domingo, 31 de janeiro de 2021

SEM  CORPO,  SEM  AFETO

A psiquiatria produz o corpo-organismo, tomando-o como base da propedêutica clínica: o que fazer com (do) o paciente ? Este organismo tem uma forma que lhe autentica a “natureza” do humano, algo que interage com o mundo fabricando a chamada subjetividade. A inscrição do mecanicismo no funcionamento do organismo é estabelecida pelas relações entre os sistemas (renal, endócrino, nervoso, cárdio-circulatório, etc) que supostamente “antecedem” a realidade do mundo. Portanto, quando em psiquiatria se fala em desejo é em nome de sentimentos humanos que constituem o “estar vivo”. A equação sentimento=alma=espírito é dada como natural, ultrapassando a animalidade em prol de uma espécie de divinização do humano através da instituição da Consciência. “Só o homem tem uma alma”. Desse modo, o que se chama “organismo” é automaticamente ligado à “consciência” como lugar da verdade. Tal percurso conceitual (invisível, pois está encravado em práticas institucionais) une a ausência de corpo à ausência de desejo. Uma psiquiatria sem corpo e sem desejo é possível? Como isso funciona? A psiquiatria funciona não funcionando. Tal paradoxo operacional compreende alianças institucionais poderosas. Citemos 5: a família, a escola, o direito, o estado e a polícia. Há outras...  Usamo-las como referência à produção de um organismo-verdade ajustado aos funcionamentos de manutenção fisiológica e bioquímica que lhe dizem respeito. “Não funcionar” significa estar sem corpo e sem afeto e ao mesmo tempo produzir organismos centrados na consciência. O filho, o aluno, o réu, o cidadão e o bandido (respectivos ás instituições nomeadas acima)  oferecem um organismo e uma consciência como suportes de verdade à psiquiatria esvaziada de conceitos, mas prenhe de poderes. É que ela  se insinua e se inscreve num campo social capturado pelo capital semiótico hegemônico (significância) e só funciona graças a esses suportes (territórios) expressos no visível (organismo) e no dizível (consciência). Buscamos outra coisa: criar síndromes psiquiátricas a partir da razão clínica mais direta: um estado selvagem ao olhar ético-estético.  Uma psiquiatria da diferença ou a diferença na psiquiatria. Quem topa?


A.M.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

CLÍNICA E TECNOLOGIA DA IMAGEM - II

Continuando a discutir sobre a "tecnologia da imagem" e seus atravessamentos corporais, chegamos à análise da demanda em saúde mental. O corpo (não o corpo-organismo, mas o corpo-desejo) é atingido em cheio por imagens-de-imagens, fazendo da experiência de si uma experiência plugada aos fluxos semióticos vindos "de fora"mas parecendo vir "de dentro". É que a forma das instituições sociais (cf Guattari e outros demonstraram) está interiorizada, subjetivizada num inconsciente que não mais passa por categorias edipianas. A tecnologia da imagem não é, pois, um mal em si, mas território de sentido de uma verdade subjetiva veiculada por equipamentos de poder. Daí o homem moderno encarnar um tipo de sonambulismo coletivo que a todos arrasta. A incrível aceleração da velocidade do tempo aniquila o Sentido. Efeitos práticos: na clínica, a psicose. Na política, o fascismo.


A.M. 

