terça-feira, 30 de abril de 2013

QUEM DELIRA?

As crenças  existem  para os eriçados  da  razão. O capitalismo universal é a  vontade dos néscios da máquina. Todos a  servem com prazer. A roda  da  fortuna premia os corretos. Não tenho mais  referências, exceto às do oceano de sangue verde. Procurei diálogos abertos, francos, verdadeiros, com os  representantes das oligarquias do pensamento. Não obtive  êxito, pelo contrário. O que  me  restou  foi  o  corpo exposto em linhas  da  arte do precipício. Conversei  com médicos  cristãos. Eles até que atenderam às  minhas  preces, desde que não se tocasse no essencial. O essencial é  a igreja. Tudo  é  vendável. Argumentei por  vielas escondidas  sobre  a carne dos  anjos. Nada  feito. Então me tornei um delírio de igualdade, coisa de sonhos acordados: isso não se usa mais. Abortei a palavra  objetiva  e retornei a pequenas  crenças da noite. Ela( a  noite) me abrigou do nada, como se diz: “venha ser um dos nossos”. Quando percebi, era já muito   tarde e a aurora se desfazia em cultos trágicos. Disse ao psiquiatra que ele enganara  a todos, menos à  loucura,  testemunha sem código estável. E morreu aí.Não ele, mas a psiquiatria dos olhos opacos.

A.M.

PROGRAMA POLÍTICO



A Ilusão do Sufrágio Universal


Os homens acreditavam que o estabelecimento do sufrágio universal garantia a liberdade dos povos. Mas infelizmente esta era uma grande ilusão e a compreensão da ilusão, em muitos lugares, levou à queda e à desmoralização do partido radical. Os radicais não queriam enganar o povo, pelo menos assim asseguram as obras liberais, mas neste caso eles próprios foram enganados. Eles estavam firmemente convencidos quando prometeram ao povo a liberdade através do sufrágio universal. Inspirados por essa convicção, eles puderam sublevar as massas e derrubar os governos aristocráticos estabelecidos. Hoje depois de aprender com a experiência, e com a política do poder, os radicais perderam a fé em si mesmos e em seus princípios derrotados e corruptos.

Mas tudo parecia tão natural e tão simples: uma vez que os poderes legislativo e executivo emanavam diretamente de uma eleição popular, não se tornariam a pura expressão da vontade popular e não produziriam a liberdade e o bem estar entre a população?

Toda decepção com o sistema representativo está na ilusão de que um governo e uma legislação surgidos de uma eleição popular deve e pode representar a verdadeira vontade do povo. Instintiva e inevitavelmente, o povo espera duas coisas: a maior prosperidade possível combinada com a maior liberdade de movimento e de ação. Isto significa a melhor organização dos interesses econômicos populares, e a completa ausência de qualquer organização política ou de poder, já que toda organização política se destina à negação da liberdade. Estes são os desejos básicos do povo.

Os instintos dos governantes, sejam legisladores ou executores das leis, são diametricamente opostos por estarem numa posição excepcional.

Por mais democráticos que sejam seus sentimentos e suas intenções, atingida uma certa elevação de posto, vêem a sociedade da mesma forma que um professor vê seus alunos, e entre o professor e os alunos não há igualdade. De um lado, há o sentimento de superioridade, inevitavelmente provocado pela posição de superioridade que decorre da superioridade do professor, exercite ele o poder legislativo ou executivo. Quem fala de poder político, fala de dominação. Quando existe dominação, uma grande parcela da sociedade é dominada e os que são dominados geralmente detestam os que dominam, enquanto estes não têm outra escolha, a não ser subjugar e oprimir aqueles que dominam.

Esta é a eterna história do saber, desde que o poder surgiu no mundo. Isto é, o que também explica como e porque os democratas mais radicais, os rebeldes mais violentos se tornam os conservadores mais cautelosos assim que obtêm o poder. Tais retratações são geralmente consideradas atos de traição, mas isto é um erro. A causa principal é apenas a mudança de posição e, portanto, de perspectiva.

Na suíça, assim como em outros lugares, a classe governante é completamente diferente e separada da massa dos governados. Aqui, apesar da constituição política ser igualitária, é a burguesia que governa, e é o povo, operários e camponeses, que obedecem suas leis. O povo não tem tempo livre ou educação necessária para se ocupar do governo. Já que a burguesia tem ambos, ela tem de ato, se não por direito, privilégio exclusivo. Portanto, na Suíça, como em outros países a igualdade política é apenas uma ficção pueril, uma mentira.

Separada como está do povo, por circunstâncias sociais e econômicas, como pode a burguesia expressar, nas leis e no governo, os sentimentos, as idéias, e a vontade do povo? É possível, e a experiência diária prova isto. Na legislação e no governo, a burguesia é dirigida principalmente por seus próprios interesses e preconceitos, sem levar em conta os interesses do povo.

É verdade que todos os nossos legisladores, assim como todos os membros dos governos cantonais são eleitos, direta ou indiretamente, pelo povo.

