domingo, 30 de junho de 2013

O capitalismo é a exploração do homem pelo homem. O socialismo é o contrário.

Millôr Fernandes
MOMENTO POLÍTICO NOVO

Chegou a hora de a presidente Dilma Rousseff experimentar para valer a antipatia que construiu laboriosamente nos últimos dois anos e meio entre deputados e senadores. A queda de 27 pontos em sua popularidade, medida pelo Datafolha, será sentida agora a cada necessidade de negociação.

Na relação com os congressistas, presidentes da República são temidos ou admirados. Às vezes, raramente, as duas coisas. Dilma era sempre muito temida até maio passado, pois tinha a popularidade mais alta entre todos os ocupantes do Palácio do Planalto pós-ditadura nesta fase do primeiro mandato.

Do alto de sua aprovação popular, a petista acostumou-se a agir de forma imperial. Não dava entrevistas, exceto para a mídia amiga com quem podia opinar sobre novelas e culinária.

Até agora, foi fácil se comportar como um Emílio Garrastazu Médici sentado dentro do Planalto, ouvindo o jogo da seleção brasileira pelo rádio e olhando com desdém para o Congresso, do outro lado da Praça dos Três Poderes. Agora, com uma aprovação mais próxima da de João Figueiredo, o cenário ganha em complexidade.

Políticos são pragmáticos. Não gostam de arranjar briga com uma presidente da República que é bem avaliada e ruma para a reeleição.

Na nova conjuntura em formação, entretanto, o poder da presidente tende a derreter momentaneamente dentro do Congresso. Ela poderia compensar essa perda de popularidade com as relações pessoais e políticas. Ocorre que essas relações sempre foram muito tímidas ou inexistentes, por decisão da própria Dilma.

O Blog conversou ao longo da sexta-feira, 28.jun.2013, com vários presidentes de partidos e com líderes governistas no Congresso. Todos apoiaram a ideia do plebiscito para a reforma política de nariz virado. Em público, fingiram muito bem. Faz parte.
(...)
Fonte: Blog do Fernando Rodrigues

PHILIP GLASS - Metamorphosis 1


Manoel por Manoel

Eu tenho um ermo enorme dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando eu era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão. Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio. Que sabugo era um serzinho mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto.
Cresci brincando no chão, entre formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação.
Porque se a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas. Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. É um paradoxo que ajuda a poesia e que eu falo sem pudor. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela. Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. O menino e o rio. Era o menino e as árvores.

Manoel  de Barros  in  Memórias inventadasAs Infâncias de Manoel de Barros, São Paulo: Planeta do Brasil, 2010. p. 187)

MARIANA AYDAR - Ronco da Cuíca


A FERIDA ESTÁ COM PUS
A MULTIDÃO
COM O SUS

(...) Todos os nossos médicos são de hospitais públicos que conhecemos, e, se não os usamos mais, é porque as instituições públicas carecem. Carecem e padecem de leitos, aparelhos, materiais e medicamentos.

Uma vez fiz um risco cirúrgico e colhi sangue no meu hospital universitário. No consultório de um professor ele me pergunta: "e você confia?".

"Se confio para os meus pacientes tenho que confiar para mim."

Eu pratico a medicina. Ela pisa em mim alguns dias, me machuca, tira o sono, dá rugas, lágrimas, mas eu ainda acredito na medicina. Me faz melhor. Aprendo, cresço, me torna humana. Se tenho dívidas, pago-as assim. Faço porque acredito.

Nesses últimos dias de protestos nas ruas e nas mídias brigamos por um país melhor. Menos corrupto. Transparente. Menos populista. Com mais qualidade. Com mais macas. Com hospitais melhores, mais equipamentos e que não faltem medicamentos. Um SUS melhor.

Briguei pelo filho do paciente ajoelhado. Por todos os meus pacientes. Por mim. Por você. Por nós. O SUS é nosso.

Não tenho palavras para descrever o que penso da "Presidenta" Dilma. (Uma figura que se proclama "a presidenta" já não merece minha atenção).

Mas hoje, por mim, por você, pelo meu paciente na cadeira, eu a ouvi.

A ouvi dizendo que escutou "o povo democrático brasileiro". Que escutou que queremos educação, saúde e segurança de qualidades. "Qualidade"... Ela disse.

E disse que importará médicos para melhorar a saúde do Brasil....

Para melhorar a qualidade....?

Sra "presidenta", eu sou uma médica de qualidade. Meus pais são médicos de qualidade. Meus professores são médicos de qualidade. Meus amigos de faculdade. Meus colegas de plantão. O médico brasileiro é de qualidade.

Os seus hospitais é que não são. O seu SUS é que não tem qualidade. O seu governo é que não tem qualidade.

O dia em que a Sra "presidenta" abrir uma ficha numa UPA, for internada num Hospital Estadual, pegar um remédio na fila do SUS e falar que isso é de qualidade, aí conversaremos.

Não cuspa na minha cara, não pise no meu diploma. Não me culpe da sua incompetência.

Somos quase 400mil, não nos ofenda. Estou amanhã de plantão, abra uma ficha, eu te atendo. Não demora, não.

