A DIFERENÇA NA PSIQUIATRIA
(...) Um processo subjetivo é múltiplo e segue linhas de vida que se constituem como um sistema de crenças e o desejo como produção. As linhas moleculares “fervilham” diante dessas vivências (a crença e o desejo), oscilando entre o endurecimento prático (a tirania do verbo “ser”) e o deslizamento prático longe das formações estabelecidas (linhas de fuga). O paciente encontra-se pois, numa encruzilhada de linhas existenciais inseridas num dado contexto. Os quadros nosológicos se submetem a esse contexto e não o contrário. Por isso, é inútil o uso da CID-10 quando se trata de encontrar o paciente. Entre a linha molar e a molecular, a linha de fuga surge (ou surgiu?) como um processo irreversível. Quem é você? A questão da singularidade do portador de um transtorno mental vem à baila como o objeto da intervenção terapêutica, seja qual for a modalidade (psicofarmacológica, psicoterápica,etc). A singularidade é o que está em questão. Assim, as linhas que constituem a subjetividade ganham toda a pertinência na medida em que o paciente não é um sujeito egóico, mas uma multiplicidade que se expressa em singularizações. A linha de fuga percorre o Encontro e faz do mesmo uma via de mão dupla. O técnico e o paciente estão envoltos em multiplicidades que ultrapassam o enquadre simples da clínica enquanto bipessoalidade. A forma-paciente (um rosto visível) cede lugar a mil formas expressas em mapas a serem explorados. Já que as linhas de fuga são as primeiras, umas estancam no sedentarismo molar.Outras disparam em direção às intensidades moleculares. O molde diagnóstico se aferra ao molar e passa a operar ao gosto reducionista. Não é um erro. É uma opção de trabalho tendo em vista certos objetivos do momento, como o de acudir o paciente num sintoma grave (uma depressão com tentativa de suicídio, por exemplo).Ocorre que as linhas molares ressoam na forma-técnico, levando-o a se manter fixo em condutas conservadas. A técnica bem sucedida remete a um modelo implícito de subjetividade. Quem é o paciente? O que é ser normal? Voltamos ao círculo teórico expresso no paciente cerebralizado. Consertar o cérebro a partir da sua manipulação fina é a tarefa em que a psiquiatra biológica acredita .Como contraditá-la?
(...)
A.M.
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