Como identificar o fascismo? parte 3
Na experiência fascista está embutida a questão da verdade. Sob condições sócio-históricas e politicas muito amplas isso conduz o destino de milhões: o Estado, a Nação, o Povo, o Poder, várias transcendências... A clínica psicopatológica (oficial) diz: o fascismo não parece um delírio. Não parece, mas é um delírio que organiza o próprio juízo (não perdê-lo jamais) e ajuda o seu portador a produzir sentidos para a realidade atual do mundo. O fascista, servo e devoto de formações sociais cristalizadas, é vizinho do paranóico, habitando o universo clínico da psiquiatria, mas sem ser notado. Funções cognitivas estão intactas. Ao exame de sanidade mental, doença zero. Então, identificá-lo passa por categorias psiquiátricas, mas necessita ir além, até onde as linhas desejantes confluam numa Verdade absoluta. Rompe-se a fronteira com a forma-Religião, e os afetos fixam uma vibração egóica. Esta se reconhece como identidade poderosa e qualifica o fascista como portador de salvação política. Nas dobras da alma e na superfície da prática social, a tal identidade torna-se a verdade de cada um, ou seja, do indivíduo, ainda que o mais frágil. Pseudo-poder, universo privado, mundinho do eu. Assim se fecha o circuito da verdade, de uma verdade fabricada como território de sentido: isso é a vida, dir-se-ia... Caso ela desmorone, vem à tona a face suicidária do sentimento fascista, como Hitler o mostrou.
A.M.
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