Exílio


Quando a pátria que temos não a temos

Perdida por silêncio e por renúncia

Até a voz do mar se torna exílio

E a luz que nos rodeia é como grades


Sophia Andresen

Ética e moral em Gilles Deleuze | Entrevista com Mariana de Toledo

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

NA CONTRA-CORRENTE

A psiquiatria é um aparelho de poder filhote e subproduto da medicina, por sua vez uma megamáquína em escala planetária que produz, entre outras coisas, a medicalização da vida social. É preciso sempre mais doentes! Tal medicalização implica, antes de tudo, na fabricação de afetos coletivos"baixos" tais como a reverência à figura do médico, o medo à vida (no que se inclui a doença), a crença acrítica nos métodos e na palavra deificada da medicina, e no caso psiquiátrico, a fobia à loucura e à perda do controle sobre si, além do cultivo dos neurônios e sinapses aflitas. Assim, o que está em jogo, nas duas formas sociais citadas, é o empreendimento capitalístico voraz de controle massivo sobre corpos e mentes, aplicado pelas vias e veias do inconsciente-fábrica ( importante: a consciência vigil só recolhe os efeitos imediatos das formas de soberania política) a desejar o modo de vida contemporâneo. Ou seja, o capitalismo não apenas visto como pauperização econômica "natural" eterna e brutal de milhões de pessoas, mas como capital ("simples" relação social) instalado na alma: a servidão imunda.Tudo isso é invisivelmente explícito na vitrine internética e escancarado aos milhões numa sutil fabricação da indiferença e o ressurgir do leito esplêndido para um dualismo esgotado (esquerda versus direita) como é o caso do Brasil atual. De todo modo, voltando ao início desse texto menor, é possível dizer que a psiquiatria e seus psiquiatrizados, a medicina e seus medicalizados, compõem a superfície encantada do apoliticismo hegemônico e a sua correlata substituição pela tecnologia das virtualidades passivas.


A.M.

domingo, 24 de janeiro de 2021

A DIFERENÇA NÃO TEM IDENTIDADE

O olhar da diferença é um olhar cego. Ele não vê, apenas enxerga. Percebe impressões vagas e exatas. Trabalha nos detalhes ínfimos das coisas. Funciona como quando se diz que "o amor é cego". Não que a diferença seja o amor, até porque este não existe como coisa, substância, essência, objeto sólido, mas como amar, acontecimento. Mais ainda, amar o acontecimento como o que não retornará jamais, e que sempre virá com a manhã na noite mais profunda e leve.No exercício dos seus paradoxos, nas cambalhotas (cf. Carlos Castañeda) do pensamento da alegria, o olhar da diferença é mais que um olhar, muito mais que a própria perspicácia desse olhar. É que o"amar" enxerga nas trevas, orienta-se por sensações. Questão ética: a potência, enfim. É uma prática de vida, um estremecimento, um frêmito, um grito silencioso, um instante lunático encravado nas horas que Virgínia Woolf captou com todas as suas forças, com todo o esplendor da poesia que viveu. 


A.M.

ANNA RAZUMOVSKAYA


 

sábado, 23 de janeiro de 2021

Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas,

Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos

de um mar extinto. Caminha sobre as conchas

dos caracóis da terra. Certa vez encontrou uma

voz sem boca. Era uma voz pequena e azul. Não

tinha boca mesmo. “Sonora voz de uma concha”,

ele disse. Sombra-Boa ainda ouve nestes lugares

conversamentos de gaivotas. E passam navios

caranguejeiros por ele, carregados de lodo.

Sombra-Boa tem hora que entra em pura

decomposição lírica: “Aromas de tomilhos dementam

cigarras.” Conversava em Guató, em Português, e em

Pássaro.

Me disse em Língua-pássaro: “Anhumas premunem

mulheres grávidas, 3 dias antes do inturgescer”.

Sombra-Boa ainda fala de suas descobertas:

“Borboletas de franjas amarelas são fascinadas

por dejectos.” Foi sempre um ente abençoado a

garças. Nascera engrandecido de nadezas.