É verdade que, em dia de eleição, mesmo a burguesia mais orgulhosa, se tiver ambição política, deve curvar-se diante de sua Majestade, a Soberania Popular. Mas, terminada a eleição, o povo volta ao trabalho, e a burguesia, a seus lucrativos negócios e às intrigas políticas. Não se encontram e não se reconhecem mais. Como se pode esperar que o povo, oprimido pelo trabalho e ignorante da maioria dos problemas, supervisione as ações de seus representantes? Na realidade, o controle exercido pelos eleitores aos seus representantes eleitos é pura ficção, já que no sistema representativo, o controle popular é apenas uma garantia da liberdade do povo, é evidente que tal liberdade não é mais do que ficção.

M. Bakunin


ENCONTRO - 4 DE MAIO - SÁBADO
10 HORAS
CLÍNICA ETHOS - SALA VALTER RODRIGUES -
VITÓRIA DA CONQUISTA
ANTONIO A. DE MOURA
"QUEM DELIRA?"
ENTRADA FRANCA

GRUPO CORPO


INGLÓRIA

Professores da rede municipal de SP entram em greve na sexta-feira

Profissionais de educação da rede municipal de São Paulo decidiram entrar em greve na próxima sexta-feira, 3 de maio. Os servidores, ligados ao Sindicato dos Profissionais em Educação Municipal (Sinpeem), fizeram nesta segunda à tarde manifestação em frente à Prefeitura, no centro, e chegaram a fechar a Rua Líbero Badaró e o Viaduto do Chá.
Entre as reivindicações, reajustes de 6,55% retroativo a maio de 2011, 4,61% relativo a maio de 2012 e mais 5,6% neste ano. O governo propôs reajuste de 0,82%, além de 11,46% a partir de 2014 – dividido em cinco parcelas. A categoria não aceitou a proposta.
(..)
Fonte: Estadão

segunda-feira, 29 de abril de 2013


DEPRESSÕES A ESCOLHER

(...) (...) O  pesquisador (obtuso)  da mente prioriza o bioquimismo  em nome do ideal  asséptico da ciência .Tudo é cérebro como origem. Trata-se de  um reducionismo fabricado em nome da razão médica. Ao  inverso,  buscamos detectar afetos sutis que só se expressam (grosseiramente) como depressão, e daí  se  inscrevem num rebaixamento da vitalidade. Isso pode  ser a  depressão como  “doença” ou  tão apenas uma síndrome ou uma reação depressiva às circunstâncias sócio-metafísicas. De todo modo, o encontro com os afetos  busca a intensidade dos mesmos a partir das  condições subjetivas do  paciente. Qualquer um pode deprimir à medida em  que vivencia a cultura  da culpa inscrita  na  carne. Somos todos  cristãos e deprimidos.  
(...)
A.M.

JOAN MIRÓ



DO PSICODRAMA

Um Encontro de dois:
olhos nos olhos,
face a face.

E quando estiveres perto,
arrancar-te-ei os olhos e
colocá-los-ei no lugar dos meus;

E arrancarei meus olhos
para colocá-los no lugar dos teus;

Então ver-te-ei com os teus olhos
e tu ver-me-ás com os meus.

Jacob Levy Moreno

domingo, 28 de abril de 2013


A HUMILHAÇÃO DO CORPO

“A subjugação milenar da vida impulsiva criou solo para o temor psicológico das massas à autoridade e a submissão a esta, para a incrível humildade, de um lado,e a brutalidade sadística, de outro lado, e foi com base nisso que a economia de lucros capitalista dos últimos 200 anos pôde expandir-se e sobreviver.Que esta massa sofre de miséria inaudita, ela mesma a experimenta diariamente e a todo momento. O fato de querer dar a ela apenas pão, e não todos os prazeres da vida, fortalece a sua humilhação. O cerne da felicidade da vida é a felicidade sexual. Nisso, pessoa alguma com algum peso político ousou tocar.”

Willhem Reich

O HOMEM QUE VIROU SUCO




Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.

Manoel de Barros

NEONAZISMO: A VERGONHA DE SER UM HOMEM


Neonazistas. O grupo detido na delegacia ao lado do material com a suástica Foto: Luiz Ackermann / Extra / Agência O Globo
  • Seis homens e uma mulher que disseram ser ‘skinheads’ foram detidos pela Guarda Municipal

RIO - Sete jovens neonazistas foram presos na manhã deste sábado após agredirem um nordestino no Centro de Niterói. De acordo com a delegada adjunta da 77ª DP (Icaraí), Helen Sardenberg, os jovens — seis homens e uma mulher — tinham tatuagens de suásticas e vestiam camisas com referências neonazistas. Alguns deles tinham a cabeça raspada. Com o grupo, a polícia encontrou duas facas, um bastão, panfletos e ferramentas usadas para tortura.
A polícia confirmou os nomes de Caio Souza Prado, de 23 anos, Tiago Borges Dias Pitta, de 28, Philipe Ferreira raspada. Com o grupo, a polícia encontrou duas facas, um bastão, panfletos e ferramentas usadas para torturaA polícia confirmou os nomes de Caio Souza Prado, de 23 anos, Tiago Borges Dias Pitta, de 28, Philipe Ferreira de Lima, de 21, Carlos Luiz Bastos Neto, de 33 anos, Davi Oliveira de Moraes, de 31 anos, Jessica Oliveira, de 26. Um A vítima foi identificada como Cirley Santos, de 33 anos. Ele nasceu em Natal, no Rio Grande do Norte, e já conhecia um dos envolvidos. Ele contou que foi abordado pelos jovens, que o chamaram de “nordestino de merda”. A vítima disse ainda que eles fizeram alusão a Hitler e começaram a agredi-lO grupo vai responder pelos seguintes crimes: intolerância de cor, raça, etnia, religião e origem e fabricação, comercialização ou veiculação de símbolos, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica para divulgação do nazismo.