Não faltam médicos, mas não garanto que tenha onde sentar. Afinal, a cadeira é prioridade dos internados.

Hoje, eu chorei de novo.

Juliana Mynssen da Fonseca Cardoso é cirurgiã geral no Hospital Estadual Azevedo Lima, no Rio de Janeiro.

JOAN MIRÓ


AS BOAS COISAS DA VIDA

Uma revista mais ou menos frívola pediu a várias pessoas para dizer as “dez coisas que fazem a vida valer a pena”. Sem pensar demasiado, fez esta pequena lista:

- Esbarrar às vezes com certas comidas da infância, por exemplo: aipim cozido, ainda quente, com melado de cana que vem numa garrafa cuja rolha é um sabugo de milho. O sabugo dará um certo gosto ao melado? Dá: gosto de infância, de tarde na fazenda.

- Tomar um banho excelente num bom hotel, vestir uma roupa confortável e sair pela primeira vez pelas ruas de uma cidade estranha, achando que ali vão acontecer coisas surpreendentes e lindas. E acontecerem.

- Quando você vai andando por um lugar e há um bate-bola, sentir que a bola vem para o seu lado e, de repente, dar um chute perfeito – e ser aplaudido pelos servente de pedreiro.

- Ler pela primeira vez um poema realmente bom. Ou um pedaço de prosa, daqueles que dão inveja na gente e vontade de reler.

- Aquele momento em que você sente que de um velho amor ficou uma grande amizade – ou que uma grande amizade está virando, de repente, amor.

- Sentir que você deixou de gostar de uma mulher que, afinal, para você, era apenas aflição de espírito e frustração da carne – a mulher que não te deu e não te dá, essa amaldiçoada.

- Viajar, partir…

- Voltar.

- Quando se vive na Europa, voltar para Paris, quando se vive no Brasil, voltar para o Rio

- Pensar que, por pior que estejam as coisas, há sempre uma solução, a morte – o assim chamado descanso eterno.

Rubem Braga

UM FELIZ DOMINGO


DORES DA GESTAÇÃO

Ser jovem quer dizer ser original, quer dizer conservar-se próximo das fontes da vida, quer dizer erguer-se e sacudir as amarras de uma civilização obsoleta, ousar o que outros não têm coragem de arriscar, e saber voltar a imergir no elementar.

Thomas Mann

MANIFESTAÇÃO DE RUA - BALLET STAGIUM


Se não posso dançar, não é minha revolução.

Emma Goldman
ÊXODO

Reconstruo meu cérebro com o que restou de ti, 
como se caminhasse nas ruas 
com a massa inerme nas mãos. 
Como se em mim já não coubesse mais 
o instrumento com que organizei paisagem 
que fiz com o que não pude ver, 
como se nada mais sentisse do que fiz ou fui. 
Assim, não parece tão má a enorme desesperança, 
em que o desesperar não mais aflige a palavra amor, 
que agora flutua inerte entre meus dentes sem fome, 
como se soubessem de uma morte sem medo, 
e para ela sorrissem, vazios, 
como no vazio me dissipo, 
através do amor que por aí deixei

João José de Melo Franco

sábado, 29 de junho de 2013

GILLES DELEUZE

O pensador dos devires

DEFINITIVO

Definitivo, como tudo o que é simples. 
Nossa dor não advém das coisas vividas, 
mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. 

Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos 
o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções 
irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado 
do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter 
tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que 
gostaríamos de ter compartilhado, 
e não compartilhamos. 
Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. 

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas 
as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um 
amigo, para nadar, para namorar. 

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os 
momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas 
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. 

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. 

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo 
confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, 
todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. 

Por que sofremos tanto por amor? 
O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma 
pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez 
companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. 

Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um 
verso: 

Se iludindo menos e vivendo mais!!! 
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida 
está no amor que não damos, nas forças que não usamos, 
na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do 
sofrimento,perdemos também a felicidade. 

A dor é inevitável. 
O sofrimento é opcional...

Carlos Drummond de Andrade

ANA CAROLINA - Beatriz


as    mulheres
são  melhores

A.M.

CLAUDE MONET


DESCENDO A LADEIRA


Não há precedente na curta história desde a redemocratização brasileira de uma queda tão abrupta da popularidade de um presidente quanto a experimentada por Dilma Rousseff nas últimas três semanas. Considerado apenas o saldo da avaliação do governo (ótimo+bom descontado de ruim+péssimo), a presidente perdeu 2 pontos por dia entre 7 e 28 de junho, segundo o Datafolha.

A velocidade da queda da popularidade de Dilma tem sido 3 vezes mais rápida do que foi a vivida por Luis Inácio Lula da Silva entre agosto e setembro de 2006, por causa do mensalão. É 3,8 vezes mais intensa do que a de Fernando Collor após o confisco da poupança, e 4,5 mais acelerada do que a de Fernando Henrique Cardoso após a desvalorização do real no começo de 1999.