Manoel de Barros 

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

BUROCRACIA DO GOL

O fascínio que milhões de pessoas têm pelo futebol ...ah, por que será? porque ele é um jogo próximo da vida, da vida enquanto imprevisibilidade. Daí o mistério. Qual o nosso futuro? Qual será o resultado do jogo? Zebras. Cem mil fatores atravessam um jogo e talvez um único fator (sorte/azar por ex.) decida tudo, resolva tudo e conduza o time à vitória. Ou à derrota. O futebol, antes de técnica, é magia e arte. Traz o signo das intensidades do acaso ("por que aquela bola não entrou?") e cria, inventa a condição operacional para a técnica. A capacidade do craque é um dom. A técnica vem depois e fica por conta do treinador, do massagista, do médico,do fisioterapeuta, do professor de educação física e até do psicólogo (se houver). Um treinamento, portanto. O futebol, assim como a vida, não é justo. A mídia costuma recitar a frase banal: "nem sempre ganha o melhor". Ora, aí está a essência do futebol como surpresa,(alegria/tristeza) sem culpa ou julgamento mas celebração profana. Gooooooooll!!! Certo dia, como máquina intrusa, chegou o VAR para interromper/esfriar os fluxos de prazer da torcida (coitus interruptus?) e assassinar a estética do erro. Tempos modernos.


A.M.

domingo, 17 de janeiro de 2021

A  PSIQUIATRIA REJEITA A LOUCURA

Chamamos caos de loucura. Ou vice-versa.Os sintomas constituem transtornos (ou síndromes) sobre um fundo existencial  que  é o caos.  Este é  um operador  a-significante,  ou  melhor, nada significa. Remete ao puro contato com a vivência  expressa no momento do exame. Desse modo, o exame físico, paradigma da medicina, é inadequado e  grosseiro para estabelecer um vínculo terapêutico com  o paciente e  até  mesmo estabelecer um diagnóstico. A loucura extrapola   os limites do pensar médico. Ela incomoda.

(...)

A.M. in Trair a psiquiatria

UMA SÓ VOZ PARA O SER

Com efeito, o essencial na univocidade não é que o Ser se diga num único sentido. É que ele se diga num único sentido de todas as suas diferenças individuantes ou modalidades intrínsecas. O Ser é o mesmo para todas estas modalidades, mas estas modalidades não são as mesmas. Ele é "igual" para todas, mas elas mesmas não são iguais. Ele se diz num só sentido de todas, mas elas mesmas não têm o mesmo sentido. É da essência do ser unívoco reportar-se a diferenças individuantes, mas estas diferenças não têm a mesma essência e não variam a essência do ser  como o branco se reporta a intensidades diversas, mas permanece essencialmente o mesmo branco. Não há duas "vias", como se acreditou no poema de Parmênides, mas uma só "voz" do Ser, que se reporta a todos os seus modos, os mais diversos, os mais variados, os mais diferenciados. O Ser se diz num único sentido de tudo aquilo de que ele se diz, mas aquilo de que ele se diz difere: ele se diz da própria diferença.

(...)

G.Deleuze in Diferença e Repetição

sábado, 16 de janeiro de 2021

Viva simplesmente, ame generosamente, importe-se profundamente, fale gentilmente, e deixe o resto para Deus.


 George Carlin

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

 


Pensando bem, a religião nunca viu problemas em matar pessoas. Mais gente morreu em nome de Deus do que por outro motivo. Depende de quem manda e de quem morre!


George Carlin

domingo, 10 de janeiro de 2021

Receita


Ingredientes:


2 conflitos de gerações

4 esperanças perdidas

3 litros de sangue fervido

5 sonhos eróticos

2 canções dos beatles


Modo de preparar:


dissolva os sonhos eróticos

nos dois litros de sangue fervido

e deixe gelar seu coração


leve a mistura ao fogo

adicionando dois conflitos de gerações

às esperanças perdidas


corte tudo em pedacinhos

e repita com as canções dos beatles

o mesmo processo usado com os sonhos

eróticos mas desta vez deixe ferver um

pouco mais e mexa até dissolver


parte do sangue pode ser substituído

por suco de groselha

mas os resultados não serão os mesmos

sirva o poema simples ou com ilusões


Nicolas Behr

O  FIM  E O FIM  DO DIAGNÓSTICO  PSIQUIÁTRICO - III

Um diagnóstico médico típico: a tuberculose pulmonar. Quadro clínico, anamnese, exame físico, exames de laboratório, etiologia, tratamento e prognóstico, tudo encadeado numa série compacta de dados clínicos observáveis e comprováveis. Tal não acontece na psiquiatria, mesmo naquelas patologias ditas de origem orgânica, como as demências. É que ela trabalha com determinantes psicossociais tratados (mesmo sem o ser dito) como inferiores (epistemologicamente) aos determinantes somáticos: a psiquiatria ainda está à procura de um corpo! Mais: ela usa vetores somáticos (com destaque especial para o cérebro) que reduzem a complexidade do funcionamento mental a conexões neuroquímicas, ou dito de maneira mais ampla, a processos físico-químicos que compõem um organismo. O diagnóstico psiquiátrico insiste na Clínica como fóssil nosológico voltado a afirmação de uma pseudo-cientificidade, caucionando um status de prestígio sócio-acadêmico, poder e dinheiro. Em termos terapêuticos (o que fazer pelo paciente?) o diagnóstico se revela não só inútil, mas deletério à saúde mental e produtor de "doenças mentais" fictícias. Estas, acopladas ao circuito de produção-consumo-produção (entranhas do capital mercantil ) demandam o uso indiscriminado de psico-remédios químicos como solução para sintomas que por um passe de mágica se tornam doenças do organismo (por. ex., o pânico...). O fim do diagnóstico, que era de origem moral e disciplinadora, torna-se, pois, o fim como declínio do diagnóstico, tal a produção de subjetividades apassivadas em série. Psicose, histeria, demência, ansiedade generalizada, pânico, depressão, TOC, fobia social, etc, tanto faz, transtornos diferentes para remédios iguais.


A.M.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021


 

CLÍNICA E TECNOLOGIA DA IMAGEM - IV

Como F. Guattari previu, vivemos tempos esquizofrênicos. Isso faz retirar do conceito de Capitalismo Mundial Integrado (Guattari, 1982) elementos teóricos contingentes e necessários a uma análise institucional. A produção social (econômica) estendeu-se à produção subjetiva (semiótica) como matéria prima, ou, como diz Foucault,  biopoder. A vida passa a ser produzida, e com ela, tudo que parece imitá-la. Antigos códigos sociais (por ex., na Idade Média, o código teológico) cedem lugar à auto-dissolução numa espécie de esquizofrenização generalizada do corpo social (socius). Não há mais eu, mesmo que pareça. Há, sim, um eu voltado às logísticas de manutenção do cotidiano. É possível olhar em torno: o cenário de dissolução do Sentido é devastador. Indagações da alma ("estarei vivo?") atracam-se no território do corpo-imagem. Assim, pensar para além da simples cognição da realidade só se torna possível mediante a representação dessa realidade e não com e através dela. A realidade "real", o corpo das intensidade mundanas, cede a sua vez, seu número e seu lugar à teatralidade de um mundo em decomposição. Notícias de toda a parte chegam instantâneas. Registram as  linhas subjetivas do consumidor (orgulhoso) de ordens implícitas. Sem saber, é o desejo encalacrado nas dobras da alma: o capital.


A.M.