Agência O Globo

GILLES DELEUZE

O pensador do rizoma

sábado, 27 de abril de 2013

dizer  a verdade
fazer  uma verdade
delirar
quem consegue?

A.M.

SEM TEMPO PARA O TEMPO

"A chave para todos esses mistérios de impecabilidade é o sentido de não ter tempo. Via de regra, quando você age como um ser imortal que tem todo o tempo do mundo, você não é impecável. Você deveria virar-se, olhar em volta e aí compreender que sua impressão de ter tempo é uma idiotice. Não há sobreviventes nesse mundo. Você deve agir sem acreditar, sem esperar recompensas, agir só por agir".

Carlos Castañeda 

DMITRY SPIROS



Tentativa de enquadrar STF é retrocesso de 80 anos

A tentativa do deputado federal Nazareno Fonteles (PT-PI) de enquadrar o Supremo Tribunal Federal por meio da Proposta de Emenda à Constituição 33/2011 representa um retrocesso institucional histórico de quase 80 anos. Se aprovada, o que é improvável, a proposta faria com que o Brasil voltasse ao período do Estado Novo de Getúlio Vargas, regime instalado após um golpe em 1937, que impediu as eleições previstas para o ano seguinte e durou até 1945.

Pela proposta de Fonteles, aprovada sem qualquer discussão pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados na quarta-feira (24/4), as decisões do Supremo que declarem a inconstitucionalidade de emendas à Constituição não gerarão efeito até que o Congresso Nacional se manifeste sobre sua legitimidade. No caso de os parlamentares rejeitarem a decisão, ela será submetida à consulta popular.

O texto em tudo se assemelha à regra prevista no artigo 96, parágrafo único, da Constituição de 1937, outorgada por Vargas em 10 de novembro daquele ano.

A Carta fixava o seguinte: “Só por maioria absoluta de votos da totalidade dos seus juízes poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou de ato do presidente da República. Parágrafo único — No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo do presidente da República, seja necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o presidente da República submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por dois terços de votos em cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do tribunal”.

Na prática, contudo, quem tinha o poder de rever as decisões do Poder Judiciário, mesmo com base em critérios bastante subjetivos, era o presidente da República. Isso porque o artigo 180 da mesma Constituição dava estes poderes a Vargas. De acordo com a regra, “enquanto não se reunir o Parlamento nacional, o presidente da República terá o poder de expedir decretos-leis sobre todas as matérias da competência legislativa da União”.

Sem o Parlamento ativo, Getúlio Vargas usou da prerrogativa de cassar decisões do Supremo em, pelo menos, duas ocasiões. Uma delas por meio do Decreto-Lei 1.564, de 5 de setembro de 1939 — clique aqui para ler o decreto. O Supremo havia declarado inconstitucional lei que sujeitou à incidência de imposto de renda os vencimentos pagos pelos cofres públicos estaduais e municipais.

Para derrubar a decisão do Supremo, Vargas considerou que “a decisão judiciária não consulta o interesse nacional e o princípio da divisão equitativa dos poderes”. A decisão do presidente foi publicada no Diário Oficial da União em 8 de setembro de 1939, Seção 1, página 21.525.

Voltemos ao país de hoje, onde as instituições caminham em franco processo de amadurecimento sob a proteção da Constituição de 1988 que, apesar de prolixa, garantiu o Estado Democrático de Direito e a estabilidade que o país vivencia há 25 anos. O que está em jogo na discussão é nada menos do que a cláusula pétrea insculpida do artigo 2ª da Constituição Federal: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário”.

Há uma clara tensão — que não é sinônimo de crise — entre os poderes Legislativo e Judiciário, instalada por decisões contramajoritárias do Supremo. Existem vários exemplos. Desde decisões que, na prática, fazem a reforma política pela via judicial — caso da declaração de inconstitucionalidade da cláusula de barreira e da instituição da fidelidade partidária — àquelas que provocam avanços sociais por conta de impasses morais no Congresso — permissão de interrupção de gravidez em caso de fetos anencéfalos e a equiparação da união homoafetiva à união estável entre casais formados por um homem e uma mulher.

O julgamento da Ação Penal 470, o processo do mensalão, foi apenas o ápice do acirramento dessa tensão. De qualquer maneira, a aprovação pela CCJ da Câmara da PEC 33, como lembrou o ministro Marco Aurélio, soa como retaliação. “Eu não imagino essa virada de mesa que pretendem, e muito menos em cima de um julgamento como foi o da Ação Penal 470”, disse o ministro, ao ser questionado sobre a possível motivação da aprovação da proposta. “Eu não posso imaginar o que haveria como móvel dessa proposta. Agora, já diziam os filósofos materialistas gregos há 2,5 mil anos: nada surge sem uma causa. Não posso bater palmas para os integrantes da comissão”, afirmou Marco Aurélio.

