sexta-feira, 19 de abril de 2013


Delírios

Deixe a mente vagar, correr pela imensidão de pensamentos invertidos sob o sangrento sol poente. 
Quando a psicose crônica de um mundo doentio tentar engolfa-lo no profundo mar da mesmice, grite! Permita que a insânia se apodere de uma cabeça que já não mais te pertence. 
A loucura é o refúgio mais seguro contra a podridão do homem decadente. 
Não tente pensar. Eis o maior erro que se pode cometer. Os pensamentos são armadilhas, buracos pelos quais a felicidade escorre para longe de si. 
Use seu corpo, sinta as bocas que te cercam, turve sua mente com álcool e prazer. A plenitude está na doçura de um pecado deliciosamente cometido. 
A morte é incrivelmente sedutora, dance com ela. Até o fim da noite terá a domado.  
Renasça das cinzas putrefatas, um novo eu pronto para declinar novamente ao nada. 
Coloque em seu sorriso as sombras devassas que atormentam sua mente. A insaciável besta do desejo deve ser libertada. Ela irá caçar suas presas, abocanhá-las.  
Eleve-se aos céus dos prazeres, suje o que for puro, estrague o bom, destrua tudo que construíram sobre a falsa racionalidade sórdida dos pensadores. Monte um castelo de incertezas e deixe que ele venha abaixo, sucumbindo nos sonhos subversivos da mente delirante. 
Contaram-te que a luxúria é pecado. Mentem! A luxúria é o antídoto contra a morte na vida. 
Faça da vida uma brincadeira, sua vontade será o único Deus que adorará. Convide a loucura para entrar, nenhuma festa está completa sem ela. Ria das mentes sãs, são elas as loucas. 
Seus amores devem ser como fogo: queimar intensamente e logo se extinguir, mas deixar marcas incandescentes no espírito regozijante.  Esgote o último fôlego de sua sanidade.
E por fim, quando estiver demasiadamente embriagado pelo vazio dos excessos, quando dentro de si não sobrar mais um fio de sua antiga razão tola, verás, enfim, o animal desprezível no qual o homem se reduz. Descobrirá que toda civilização é apenas a desesperada tentativa de ocultar o desejo ardente que existe por trás da alma. O homem é, em sua essência, uma sombra bestial sufocada por seus impulsos perversos.

Rodrigo Ribeiro - do blog A decadência do Anjo - postado em 27.10.2012

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