FASCISMO À BRASILEIRA
Sob uma ótica conservacionista ( e liberal) são demasiado simplórias as análises sobre o fascismo. Elas se sustentam na moral, em grande parte na moral cristã. Diz-se: coisa horrenda o grito de “viva a morte!”, expelido da boca de cidadãos de bem, homens íntegros, pessoas humanas. Pensar assim é não pensar, é tão só “por a mão na consciência”, velho conceito teórico com usos epistemológicos, filosóficos, psicológicos, psiquiátricos, políticos, entre outros, para interpretar a realidade.
Ao se evadir de tal grade moralista, é possível usar o desejo como conceito operacional. Ele está fora da órbita do eu. O fascismo, então, será visto como construção desejante que nutre formas sociais numa empreitada destrutiva. Isso move as superfícies de um mundo deísta. Uma máquina afetiva (a história o mostra) se interiorizou subjetivamente nos indivíduos (aos milhões) produzindo sentidos para a vida. “Morrer pela pátria e viver sem razão”. Ora, não há o desejo puro e sim um composto de linhas subjetivas (forças) em prol da hegemonia institucional da servidão moderna. O discurso final seria: “eu sinto, eu ajo, ...e aniquilo o que se move porque é sujo.” Ódio ao devir.
Neste nó de desejos múltiplos, não há lugar para uma política dos corpos. O fascismo faz estancar o tempo. Rechaça as minorias porque o Novo assombra. Fiel à tradição da consciência ( a alma ), o corpo é considerado o organismo que deseja a si mesmo como modo de existir único e total. Assim, a fratura exposta do nazifascismo (como no Brasil de hoje) é denegada em favor do si mesmo, do eu-e-eu, apêndice existencial familiar e utilitário. O rosto mortuário das classes médias se anuncia e se revela a nu. Que o mundo vá mal desde desde que eu me salve. O sentimento fascista opera uma revolução às avessas. Um ar rarefeito de oxigênio racional infecciona os tempos midiáticos. Este é o limite político a ser ultrapassado nos ares do outubro vindouro.
A.M.
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