "ninguém enxerga como me sinto"). No caso da ansiedade, ao contrário, os poderes médicos (em especial a parceria psiquiatria-neurociências)fabrica um campo dizível ( "a queixa principal") e visível ("o reino da tecnologia da imagem") que faz do paciente um organismo físico-químico passível de um reparo visando alcançar a normalidade. Na história recente da CID-10 a ansiedade sai do rol dos sintomas e ganha status de doença ou transtorno da ansiedade. Mais uma vez ressoa a questão: em que isso serve ao paciente, ou mais amplamente, à vida que sofre e agoniza? Optamos por trabalhar com o conceito de angústia dada a amplidão de afetos negativos a que ela suscita e conduz, mesmo e principalmente afetos estranhos, bizarros e não codificáveis em manuais e protocolos.Essa é uma clínica da diferença e não da semelhança e não da identidade fixa do doente.
A.M.
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