Chega-se à mesma conclusão analisando-se a série histórica de pesquisas do Ibope, que inclui também o governo de José Sarney. Em nenhum período da história do Brasil desde março de 1986, quando há o primeiro registro de pesquisa de avaliação presidencial, um governante do país perdeu tantos pontos de popularidade em tão poucos dias. É um recorde.

Isso não significa, porém, que a atual presidente esteja tão impopular quanto tornou-se, por exemplo, FHC após desvalorizar o real, ou Sarney e Collor ao final de seus mandatos. Nem que sua queda foi maior que a deles. Dilma ainda tem saldo positivo de cinco pontos no Datafolha. Por outro lado, é cedo para saber se o mergulho de sua popularidade chegou ao fundo do poço. Só novas pesquisas dirão se a queda persiste.

A causa da queda recorde da popularidade de Dilma é econômica. Os protestos de rua serviram apenas para catalisar uma insatisfação mais profunda e que pode ser aferida pelo mergulho de outro indicador: o que mede a confiança do consumidor. O INEC (Índice Nacional de Expectativas do Consumidor) registrou em junho sua maior queda desde a crise de 2009.

Esse índice reflete um aumento do pessimismo dos brasileiros em relação à inflação, ao desemprego e ao poder de compra. O INEC mostra uma mudança da percepção das pessoas quanto ao que está acontecendo com sua renda pessoal e, pior para Dilma, quanto ao que elas acham que vai acontecer com a própria renda no futuro.

É como se a percepção popular tivesse demorado seis meses para registrar o que mostravam os indicadores objetivos de desempenho da economia desde o final do ano passado. A pressão da economia sobre a opinião pública foi aumentando ao longo desse tempo e, como uma avalanche que cai de repente, acabou liberada de uma vez só pelos protestos de rua das última semanas.

Mais do que os números, o problema de Dilma é a tendência que eles apontam. A presidente, que durante dois anos e meio se beneficiou da inércia positiva do fim do governo Lula, agora luta contra ela. O sentimento popular embutido nas pesquisas é um desejo de mudança – algo oposto ao que elegeu Dilma em 2010.

José Roberto de Toledo -  O Estado de S. Paulo
Poesia não é para compreender mas para incorporar
Entender é parede: procure ser árvore.

Manoel de Barros

E ENTÃO...?

Em Fortaleza, ontem...

Não vejo vantagem na reencarnação, a não ser que conte tempo para o INSS.

Luís Fernando Veríssimo
Cuidado com o artista que também é um intelectual: é o artista que está a mais.

Scott Fitzgerald

GRUPO CORPO - Breu


CARTA A UM CRÍTICO SEVERO

(...) Mas o que sabe você de mim, uma vez que eu acredito no segredo – quer dizer, na potência do falso – mais do que nos relatos que revelam uma deplorável crença na exatidão e na verdade? Se não me mexo, se não viajo, tenho como todo mundo minhas viagens no mesmo lugar, que não posso medir senão com minhas emoções, e exprimir da maneira mais oblíqua e indireta naquilo que escrevo. E minha relação com as bichas, os alcoólatras ou os drogados, o que isso tem a ver com o assunto, se obtenho em mim efeitos análogos aos deles por outros meios? O que interessa não é saber se me aproveito do que quer que seja, mas se tem gente que faz tal ou qual coisa em seu canto, eu no meu, e se há encontros possíveis, acasos, casos fortuitos, e não alinhamentos, aglutinações, toda essa merda em que se supõe que cada um deva ser a má consciência e o inspetor do outro. Eu não devo nada a vocês, nem vocês a mim. Não há nenhuma razão para que eu frequente seus guetos, já que tenho os meus. O problema nunca consistiu na natureza deste ou daquele grupo exclusivo, mas nas relações transversais em que os efeitos produzidos por tal ou qual coisa (homossexualismo, droga, etc.) sempre podem ser produzidos por outros meios. Contra os que pensam “eu sou isto, eu sou aquilo”, e que pensam assim de maneira psicanalítica (referência à sua infância ou destino), é preciso pensar em termos incertos, improváveis: eu não sei o que sou, tantas buscas ou tentativas necessárias, não-narcísicas, não-edipianas – nenhuma bicha jamais poderá dizer com certeza “eu sou bicha”. O problema não é ser isto ou aquilo no homem, mas antes o de um devir inumano, de um devir universal animal: não tomar-se por um animal, mas desfazer a organização humana do corpo, atravessar tal ou qual zona de intensidade do corpo, cada um descobrindo as suas próprias zonas, e os grupos, as populações, as espécies que o habitam. Porque não teria direito de falar da medicina sem ser médico, já que falo dela como um cão? Por que razão não falar da droga sem ser drogado, se falo dela como um passarinho? E por que eu não inventaria um discurso sobre alguma coisa, ainda que esse discurso seja totalmente irreal e artificial, sem que me peçam meus títulos para tal? A droga às vezes faz delirar, por que eu não haveria de delirar sobre a droga? Para que serve essa sua “realidade”? Raso realismo, o de vocês. E então por que você me lê? O argumento da experiência reservada é um mau argumento reacionário. A frase de O anti-Édipo que eu prefiro é: não, nós nunca vimos esquizofrênicos.
(...)
Gilles Deleuze in Conversações

ORSON WELLS - A Dama de Shangai


"Seja você o que pretende que o mundo seja".

Gandhi
DEPRESSÃO: CLÍNICA E CRÍTICA

(...) O organismo deprimido é um corpo que perdeu as conexões com o exterior, com o fora, com as  forças ativas, com  o inconsciente  produtivo, com o acontecimento, com o Isso.  Significa dizer que seus contornos seguem os estratos onde o desejo estanca a produção de si. Os estratos são estabelecidos pelos  órgãos. Assim, a depressão ataca os órgãos e por extensão a organização dos  órgãos. Se a depressão pode ser considerada uma doença no sentido médico, ela é uma doença dos órgãos submetidos a um comando central  que é do organismo. Ora, entre todos os órgãos, um está numa situação especial em relação às forças coletivas. É o cérebro. 
(...)
A.M.
Expliquei então meus sofismas mágicos pela alucinação das palavras!...
Acabei por considerar sagrada a desordem da minha inteligência.

Rimbaud

CHICO BUARQUE - Bom Conselho


MANIFESTANTES PROTESTAM CONTRA A "CURA GAY" DURANTE MAIS DE 4 HORAS NO RIO

Cerca de mil manifestantes caminharam pelo Centro do Rio, nesta sexta-feira (28), num protesto contra o projeto de "cura gay", aprovado pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, em Brasília. O ato, iniciado na Candelária, terminou em frente a Câmara do Rio, mais de quatro horas depois da concentração. O tráfego da Avenida Rio Branco chegou a ser fechado.
A psicóloga Fernanda Haikal, do Conselho Regional de Psicologia, foi à manifestação em apoio ao movimento e criticou o projeto do deputado Marco Feliciano, que preside a comissão responsável pela aprovação do projeto. "Considero a medida perversa porque não se trata de uma doença, nem uma opção, mas de uma condição. No entendimento da psicologia, nós profissionais podemos acolher e orientar para amenizar a dor do preconceito, se for o caso, mas não podemos mudar o que a pessoa é", disse.
(...)
Fonte: Priscilla Souza, do  G1, Rio

MICHEL FOUCAULT

O pensador dos biopoderes

Dentro do crânio há mais que um mero cérebro
Neurocientista da USP Ribeirão, em resenha da Science, questiona visão reducionista da mente humana.

A Science, uma das revistas de maior prestígio no mundo científico, trouxe em uma das edições  deste ano uma resenha do neurocientista Ricardo Basso Garcia. Pesquisador da área de psicobiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), USP, Garcia destaca em seu texto, “The mind inside our skull”, aspectos do livro "Neuromania: On the limits of brain science", dos neuropsicólogos Paolo Legrenzi e Carlo Umiltà, publicado pela Oxford University Press em 2011.

Garcia explica que o livro traz importante “reflexão crítica sobre os métodos de neuroimagem funcional (imagens encefálicas obtidas por técnicas de diagnóstico médico não invasivas como a ressonância magnética) e sobre implicações sociais e políticas das pesquisas em neurociência”.

Outra preocupação do livro é a neuromania, com “proliferação enganosa de disciplinas com o prefixo neuro que pouco explicam o comportamento para além do que já é conhecido pela psicologia”. Segundo Garcia, embora haja avanços na compreensão do funcionamento do cérebro, as contribuições da neuroimagem ainda são modestas e estão aquém do que se esperava.
(...)
Fonte :Rita Stella - USP - Ribeirão Preto, Notícias, 6/9/2012

RINDO DE QUEM?


Escrever nem uma coisa 
Nem outra - 
A fim de dizer todas -
Ou, pelo menos, nenhumas. 

Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar - 
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.

Manoel de Barros

MARCUS MILLER - Java Jazz Festival, 2013


Quando o ateísmo quiser mártires, que o diga, o meu sangue está pronto.

Marquês de Sade
DANÇA DO FOGO

Com que suave doçura me levantas do leito em que sonhava profundas plantações perfumadas, passeias os dedos pela pele e me desenhas no espaço, desequilibrado, até que o beijo pouse curvo e recorrente para que a fogo lento comece a dança cadenciada da fogueira se tecendo em rajadas, em hélices, ir e vir de um furacão de fumaça.. Porque, depois, o que resta de mim é só um inundar-me entre as cinzas sem um adeus, sem nada mais que o gesto para libertar as mãos?

Julio Cortázar

ANA CAÑAS - Esconderijo


MEDO DE VAIA

A presidente Dilma Rousseff desistiu de assistir à final da Copa das Confederações, entre Brasil e Espanha, domingo, no Maracanã. A assessoria do Palácio do Planalto disse que a presidente recebeu o convite da Fifa para a abertura e o encerramento, mas não confirmou presença na última partida da competição. Na abertura, no estádio Mané Garrincha, Dilma foi vaiada ao aparecer no telão, quando foi citada pelo presidente da Fifa, Joseph Blatter, e quando declarou aberta a Copa.

À tarde, durante entrevista coletiva no Maracanã, Blatter demonstrou certo desconforto ao ser perguntado sobre a ausência da presidente Dilma no encerramento do torneio, dizendo que gostaria de tê-la ao seu lado.

- Não recebi a confirmação se a presidente estará na final. Essa é uma questão para esse lado da mesa - disse o dirigente, apontando para Aldo Rebelo, ministro dos Esportes. - Eu ficarei feliz se ela estiver lá... mas não sou profeta e não posso dizer se ela estará lá ou não - comentou.

A avaliação de interlocutores da presidente é que, em meio a onda de protestos no país, o público do Maracanã seria hostil a Dilma. Além disso, dizem auxiliares da presidente, neste fim de semana, a presidente deve se reunir com ministros para discutir a proposta de plebiscito que mandará ao Congresso na próxima terça-feira. Dilma também deve preparar a reunião ministerial prevista para os próximos dias.
(...)
Fonte: Luiza Damé, O Globo

sexta-feira, 28 de junho de 2013

RICARDO SILVEIRA - Bom de Tocar


Assim é, se lhe parece.

Luigi Pirandello

NICOLAS POUSSIN


Antes que o mundo acabe,
deita-te e prova
Esse milagre do gosto
Que se fez na minha boca
Enquanto o mundo grita
Belicoso...
E nos cobrimos de beijos 
E de flores...
...antes que o mundo se acabe. 
Antes que acabe em nós 
Nosso desejo.

Hilda Hilst

PETER GREENAWAY - Entrevista


O QUE É PENSAR?

 (...) Em tempos de especialismos, o suposto saber  representa. O sonho da representação é estancar os devires. Delirar é um processo cujo combustível é o desejo-produção. Ele  explode os esquemas físico-químicos (que  remédio prescrever?), familiaristas (quem é o culpado?), dilemas da consciência (ser ou não ser?) ou as vicissitudes do eu( quem sou?). Assim, o pensamento como cognição é muito pobre para se fazer chegar à subjetividade dita patológica. No entanto, a psiquiatria oficial-atual se serve dele numa Axiomática conectada ao modo de produção capitalista. É uma aliança embutida na fraseologia do especialismo.Desaparecem as possibilidades de pensar diferente porque o pensamento está dado como cognição redundante  do  real. 
(...)
A.M.

FRANCISCO DE GOYA


quinta-feira, 27 de junho de 2013

SEM TERRITÓRIO

A espiritualização da sensualidade chama-se amor: ela é um grande triunfo sobre o cristianismo. Outro triunfo é a nossa espiritualização da inimizade. Consiste em compreender profundamente o valor que possui o ter inimigos: dito brevemente, em proceder e extrair conclusões ao inverso de como se procedia e extraia conclusões noutro tempo. A Igreja quis sempre a aniquilação dos seus inimigos: nós, nós os imoralistas e anticristãos, vemos a nossa vantagem em que a Igreja subsista. Também no âmbito político a inimizade se tornou agora mais espiritual, - muito mais inteligente, muito mais reflexiva, muito mais indulgente. Quase todos os partidos se dão conta de que para a sua própria autoconservação lhes interessa que o partido oposto não perca forças; o mesmo se deve dizer para a grande política. Especialmente uma criação nova, por exemplo o novo Reich, tem uma maior necessidade de inimigos que de amigos: só na antítese se sente necessário, só na antítese chega a tornar-se necessário... Não nos comportamos de outro modo com o nosso "inimigo interior": também aqui temos espiritualizado a inimizade, também aqui temos compreendido o seu valor. Só se é fecundo pelo preço de se ser rico em contradições; só se permanece jovem na condição de que a alma não se relaxe, não deseje a paz... Nada se nos tornou mais estranho que aquela aspiração de outrora, a aspiração à "paz de espírito", a aspiração cristã; nada nos causa menos inveja do que a moral ruminante e a sebosa felicidade da consciência tranqüila. Renunciou-se à vida grande quando se renunciou à guerra... Em muitos casos, desde logo, a "paz de espírito" não é mais do que um mal-entendido, - outra coisa, a que unicamente não se sabe atribuir um nome mais honrado. Sem divagações nem preconceitos aqui temos uns quantos casos. "Paz de espírito" pode ser, por exemplo, a plácida projeção de uma animalidade rica no terreno moral (ou religioso). Ou o começo da fadiga, a primeira sombra que traz o crepúsculo, qualquer espécie de crepúsculo. Ou um sinal de que o ar está úmido, de que se aproximam ventos do Sul. Ou o agradecimento, sem se o saber, por uma digestão feliz (chamado às vezes "filantropia"). Ou a calma do convalescente, para o qual todas as coisas têm um sabor e que está à espera... ou o estado que se segue a uma intensa satisfação da nossa paixão dominante, o sentimento de bem-estar próprio de uma saciedade rara. Ou a debilidade senil da nossa vontade, dos nossos apetites, dos nossos vícios. Ou a preguiça, persuadida pela vaidade a ataviar-se com adornos morais. Ou o advento de uma certeza, mesmo de uma certeza terrível, após uma tensão e tortura prolongadas devidas à incerteza. Ou a expressão da maturidade e a maestria na atividade, no criar, agir, querer, a respiração tranqüila, a alcançada "liberdade da vontade"... Crepúsculo dos ídolos: quem sabe?, talvez também unicamente uma espécie de "paz de espírito".
(...)
F. Niezsche

REUNIÃO DE EMERGÊNCIA


QUER VER?
Então escuta.

Francisco Alvim

BILLIE HOLIDAY - My Man


quarta-feira, 26 de junho de 2013

DESOBEDECER

Se mil homens se recusassem a pagar seus impostos este ano, esta não seria uma medida violenta e sangrenta, como seria a de pagá-los e permitir ao Estado cometer violências e derramar sangue inocente.

Henry David Thoreau
CASTIGO DIVINO

Um dia, caiu um raio na casa do velho Galvão, matando-o e ferindo-lhe a filha. A mãe disse: «Deus castigou. Eles eram muito malvados». Além do castigo da professora, do castigo dos pais da gente, havia então um castigo maior, muito maior - o castigo de Deus?

Érico Veríssimo in Olhai os lírios do campo

ODILON REDON


terça-feira, 25 de junho de 2013

É PERIGOSO PENSAR

Pensar suscita a indiferença geral. E todavia não é falso dizer que é um exercício perigoso.É somente quando os perigos se tornam evidentes que a indiferença cessa, mas eles permanecem frequentemente escondidos, pouco perceptíveis, inerentes à empresa. Precisamente porque o plano de imanência é pré-filosófico, e já não opera com conceitos, ele implica uma espécie de experimentação tateante, e seu traçado recorre a meios pouco confessáveis, pouco racionais e razoáveis. São meios da ordem do sonho, dos processos patológicos, das experiências esotéricas, da embriaguês ou do excesso.Corremos em direção do horizonte, sobre o plano de imanência; retornamos dele com olhos vermelhos, mesmo se são os olhos do espírito. Mesmo Descartes tem seu sonho. Pensar é sempre seguir a linha de fuga do vôo da bruxa (...)

G. Deleuze e F. Guattari  in  O que é  a fiilosofia?

GAL e JORGE - Que pena


O DISCURSO QUE DILMA NÃO FEZ
“Jovens do Brasil, brasileiras e brasileiros:

Nós erramos. Erramos todos nós que recebemos de vocês mandato para governar bem o Brasil, esquecendo os sonhos de vocês. Nós todos, os políticos e seus partidos, erramos. Mas devo admitir que nós que há 10 anos governamos o Brasil erramos mais e, especialmente, eu própria errei ainda mais, como a presidenta de vocês.

Nós erramos ao sermos a 6ª economia do mundo e a 88ª nação em educação; ao deixarmos o Brasil ser o mais violento país do mundo, fora de guerra; ao priorizarmos sempre o privado, especialmente transporte, em detrimento do público; ao tolerarmos a corrupção e não conseguirmos punir aos corruptos; ao consumir o presente sem investir no futuro; ao deixarmos toda juventude sem sonhos de utopia para seu país e parte dela sem o atendimento do essencial para seu presente; ao montarmos governos de acordos, lotando os cargos, nem sempre utilizando os mais capazes.

Nós erramos e temos que agradecer a vocês que foram para a rua manifestar indignação com a realidade política do Brasil. E erraremos muito mais se não entendermos que dois milhões de pessoas nas ruas não podem aceitar menos do que uma revolução.

Creio, e gostaria de ouvir a opinião de vocês, que no momento não se trata de uma revolução econômica e social, como aquela que me levou às ruas e até à lutas mais radicais, algumas décadas atrás.

Para mim, a economia e a sociedade precisam de fortes reajustes, de uma inversão nas prioridades, mas a revolução pela qual vocês vão às ruas está na subversão da atual estrutura política.

Fazer uma revolução na política para que nossos dirigentes tenham o sentimento das necessidades e vontades que estão na alma do povo, e que nossos executores tenham o mérito necessário para ocupar as diversas posições com a competência que o Estado moderno exige.

Este é meu sentimento, como a presidenta do Brasil, mas quero ouvir vocês, sentir o que pensam, pedindo que escolham e me enviem interlocutores, sem que quaisquer deles tenham monopólio, ouvirei todas as vozes e não só aquela de meu partido e de minha base de apoio.

Quando o povo coloca dois milhões de pessoas nas ruas, o governante não pode ter a cegueira de ficar restrito aos seus apoiadores e assessores. Até segunda feira, submeterei ao Congresso a proposta de realização de uma constituinte exclusiva para definir o marco legal de uma revolução na política.

Antes de entrar em vigor, a proposta destes constituintes será submetida a um plebiscito, para saber se ela está de acordo com o que o povo deseja.

Determinarei também aos meus ministros uma reanálise completa das prioridades dos investimentos e gastos governamentais, não apenas para os meses que restam de meu mandato, mas também para o futuro do nosso país.

Como quem na juventude lutou como vocês por um Brasil melhor, fico entusiasmada e grata pelo fato de a história ter me colocado o desafio de presidir um país, onde 2 milhões de pessoas estão nas ruas protestando pelo acúmulo de tantos anos de erros, especialmente de meu governo.

Eleita, democraticamente, agora preciso ir além da eleição e me ajustar à vontade do povo. São desafios como estes que permitem um governante na história, não apenas como administradora da herança recebida, mas como estadista do futuro a ser construído.

Eu agradeço a vocês não apenas pelo alerta, mas, sobretudo pela chance histórica que me ofereceram. Não vou deixar de ouvi-los, não vou decepcioná-los, podem ficar certos de que dedicarei cada instante do que me resta do mandato para estar à altura do momento e de vocês.

Muito obrigada, viva a democracia, viva o Brasil que vocês querem construir”.

Cristovam Buarque
APÓS REUNIÃO, MPL DIZ QUE PRESIDÊNCIA É DESPREPARADA

Após o encontro de representantes do Movimento Passe Livre (MPL) de São Paulo e do Distrito Federal com a presidente Dilma Rousseff , nesta segunda-feira, líderes do movimento consideram importante a abertura do diálogo, mas disseram que o resultado da reunião não foi satisfatório e que as manifestações continuam. O MPL é um dos grupos por trás dos protestos que tomaram conta do país nos últimos dias, ao defender a redução da tarifa do transporte público.

Marcelo Hotimsky, um dos líderes do MLP, considerou a “Presidência despreparada para o debate”. As declarações de Hotimsky foram dadas antes de Dilma anunciar os cinco pactos que ela propõe para solucionar as demandas populares.
(...)
Fonte: O Globo

segunda-feira, 24 de junho de 2013

TELEJORNAL IMPARCIAL MUDA BRASIL


DESEJO

Eu irei lhe dizer o que eu irei fazer e o que eu não irei fazer. Eu não servirei aqueles no qual não acredito mais, mesmo que se entitulem minha casa, minha cidade natal ou minha igreja: e eu tentarei me expressar [viver] de uma forma mais livre e completa possível [através da arte], usando em minha defesa as únicas armas que eu me permito usar - silêncio, exílio e habilidade.

James Joyce

AUGUSTO DE CAMPOS - Póstudo



Eu não sei se alcançar a felicidade máxima…
…extasiar-se aí, e sentir que ela, apesar de superlativa, inda cresce, e reparar que inda pode crescer mais…
…isso é viver?
A felicidade é tão oposta à vida que, estando nela, a gente esquece que vive. Depois quando acaba, dure pouco, dure muito, fica apenas aquela impressão do segundo.

 Mario de Andrade in Amar verbo intransitivo

ADRIANA CALCANHOTO e RENATO RUSSO - Esquadros


DILMA CHAMA MOVIMENTO PASSE LIVRE (MPL) PARA CONVERSAR HOJE,24


Marcos Fernandino, 2 minutos atrás

Convite muito estranho! A pauta da maioria dos participantes é outra: Corrupção, gastos públicos incorretos (40 ministérios, obras superfaturadas, estádios), saúde,educação,segurança sucateadas, revisão do estatuto dos menores, não a PEC 37, dentre outras. Passe livre não e sim transporte digno !


Bruno Silva, 4 minutos atrás

E o MPL está a frente das manifestações? NÃOOO. MPL não me representa. A manifestação é do povo. Quer conversar? Melhore hospitais, educação e segurança, aí conversamos.


(...)

e mais 71 comentários
fonte: G1, S. Paulo,24.06.2013, 7:04 hs
SALTO NO ABISMO

É bom quando nossa consciência sofre grandes ferimentos, pois isso a torna mais sensível a cada estímulo. Penso que devemos ler apenas livros que nos ferem, que nos afligem. Se o livro que estamos lendo não nos desperta como um soco no crânio, por que perder tempo lendo-o? Para que ele nos torne felizes, como você diz? Oh Deus, nós seríamos felizes do mesmo modo se esses livros não existissem. Livros que nos fazem felizes poderíamos escrever nós mesmos num piscar de olhos. Precisamos de livros que nos atinjam como a mais dolorosa desventura, que nos assolem profundamente – como a morte de alguém que amávamos mais do que a nós mesmos –, que nos façam sentir que fomos banidos para o ermo, para longe de qualquer presença humana – como um suicídio. Um livro deve ser um machado para o mar congelado que há dentro de nós.

Franz Kafka

HERANÇA POLÍTICA


domingo, 23 de junho de 2013

TEATRO DE MÁSCARAS

O nosso teatro é o da crueldade, mesmo que  não sejamos competentes para tanto. O contato  com a vida, no que ela possui de mais  radical, é  coisa da clínica. Ou então a clínica será um monumento à covardia.  Os psiquiatras, por  exemplo, se  refugiam em corporações.  Conversam  com seus  pares, alimentam  redundâncias  exaustas. Haldolizam as linhas de fuga do pensamento. Mantém um teatro da representação onde a política tem o Estado e o Mercado como centros decisórios. Criam uma verdade, mas  uma verdade baixa, como diz Deleuze. É claro que os  psiquiatras como pessoas não estão no jogo. Resta a psiquiatria como registro do Poder e  significante autorizado da Ciência. Como intervir sobre o que não  necessita  de  intervenção? Reina a paz nas hostes  psiquiátricas, exceto pelo inferno  das lutas antimanicomiais. O psiquiatra se  sente atingido no self. Adianta dizer que a questão é outra? Adianta chamá-lo de não psiquiatra e ao mesmo tempo psiquiatra? A esquizofrenia se  aproxima.  Sem que se note, chega  o tempo do anticontrole. O teatro de máscaras tem Foucault, Kubrick, Artaud, Hesse, entre outros personagens. O diálogo com os psiquiatras torna-se autistico e cômico. Prefiro  as viagens no mesmo lugar,  ou o roubo do pensamento.

A.M.

WILLIAM TURNER


DILMA MENTIU

Ao contrário do que afirmou a presidente da República, Dilma Rousseff, em pronunciamento na sexta-feira, há sim dinheiro federal em obras de estádios da Copa de 2014. E não é pouco. Somados os incentivos fiscais, subsídios em empréstimos e até participação em arenas, a União já comprometeu cerca de R$ 1,1 bilhão com os locais para jogos do Mundial.

Em cadeia nacional, Dilma afirmou que: "Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas, é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e governos que estão explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a Saúde e a Educação."

Mas não é bem assim. Os empréstimos para as obras das arenas foram concedidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) com juros subsidiados, ou seja, mais baixos que o normal. Para facilitar a construção dos estádios e outras obras para o Mundial, o banco estatal abriu mão de R$ 189 milhões, valor que poderia ser aplicado em outros financiamentos para outros projetos.

Esse cálculo foi feito por uma auditoria do TCU (Tribunal de Contas da União). O órgão também já identificou que as isenções de impostos federais concedidas pelo governo às construtoras responsáveis pelas obras dos estádios da Copa somam R$ 329 milhões. 

Foi o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, antecessor e aliado de Dilma, quem concedeu os incentivos fiscais às empreiteiras dos estádios. Em dezembro de 2010, ele assinou a lei 12.350 e as liberou do pagamento de PIS/Pasep, Cofins, Imposto sobre Produção Industrial, e taxas de importação sobre às construções de arenas da Copa.

Os 12 estádios da Copa aderiram ao programa Recopa, que concede os benefícios. Só com a Arena Pantanal, por exemplo, o governo já abriu mão de R$ 16 milhões em impostos por conta do Recopa. Isso representa em torno de 4,5% do valor da obra contratada do estádio.
(...)

Fonte: UOL, Rodrigo Mattos e Vinicius Konchinski

MARCUS MILLER - So What


MANHÃ DE SOL com AZULEJOS 
  

Tudo se veste da cor de teu vestido azul  
Tudo - menos a dona do vestido:  
meus olhos te passeiam nua  
pela grama do campo de golfe 

Uma curva e eis-nos diante de meu coração

Não amiga não temas  
meu coração; 
é apenas um chapéu surrado  
que humildemente estendo  
para colher um pouco de tua alegria  
de tua graça distraída  
de teu dia


Francisco Alvim

CIDADE NEGRA - Girassol


TIA FIFA


Uma visita da tia Fifa causa alvoroço nas famílias. Ela anuncia a visita com antecedência para a família se preparar. Porque a tia Fifa é exigente. Quer que, quando chegar, tudo esteja perfeito. E não aceita explicações.

Quando chega, a tia Fifa passa o dedo nos móveis com luva branca, atrás de poeira. Examina as unhas de todo o mundo. Procura sujeirinha atrás de todas as orelhas e cheira todas as meias. Inspeciona as novas instalações que mandou construir antes de chegar, de acordo com especificações rigorosas. E ai de quem reclamar.

— Tia Fifa, nós somos pobres...

— Não interessa. Pobreza não é desculpa para desleixo. A África do Sul também era pobre e minha visita lá foi um sucesso. As instalações que mandei construir ficaram lindas. Impressionantes, imponentes...

— E imprestáveis. Dizem que eles não sabem o que fazer com as instalações que a senhora deixou lá, depois da sua visita...

— Bobagem. São belíssimas.

É importante saber que a tia Fifa não é como é por insensibilidade ou elitismo desvairado. Suas exigências, que parecem irrealistas, obedecem a um desejo de ordem social e estética. A tia Fifa sonha com um mundo limpo, em que as desigualdades entre ricos e pobres desaparecem desde que todos sigam as mesmas regras e tenham o mesmo gosto, e por isso a convidam.

 — Mas tia Fifa, o dinheiro que nós vamos gastar para que a casa fique como a senhora quer não seria mais bem aproveitado na educação das crianças, ou na...

— Isso já não me diz respeito. Me convidaram e eu irei. Acabem as instalações que eu pedi no prazo e ponham a casa em ordem. E mais uma coisa:

— O que, tia Fifa?

— Você está com mau hálito. Providencie.


Luis Fernando Veríssimo