terça-feira, 24 de dezembro de 2019

LEGIONÁRIOS DE CRISTO E A PEDOFILIA

A Congregação dos Legionários de Cristo, um dos grandes movimentos do cristianismo romano, publicou seu relatório sobre os abusos sexuais de menores no seu seio, principalmente por parte de seu fundador, o sacerdote Marcial Maciel, três dias após o Papa ter ordenado a remoção do segredo pontifício sobre os pedófilos eclesiásticos. O documento, intitulado Radiografia de Oito Décadas para Erradicar o Abuso, indica que, desde 1941 até o momento, 175 menores foram vítimas de abusos sexuais cometidos por 33 sacerdotes da congregação. O número inclui pelo menos 60 menores abusados por Marcial Maciel, falecido em 2008. A maioria das vítimas: meninos entre 11 e 16 anos. Desses 33 sacerdotes, seis morreram, oito deixaram o sacerdócio e 18 continuam na congregação, mas afastados do tratamento pastoral dos menores – quatro deles com restrições ao ministério e com um plano de segurança; 14 foram obrigados a não exercer o ministério sacerdotal público. Entre os sacerdotes que abusaram, 14 também teriam sido vítimas de abuso na congregação.

Diz-se que Bento XVI decidiu abandonar o cargo ante a resistência da Cúria em eliminar os pedófilos do Vaticano. O principal entre eles, Marcial Maciel, fundador dos Legionários, sempre foi protegido por João Paulo II – que chegou a propô-lo como exemplo da juventude. Sabe-se agora que Maciel, já falecido, enchia de dinheiro os bolsos de alguns dos cardeais próximos do Papa, pois havia transformado sua congregação num império econômico, com colégios, universidades, agências de notícias e de viagens, entre outros empreendimentos.

O escandaloso é que o Vaticano teve notícia da índole do fundador legionário em 1943 e que os jesuítas, com os quais Maciel estudou na Universidade de Comillas (Cantábria), o haviam expulsado do centro dois anos antes. Isso foi reconhecido em janeiro passado pelo prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada, o cardeal João Braz de Aviz. “Quem o acobertou era uma máfia, eles não eram a Igreja”, disse o cardeal à revista católica Vida Nueva. João Braz foi a Madri para o encerramento da assembleia geral da Confederação Espanhola de Religiosos (Confer). “Tenho a impressão de que as denúncias de abusos de menores aumentarão, porque estamos apenas no início. Faz 70 anos que acobertamos, e isso tem sido um grande erro”, afirmou. Também disse que o Vaticano tinha documentos desde 1943 sobre a pedofilia dos Legionários.
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Juan G. Bedoya, El País, Madri, 22/12/2019, 10:34 hs

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