Bom tempo - Chico Buarque e João Bosco

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

SEM MEDO DA PSIQUIATRIA

Em saúde mental há muitos pacientes - a depender do quadro psicopatológico - que demandam verdadeiramente o uso de psicofármacos. Seria possível explicar isso com detalhes... Desse modo, a psiquiatria, em sua atuação clínica, ou seja, no contato direto com o paciente, tem a sua "razão de ser". É importante considerar esse fato na medida em que há visões "críticas"  que buscam invalidá-la segundo pressupostos conceituais isolados da clínica. Trata-se, óbvio, de uma ótica idealista. Não sabe ou não quer saber que é aí - na clínica- onde tudo se decide. Ora, isso não impede, ao contrário, que tenhamos uma posição de rechaço crítico-clínico e político à psiquiatria atual. Até porque falamos e agimos dentro da própria máquina psiquiátrica como uma espécie de agente duplo. Práticas de traição. São poucos os aliados nesse empreendimento, já que a forma-psiquiatria se produz até mesmo entre não-psiquiatras. De todo modo, o estilhaçamento dos saberes médicos, correlato a aquisição de saberes não médicos, torna-se um método, o rizoma, para que se possa chegar ao paciente e pensar: "será possível trabalhar de outro modo?". No fazer da equipe técnica instituída tanto a nível formal quanto operacional, a figura do psiquiatra trabalhando  produz efeitos subjetivos de uma Falta que não tampona. Procura-se O médico. Nada a ver, sempre a medicina como significante despótico! Ao inverso, a prática médica (um sacerdócio?), apesar de tão reverenciada, não é mais que uma peça socio-desejante-trabalhadora e, portanto, útil para desvendar os enigmas da mente. Não mais. E sem hierarquias.


A.M.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

January JAZZ Music - Winter Jazz - Relaxing Coffee Jazz Music Playlist

PRÁTICAS DE GARIMPO

Em psicopatologia clínica a pesquisa dos afetos é essencial. É através deles que se dá o Encontro com o paciente segundo um critério ético. E não nos referimos a uma suposta "ética pura" atributo de um bom encontro, o que seria talvez uma espécie de elevação moral. Nada mais equívoco. Consideramos a ética como constitutiva da natureza das condutas. Sempre há uma ética, mesmo, por exemplo, a dos criminosos, facínoras, corruptos, etc. Desse modo a ética precede a técnica e as linhas práticas da clínica são produzidas no território movediço dos afetos. Tal modo de pensar retira a psicopatologia do campo dos moralismos (o juízo) e a coloca numa dimensão trágica, ou seja, em contato direto com a crueza do dado psicopatológico. Tal crueza compõe-se de afetos estranhos, inumanos e inomináveis. É aí então onde começa o trabalho de garimpagem da diferença...no meio do caos do mundo ou do mundo como caos.


A.M.

domingo, 3 de janeiro de 2021

Prefácio


Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) —

sem nome.

Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.

Insetos errados de cor caíam no mar.

A voz se estendeu na direção da boca.

Caranguejos apertavam mangues.

Vendo que havia na terra

Dependimentos demais

E tarefas muitas —

Os homens começaram a roer unhas.

Ficou certo pois não

Que as moscas iriam iluminar

O silêncio das coisas anônimas.

Porém, vendo o Homem

Que as moscas não davam conta de iluminar o

Silêncio das coisas anônimas —

Passaram essa tarefa para os poetas.


Manoel de Barros

sábado, 2 de janeiro de 2021

O SILÊNCIO DOS CADÁVERES 

Por maior que seja a destruição produzida pelo corona, ele não é culpado de nada. Aliás, nem devemos chamá-lo de “ele” porque vírus não é pessoa, não responde por seus atos. Tampouco se sabe ao certo se é “vida” já que sobre isso  a ciência é polêmica. Há estudos que dizem que sim, outros dizem que não. Discórdias à parte, falamos de outra coisa: é que há exatos dois anos uma terrível maldição se abateu sobre todos os brasileiros. Nosso céu, que era cor de anil, tornou-se cor de chumbo. E a alegria, nossa cara e nossa alma tropical, esvaiu-se numa hemorragia do espirito. Que se passa? Será que já não somos mais nós mesmos? Os dias se arrastam (ao som macabro da mídia perversa) num sacrifício de milhões em prol da manutenção de um governo que grita e esbraveja: “Viva a morte!”. 

Aos deuses de todos os credos, às forças do bem, a todos os espíritos de luz, aos seres cósmicos mais longínquos, aos personagens do amor, às potências da beleza, da criatividade e da generosidade, é preciso saber: que pecado foi esse que nós, todos nós cometemos, que erro vital e profundo foi esse ,que injúria abominável fizemos por merecer tamanho castigo e monstruosidade?

Me respondam.


A.M.