Não faltam críticas, algumas muito bem embasadas, ao chamado ativismo judicial. Até ministros do próprio Supremo já admitiram que é tempo de o tribunal começar a formar uma jurisprudência de autocontenção para não avançar demais em assuntos políticos. Mas, justiça seja feita, o Supremo não age espontaneamente. Tem de ser provocado para que decida. E no caso de decisões políticas, como a que foi tomada nesta quarta-feira pelo ministro Gilmar Mendes (clique aqui para ler STF suspende tramitação de projeto que inibe criação de partidos políticos), o Judiciário é provocado pelos próprios membros do Congresso.

Pelo texto da proposta assinada por Nazareno Fonteles, as súmulas vinculantes aprovadas pelo Supremo Tribunal Federal também deveriam ser submetidas à análise do Congresso antes de surtirem efeitos. E sua aprovação, assim como a declaração da inconstitucionalidade de quaisquer leis, teria de se dar por votação de quatro quintos dos integrantes do tribunal. Trocando em miúdos, com os votos de nove dos 11 ministros que compõem a Corte.

O quórum poderia inviabilizar o trabalho do Supremo ou gerar situações tragicômicas, como uma votação em que oito ministros consideram determinada lei inconstitucional, mas ela continua em vigor porque três dos juízes votaram por sua constitucionalidade. A principal atribuição do Supremo fixada no artigo 102 da Constituição de 1988, de guardar a Carta Cidadã, estaria comprometida e entregue ao Poder Legislativo.

O Poder Legislativo se tornar o guardião da Constituição não seria necessariamente uma novidade — era assim há 200 anos. A Constituição Política do Império do Brasil, de 25 de março de 1824, fixava, em seu artigo 15, que cabia à Assembleia Geral, formada pela Câmara e pelo Senado, interpretar as leis, “velar na guarda da Constituição e promover o bem geral da nação”.

Mais fácil, neste caso, seria entregar ao Congresso a chave do Supremo Tribunal Federal, como observaram muitos juízes e advogados após as notícias da aprovação da PEC 33 pela CCJ da Câmara. Os mesmos críticos que estranharam o silêncio de entidades da sociedade civil, como a Ordem dos Advogados do Brasil, sobre o assunto.

Rodrigo Haidar

TRAIR

"Ser traidor de seu próprio reino, ser traidor de seu sexo, de sua classe, de sua maioria - que outra razão para escrever? E ser traidor da escritura. (...) É que trair é difícil, é criar. É preciso perder sua identidade, seu rosto. É preciso desaparecer, tornar-se desconhecido".

G. Deleuze - do livro Diálogos

JOÃO GILBERTO - Sampa


INGLÓRIA


Professores suspendem greve em Mato Grosso, paralisação continua em São Paulo e no Maranhão

26/04/2013 - 21h33
Educação
Mariana Tokarnia
Repórter da Agência Brasil

Brasília - Em assembleia hoje (26), os professores da rede pública de Mato Grosso decidiram voltar ao trabalho, mas permanecem em estado de greve até o dia 8 de junho, quando começa o Conselho de Representantes com trabalhadores de todo o estado.  Os profissionais da educação de São Paulo e do Maranhão mantêm a greve.

A paralisação nacional ocorreu de terça-feira (23) a quinta-feira (25) e fez parte da 14ª Semana Nacional em Defesa e Promoção da Educação Pública de Qualidade promovida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE).

Segundo balanço divulgado pela entidade, a paralisação ocorreu em 22 estados: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.   

São Paulo e Maranhão, que continuam em greve, pedem, entre outras pautas, o pagamento do piso salarial, que por lei é R$ 1.567 e a ampliação dos recursos da educação. Em São Paulo, os professores do estado decidiram manter a greve que começou na última sexta-feira (19). A categoria reivindica reposição salarial de 36,74%. A secretaria oferece reajuste de 8,1%. De acordo com o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, o aumento proposto pelo governo significa, na prática, reajuste de 2%, após desconto da inflação.

O Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) diz que 40% dos professores do estado aderiram a paralisação. A secretaria, no entanto, divulgou nota informando que as escolas apontam que o registro de faltas teve aumento de 2,3% do total de docentes, em relação à média diária de ausências, que é aproximadamente 5%.

No Maranhão, nesta sexta-feira, a direção do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Maranhão (Sinproesemma) reuniu-se com representantes do governo do Estado do Maranhão. O principal ponto de pauta da greve dos trabalhadores é o Estatuto do Educador. De acordo com o sindicato, a categoria espera há vários anos a aprovação do estatuto, que estabelece, no estado, as regras da carreira dos profissionais de educação. A categoria também discute a tabela salarial dos profissionais.


MACHADIANAS

"...tempo é um tecido invisivel em que se pode bordar tudo, uma flor, um pássaro, uma dama, um castelo, um túmulo. Também se pode bordar nada. Nada em cima de invisivel é a mais sutil obra deste mundo, e acaso do outro."

Machado de Assis

DESEJAR...



