AUTO-CRÍTICA?
Para complicar ainda mais esta complexa especialidade médica, a Psiquiatria foi enriquecida nas últimas décadas com o enorme avanço das ciências do cérebro (ou neurociências, talvez a fashion name), mas um dilema estabeleceu-se. Inegavelmente, a Psiquiatria necessita da investigação do cérebro em termos de função e patologia, assim como também de outras partes do corpo humano. No entanto, o entusiasmo exacerbado com as moléculas e genes, as maravilhosas imagens do cérebro em funcionamento ou com patologia, a ânsia em se descobrir causa de doença mental, talvez até uma nova linguagem de características positivistas facilitando objetiva comunicação entre pesquisadores e clínicos, levaram ao esquecimento do primordial: paciente não é caixa de sintomas a ser aberta a qualquer custo; paciente é ser humano composto de corpo, consciência, história, cultura, e, principalmente, angústia por quase sempre perceber-se em sofrimento e em necessidade de ajuda; e tudo isto exibido em originalidade não repetível.
A técnica venceu a arte. Psiquiatria deixa-se perder no essencial e se torna atividade oca, mecânica, desprovida de emoção. Porque, não mais emoção o psiquiatra é capaz de distinguir em seu paciente (quando é seu, e não de alguma instituição que o designa ao anonimato), quanto mais apropriar-se da incomensurável e única dimensão do ser à sua frente. Sob esta perspectiva, a Psiquiatria ficou enfadonha!
(...)
Carlos R. Hojaij - psiquiatra, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria Biológica - 2013
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