A FUNÇÃO DO DIAGNÓSTICO
Já que a psicopatologia vem de fora, do mundo, na psiquiatria clínica trabalhamos com síndromes. Elas constituem um sistema aberto à serviço da Diferença. Não usamos o diagnóstico psiquiátrico no sentido de essência, rótulo, marca, estigma ou natureza do transtorno, da doença, do problema, da crise, etc. O real que nos chega numa consulta, por exemplo, está prenhe de significações que excedem os enunciados simples do tipo"você sofre de pânico; você é depressivo, você é psicótico, você é bipolar". Estas são "verdades baixas" (às vezes implícitas na fala técnica) que alimentam a servidão do paciente. Melhor seria dizer: seja impaciente! No entanto, como estes mesmos diagnósticos são oficiais, legais, estatais, juridicamente constituídos (inclusive pela maquinaria científica), faz-se necessário reduzi-los a peças semiológicas de um agenciamento coletivo: o Encontro. Se o cimento do Encontro são os afetos (desejos), os dados coletivos, contingenciais (onde? quando? como? quem? por que? para que?) mapeiam tais afetos (conhecidos ou a se conhecer) em prol de vivências ímpares, singularizações. Desse modo, diagnosticar não é conhecer, mas ligar entre si elementos subjetivos heterogêneos que inventam modos de subjetivação. Para tal acontecer, é essencial traçar linhas do rizoma, linhas de risco em busca do acaso, do desconhecido e do indeterminado.
A.M.
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