PRODUÇÃO DE INFELICIDADE

"Dado que uma sociedade, segundo Smith, não é feliz quando a maioria sofre... é necessário concluir que a infelicidade da sociedade é a meta da economia política. As únicas engrenagens acionadas pela economia política são a avidez pelo dinheiro e a guerra entre aqueles que padecem disso, a concorrência".

Karl Marx
FASCISMO NA VEIA!

"Quando me falavam sobre a tentação autoritária de alguns setores da esquerda latino-americana, eu dizia que no Brasil não havia ambiente para essas aventuras. Com tantas velhas mentiras pintadas como novas verdades penso que devemos ficar de olhos abertos." 

Marina Silva

sexta-feira, 26 de abril de 2013

JAKOB VON STEINLE



ENCONTRO - 4 DE MAIO - SÁBADO
10 HORAS
CLÍNICA ETHOS - SALA VALTER RODRIGUES -
VITÓRIA DA CONQUISTA
ANTONIO A. DE MOURA
"QUEM DELIRA?"
ENTRADA FRANCA
VELOCIDADES SEM DONO

Os  devires são processos nos quais o desejo engata em algo, mesmo que seja a coisa mais insignificante do mundo. O conceito de multiplicidade permite ultrapassar a linha de fronteira  entre o orgânico e o não orgânico e desse modo mobilizar forças de auto-movimento. Devir-pensamento, devir-cérebro, devir-mundo. Ora, o Encontro se dá exatamente na linha dos  devires. Sendo assim, quem trabalha com o paciente muda na medida em que se deixa afetar pelas  multiplicidades que  o constituem. Não é um encontro interpessoal, já que a “pessoa”é uma  forma  molar. É um encontro entre devires, velocidades de pensamento que escapam do enquadre clínico clássico. 
(...)
A.M.

AMY WINEHOUSE - You know I´m no good



O QUE HÁ

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo, 
Nem sequer de tudo ou de nada: 
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, 
Cansaço.

A sutileza das sensações inúteis, 
As paixões violentas por coisa nenhuma, 
Os amores intensos por o suposto em alguém, 
Essas coisas todas
Essas e o que falta nelas eternamente
Tudo isso faz um cansaço, 
Este cansaço, 
Cansaço. 

Há sem dúvida quem ame o infinito, 
Há sem dúvida quem deseje o impossível, 
Há sem dúvida quem não queira nada
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: 
Porque eu amo infinitamente o finito, 
Porque eu desejo impossivelmente o possível, 
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 
Ou até se não puder ser... 

E o resultado? 
Para eles a vida vivida ou sonhada, 
Para eles o sonho sonhado ou vivido, 
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto... 
Para mim só um grande, um profundo, 
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, 

Um supremíssimo cansaço, 
Íssimo, íssimo, íssimo, 
Cansaço...

Fernando Pessoa

ENCONTRO DE EXTERMINADORES DO FUTURO



ALMA DE PEDRA

"Talvez a miséria tenha chegado. Não se pode viver da própria alma. Não se pode pagar o aluguel com a alma. Experimente fazer isso um dia. É o início do Declínio e a Queda do Ocidente, como Splenger dizia. Todo mundo é tão ganancioso e decadente, a decomposição realmente começou. Eles matam gente aos milhões nas guerras e dão medalhas por isso. Metade das pessoas deste mundo vai morrer de fome enquanto a gente fica por aí sentado vendo TV".

Charles Bukowski
Tarde de vento.
Até as árvores
querem vir para dentro.

Paulo Leminski

CHICO BUARQUE - Cotidiano


quinta-feira, 25 de abril de 2013


Os marginais sempre nos causaram medo,e um pouco de horror. Eles não são o bastante clandestinos (...)

G. Deleuze e C.Parnet - do livro Diálogos

ÉTICA E CLÍNICA

A psiquiatria chama o seu  paciente de  “portador de  transtorno mental”. Nem  sempre explícito,  tal enunciado está na bíblia dos diagnósticos, a CID. A expressão “mental”é usada de modo naturalizado, ou seja, todo mundo sabe o que é “mental". A metonímia “ele  é um mental”expõe o nervo do estigma.Contudo, no  Encontro com a loucura, acontece outra coisa: a mente some   como substância,  ou como algo  palpável.  Dilui-se  num vazio sem  forma.
Encontrar o  paciente  seria  então  possível?
(...)
A.M.

VLADIMIR VOLEGOV


FASCISMO DEMOCRÁTICO - II

A Câmara aprovou um golpe de Estado!
É uma barbaridade!
A Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados — justamente a comissão de JUSTIÇA — aprovou hoje um projeto de emenda à Constituição que, se levado adiante, representará nada menos do que um golpe de Estado.
Contrariando uma multissecular tradição profundamente enraizada no Ocidente, contrariando o espírito da Constituição, contrariando o bom senso e as regras elementares da democracia, a emenda à Constituição pretende submeter ao Congresso decisões da Justiça que declare leis como inconstitucionais.


