terça-feira, 17 de dezembro de 2024

A DIFERENÇA NA PSIQUIATRIA

(...) Um processo subjetivo é múltiplo e segue linhas de vida que se constituem como um sistema de crenças e o desejo como produção. As linhas moleculares  “fervilham” diante dessas  vivências (a crença e o desejo), oscilando entre o endurecimento prático (a  tirania do verbo  “ser”) e o deslizamento prático  longe das  formações estabelecidas (linhas  de fuga). O paciente encontra-se pois, numa encruzilhada de linhas existenciais  inseridas num dado  contexto. Os  quadros  nosológicos  se submetem a esse contexto e não  o contrário. Por  isso, é inútil  o uso da  CID-10 quando se trata de encontrar o paciente. Entre a linha molar e a molecular, a linha  de fuga surge (ou surgiu?) como um processo irreversível. Quem é você? A questão da singularidade do    portador de um transtorno mental  vem à  baila  como o objeto da  intervenção terapêutica, seja qual  for a modalidade  (psicofarmacológica, psicoterápica,etc). A singularidade é o que está em questão. Assim, as linhas que constituem a subjetividade ganham toda a pertinência na medida em que o paciente não é um sujeito egóico, mas uma multiplicidade que se expressa em singularizações. A linha de fuga percorre o Encontro e faz do mesmo uma via de mão dupla. O técnico e o paciente estão envoltos em multiplicidades que ultrapassam o enquadre simples da  clínica enquanto bipessoalidade. A forma-paciente (um rosto visível) cede lugar a mil formas  expressas em mapas a serem explorados. Já que as linhas de fuga são as primeiras, umas  estancam no sedentarismo molar.Outras disparam em direção às intensidades moleculares. O molde diagnóstico se aferra ao molar e passa a operar ao  gosto reducionista. Não é um erro. É uma opção de trabalho tendo em vista certos objetivos do momento, como o de acudir o paciente   num sintoma grave (uma depressão com tentativa  de suicídio, por exemplo).Ocorre  que  as linhas  molares ressoam na forma-técnico, levando-o a se manter fixo em condutas conservadas. A técnica  bem sucedida  remete a um modelo implícito de subjetividade. Quem é  o paciente? O que  é ser  normal? Voltamos ao círculo teórico expresso no paciente cerebralizado. Consertar  o  cérebro a partir  da sua  manipulação  fina é a tarefa em  que a psiquiatra biológica acredita .Como contraditá-la?

(...)

A.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário