O ESTADO DAS COISAS
(...) Gravidade, gravitas, é a essência do Estado. Não significa de modo algum que o Estado ignore a velocidade; mas ele tem necessidade de que o movimento, mesmo o mais rápido, deixe de ser o estado absoluto de um móbil que ocupa um espaço liso, para tornar-se o caráter relativo de um "movido" que vai de um ponto a um outro num espaço estriado. Nesse sentido, o Estado não pára de decompor, recompor e transformar o movimento, ou regular a velocidade. O Estado como inspetor de estradas, conversor ou permutador viário: papel do engenheiro a esse respeito. A velocidade ou o movimento absolutos não são sem lei, mas essas leis são as do nomos, do espaço liso que o desenrola, da máquina de guerra que o povoa. Se os nômades criaram a máquina de guerra, foi porque inventaram a velocidade absoluta, como "sinônimo" de velocidade. E cada vez que há operação contra o Estado, indisciplina, motim, guerrilha ou revolução enquanto ato, dir-se-ia que uma máquina de guerra ressuscita, que um novo potencial nomádico aparece, com reconstituição de um espaço liso ou de uma maneira de estar no espaço como se este fosse liso (Virilio recorda a importância do tema sedicioso ou revolucionário "ocupar a rua"). É nesse sentido que a réplica do Estado consiste em estriar o espaço, contra tudo o que ameaça transbordá-lo.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil platôs
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