Isso ocorrerá – se essa loucura prosperar – sempre que o Supremo Tribunal Federal julgar procedentes as chamadas Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adin) propostas por vários órgãos legalmente autorizados a isso (veja quais na lei que regula as Adins, parágrafo 2º).
Ou seja, deputados e senadores serão quem decidirão, em última instância, se vale ou não vale o que eles próprios aprovaram. Nesses casos, serão os juízes de si mesmos — em detrimento dos direitos e garantias individuais dos cidadãos, cuja garantia é a Justiça.
O Legislativo, sempre controlado, como os demais Poderes, pelo Judiciário nas nações civilizadas e decentes, será seu próprio controlador em determinados casos — e se colocará acima do Poder Judiciário.
É um escândalo, é uma imoralidade.
(...)
Ricardo Setti - do blog do Noblat
ENCONTRO - 4 DE MAIO - SÁBADO
10 HORAS
CLÍNICA ETHOS - SALA VALTER RODRIGUES -
VITÓRIA DA CONQUISTA
ANTONIO A. DE MOURA
"QUEM DELIRA?"
ENTRADA FRANCA

FORA DOS TRILHOS

"Um dia hei de renascer numa grande cidade de outro sistema planetário, no passado ou no futuro, onde uma única montanha de 5 quilômetros de altitude se recorta no céu azul - com toda a compaixão que sinto dentro de mim, a única coisa que vou precisar é da sabedoria da terra."

Jack Kerouac

ED MOTA - Caso Sério


QUEM DELIRA?

Ao  desconfiar que  alguém delira, não julgue. Pense  primeiro “ o que estará sentindo  o suposto  delirante?”. Quem delira pode  não estar delirando, ou seja, pode estar apenas pensando em voz  alta. Afinal, como seres do pensamento, deliramos. Uma barreira colocada entre nós e o dito mundo real impede  que o delírio se torne um problema. Sim, torna-se um problema  quando a ordem “natural” das coisas é  rompida a nível da conduta.  Para  o bom senso isso é  insuportável, ou  quase insuportável. Parece claro. Há  uma ordem racional do mundo que instituiu e institui valores, normas e códigos. Isso em toda  parte. Uma necessidade de ordem e bom comportamento  parece  fazer as coisas andarem. O binômio ordem/desordem vem daí, alimenta-se  de possíveis  desvios que o confirmam. A todo custo, a ordem tem que ser mantida, começando pela família. Nesse  estado de coisas  o delírio  é uma linha de vida  não classificável. 
(...)
A.M.

REGULAGEM ELEITORAL


quarta-feira, 24 de abril de 2013


FASCISMO DEMOCRÁTICO

"Por que esse medo? Ela [Dilma] não precisa disso! Tem todos os partidos grandes ao seu lado, uma popularidade alta, 39 ministérios, o Bolsa Família, o PAC, o Renan, o Sarney. (,...) Nunca imaginei que o PT fosse usar o mesmo punhal enferrujado usado por eles [ a ditadura de 64] para ferir Lula quando tentava criar o partido - agora, contra um grupo que, com a mesma legitimidade, tenta se organizar..."

Marina Silva, sobre as dificuldades impostas pelo governo para a criação de novos partidos

INGLÓRIA


Professores de 22 estados realizam paralisações por melhores salários

Professores da rede pública estadual de ensino em todo o país cruzaram os braços nesta terça-feira (23) e pediram melhores condições de trabalho. A paralisação foi convocada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e deve durar três dias, até quinta-feira (25).

Segundo a entidade, 22 estados aderiram oficialmente ao movimento e os sindicatos do Distrito Federal e demais estados que não aderiram apoiam formalmente a ação. As paralisações da rede pública estadual têm adesões também de trabalhadores das redes municipais de ensino fundamental e médio.

Os estados que aderiram são: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Paraná, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe e Tocantins.
(...)
O Globo

WILLIAM TURNER


terça-feira, 23 de abril de 2013

CÉREBRO-PENSAMENTO

Devir-pensamento é o cérebro como junção da Natureza com o Pensamento. Cérebro=pensar;  não o cérebro-objeto das neuro-pesquisas, mas o cérebro=modo de subjetivação. Para  além e aquém da consciência, “o cérebro é o espírito mesmo”.O que chamamos de espírito é o pensamento. E o paciente, quem é? Ele é uma multiplicidade em ato, “oferecida” a quem o examina. Reduzi-lo a um organismo físico-químico ou a um eu recitando “papá-mamã”,  equivale a um homicídio simbólico cientifica e academicamente respaldado. Todo  paciente é uma realidade   irredutível às categorias da pessoa e do indivíduo. Essa é a condição prática para uma clínica do Encontro ou dos  devires.
(...)
A.M. 


DO DESEJO

E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.

Hilda Hilst - 1992

MILES DAVIS - Tutu


segunda-feira, 22 de abril de 2013

QUEM DELIRA?

O delírio é considerado um sintoma (perigoso) pela psiquiatria. Na fenomenologia ele é um modo de existência, um ser-no-mundo. Para Freud, uma defesa contra o desejo homossexual. E em Lacan? Este o via como uma espécie de "buraco" no simbólico, mais elegantemente chamado de  foraclusão. Pensamos outra coisa: através das linhas abstratas de Deleuze-Guattari, concebemos o delírio como produção coletiva. Neste sentido, todos deliram, restando saber onde, quando, como, por que e para que. O desejo, em seus mil agenciamentos, responderá...

