MIL ENCONTROS
Em tempos idos, trabalhamos o conceito de Encontro a partir de Espinosa, Moreno, Martin Buber e Deleuze-Guattari. Estes autores compuseram uma espécie de matriz teórica para pensar o encontro, considerando-se o próprio encontro com eles. No entanto, para além de um cais seguro,outros autores foram conectados, formando um extenso rizoma onde e por onde linhas de pesquisa se tecem. Mais ainda além e aquém de tais conexões, o conceito de encontro passou a ser engendrado no devir da clínica em psicopatologia. Observamos: a cada processo terapêutico aparecem signos que enriquecem o conceito, tonando-o peça essencial na construção de uma prática-clínica da diferença. Alguns desse signos podem ser registrados como balizas existenciais numa aventura em plagas do novo, do indeterminado e do desconhecido. Mistério da subjetividade. Em primeiro lugar, o signo da loucura como o lugar do não-lugar das significações prévias. Deserto de valores, vazio de sentido. Em segundo, o signo da morte, da finitude, da perplexidade em face do fio tênue da vida atravessando os discursos. Em terceiro, a irreversibilidade do tempo que passa e não volta jamais, truísmo imbricado na economia psíquica, e por isso nem sempre valorizado. Em quarto, a inferência direta do fracasso monumental da estadia da humanidade na Terra e o seu pesadelo do qual não se desperta. Em quinto, a relação indissociável dos modos de subjetivação com as formas sociais expressas segundo a ordem do capitalismo aparentemente vencedor. Tais pontos de ancoragem do pensamento do encontro com a diferença podem e devem transmutar-se em mil linhas de intervenção prática na clínica psicopatológica, de onde se pode extrair a alegria de experimentar novos encontros. Sem garantias de poder, felicidade, sucesso, dinheiro, prestígio, valores humanos, demasiado humanos, como diria o bigodudo alemão do século XIX.
A.M.
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