A.M.

DESEJAR...


ENCONTRO - 4 DE MAIO - SÁBADO
10 HORAS
CLÍNICA ETHOS - SALA VALTER RODRIGUES -
VITÓRIA DA CONQUISTA
ANTONIO A. DE MOURA
"QUEM DELIRA?"
ENTRADA FRANCA

GRUPO CORPO "21"



AS HORAS

"Mas se algum dia você não vier depois do café da manhã, se algum dia avistar você em algum espelho, talvez procurando por outro homem, se o telefone toca e toca em seu quarto vazio, então depois de indizível agonia, então - pois não tem fim a loucura do coração humano - procurarei outro, encontrarei outro você. Nesse meio tempo, vamos abolir com um sopro o tiquetaque dos relógios. Chegue mais perto de mim".

Virginia Woolf

CORAGEM!

Senhor, dê-me serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar,
a coragem para mudar as coisas que não posso aceitar
e a sabedoria para esconder os corpos daquelas pessoas que eu tive que matar por estarem me enchendo o saco. 
Também, me ajude a ser cuidadoso com os calos em que piso hoje, pois
eles podem estar conectados aos sacos que terei que puxar amanhã. 
Ajude-me, sempre, a dar 100% no meu trabalho... 
- 12% na segunda-feira, 
- 23% na terça-feira, 
- 40% na quarta-feira, 
- 20% na quinta-feira, 
- 5% na sexta-feira. 
E... Ajude-me sempre a lembrar,
quando estiver tendo um dia realmente ruim e todos parecerem estar me enchendo o saco,
que são necessários 42 músculos para socar alguém e apenas 4 para estender meu dedo médio e mandá-lo para aquele lugar... 
Que assim seja!!! 
Viva todos os dias de sua vida como se fosse o último.
Um dia, você acerta.

Luís Fernando Veríssimo

FRANCISCO DE GOYA


domingo, 21 de abril de 2013


O cérebro MENTE
abre-te   cérebro!

A.M.

FORA DA ORDEM

As   linhas singulares estão fora das categorizações da  CID-10 ou de  outras classificações.  Sob a ótica da diferença, o paciente é um mundo inexplorado e ainda não humanizado. Não há pureza nessa concepção. Trata-se de espreitá-lo tanto quanto se conseguir escapar do clichê médico. Examinar, por exemplo, o borderline é se pôr fora das definições do que é ou não o limite, o corte, a fronteira entre a saúde e a doença, o anormal e o anormal, a potência e a impotência. Para isso ser possível, a experiência do contato com a loucura é essencial. Não é preciso ser louco ou ficar louco, mas sim entrar num devir-loucura, tornar-se loucura se o propósito é ajudar, acolher,criar. Tal disposição não costuma ser bem vinda nas organizações promotoras da fé numa racionalidade apaziguadora. Isso inclui a psiquiatria e suas agências de apoio à promoção de uma felicidade quimicamente induzida. Desse modo, entramos num terreno onde a química não resolve, e pior, oferece a sedação como simulacro da morte. 
(...)
A.M.

ÉTUDE N° 2 - de PHILIP GLASS - piano:JEREMY WRIGHT



A MENTE NÃO É UMA COISA

O espírito da reforma psiquiátrica vive atolado nas palavras de ordem do polvo estatal e em    sonhos corporativos; os psiquiatras firmam as suas alianças, seja com os laboratórios  farmacêuticos, com as farmácias comerciais, ou com seus pares. É por demais evidente  que a sorte dos pacientes está ligada aos agenciamentos de forças –instituições sociais - que se  materializam em práticas, desde que se saiba que a mente não  é algo a ser consertado. A mente é o mundo. 
(...)
A.M.


RELIGIÃO?

Minha opinião acerca da religião é a mesma que a de Lucrécio. Considero-a como uma doença nascida do  medo e como uma fonte de indizível sofrimento para a raça humana. Não posso, porém, negar que ela trouxe certas contribuições à civilização. Ajudou, nos primeiros tempos, a fixar o calendário, e levou os sacerdotes egípcios a registrar os eclipses com tal cuidado que, com o tempo, foram capazes de predizê-los. Estou pronto a reconhecer esses dois serviços, mas não tenho conhecimento de quaisquer outros (...)

Bertrand Russel in Trouxe a religião contribuições úteis à  civilização?

MONET


SEM COURAÇAS

"Eu não lhe prometi que você ia ser mais feliz, mas sim que você ia sentir mais".

Wilhelm Reich

sábado, 20 de abril de 2013


sináptica

a neurociência
com todo o respeito
vive para matar
o desejo

A.M.

GIANA VISCARDI, MENESCAL E JOÃO DONATO - Saudade fez um Samba



Tu queres sono: despe-te dos ruídos, e
dos restos do dia, tira da tua boca
o punhal e o trânsito, sombras de
teus gritos, e roupas, choros, cordas e
também as faces que assomam sobre a
tua sonora forma de dar, e os outros corpos
que se deitam e se pisam, e as moscas
que sobrevoam o cadáver do teu pai, e a dor (não ouças)
que se prepara para carpir tua vigília, e os cantos que
esqueceram teus braços e tantos movimentos
que perdem teus silêncios, e os ventos altos
que não dormem, que te olham da janela
e em tua porta penetram como loucos
pois nada te abandona nem tu ao sono.

Ana Cristina César

DESEJAR...


IMPUREZAS

"Que isso foi o que sempre me invocou, o senhor sabe: eu careço de que o bom seja bom e o ruim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero os todos pastos demarcados... Como é que posso com este mundo? Este mundo é muito misturado".

Guimarães Rosa

SÃO TOMÉ DOS PAMPAS

"Escrevi uma vez que era um cético que só acreditava no que pudesse tocar: não acreditava na Luiza Brunet, por exemplo. Cruzei com a Luiza Brunet num dos camarotes deste carnaval. Ela me cobrou a frase, e disse que eu podia tocá-la para me convencer da sua existência. Toquei-a. Não me convenci. Não pode existir mulher tão bonita e tão simpática ao mesmo tempo. Vou precisar de mais provas".

Luis Fernando Veríssimo

TANGO ARGENTINA


A base moral da psiquiatria cidológica

O  conceito de consciência  está  presente, de modo explícito ou não, na clínica psicopatológica desde os seus primórdios. Pode-se dizer que é impossível  realizar o exame do paciente  sem pôr a questão: “ele está consciente”? Trata-se do conceito  clínico de grau  (ou  nível) da consciência. Da vigília (a normalidade) ao coma, desenha-se um espectro de graus de consciência (torpor, turvação, obnubilação, etc) em que as estruturas  neurocerebrais estão comprometidas. A equação consciência=mente=cérebro é  adotada  como resposta teórica à clínica dos transtornos mentais  de origem orgânica. Quanto mais alguém está consciente, melhor estará funcionando o seu  cérebro  e por  extensão  a  mente. Além disso,  o exame  pode  ser  esmiuçado: “o indivíduo  sabe o que  faz”? Ou “ele tem noção (=consciência) dos seus atos”? Um sentido moral se insinua,  ficando encoberto pelo  sistema fechado “cérebro/mente”.
(...)
A.M.

IVAN AYVAZOVSKY

Marinha pintada

SOBRE LUCRÉCIO

"Eu disse pra vocês a distinção do especulativo e do prático. O especulativo é epistemológico. O prático, ética. Tá? Toda a filosofia lucreciana objetiva a prática. Então, o fim ou o objeto da prática é o prazer. Fantástico o que ele está dizendo: a questão da prática, a questão da ética é o prazer. O prazer se opõe à dor. Então, todo o objeto da prática é o prazer. “Ora, a prática nesse sentido nos recomenda apenas todos os meios de suprimir e de evitar a dor.” Isso como fundamento prático: suprimir e evitar a dor. E aqui vai começar a aparecer a teoria belíssima dele: “Mas nossos prazeres têm obstáculos mais fortes que as próprias dores.” Esses obstáculos são “os fantasmas, as superstições, os terrores, o medo de morrer, tudo o que forma a inquietação da alma.”

Cláudio Ulpiano - trecho de aula gravada

SOLIDÃO POVOADA

"Não é necessário sair de casa.
Permaneça em sua mesa e ouça.
Não apenas ouça, mas espere.
Não apenas espere, mas fique sozinho em silêncio.
Então o mundo se apresentará desmascarado.
Em êxtase, se dobrará sobre os seus pés".

Franz Kafka

DIA DO ÍNDIO

(por questões técnicas o registro da data  chega com um dia de atraso)

sexta-feira, 19 de abril de 2013


     ANNABEL LEE

        Há muitos, muitos anos, existia
        num reino à beira-mar
        uma virgem, que bem se poderia
        Annabel Lee se chamar.

        
        Amava-me, e seu sonho consistia
        em ter-me para a amar.
        Eu era criança, ela era uma criança
        no reino à beira-mar;

       
         mas nosso amor chegava, ó Annabel Lee
        o amor a ultrapassar,
        o amor que os próprios serafins celestes
        vieram a invejar. 

        
        Foi por isso que há muitos, muitos anos,
        no reino à beira-mar,
        de uma nuvem soprou um vento e veio
        Annabel Lee gelar.

        
        E seus nobres parentes se apressaram
        em de mim a afastar,
        para encerrá-la numa sepultura,
        no reino à beira-mar. 

        
        Os anjos, que não eram tão felizes,
        nos vieram a invejar.
        Sim! Foi por isso (como todos sabem
        no reino à beira-mar)

        
        que um vento veio, à noite, de uma nuvem
        Annabel Lee matar.
        Mas nosso amor, o amor dos mais idosos,
        de mais firme pensar, podia ultrapassar.

        
        E nem anjos que vieram nas alturas,
        nem demônios do mar,
        jamais minha alma da de Annabel Lee
        poderão separar. 

         
        Pois, quando surge a lua, há um sonho que flutua,
        de Annabel Lee, no luar;
        e, quando se ergue a estrela, o seu fulgor revela
        de Annabel Lee o olhar;

        
        assim, a noite inteira, eu passo junto a ela,
        a minha vida, aquela que amo, a companheira,
        na tumba à beira-mar,
        junto ao clamor do mar.

         
           Edgard Allan Poe