HARD
Andava, andava e me sentia cada vez pior. Talvez porque eu ainda estivesse lá,
ao invés de voltar pra casa. Eu estava prolongando a agonia. Que espécie
de merda era eu? Um sujeito capaz de armar jogadas bem malévolas e
alucinadas. E qual a razão? Até quando eu ia ficar dizendo que era
apenas uma pesquisa, um simples estudo sobre as mulheres? Eu estava era
deixando as coisas acontecerem sem me preocupar muito com elas. Eu não
tinha nenhuma consideração por nada além do meu prazerzinho barato e
egoísta. Eu parecia um ginasiano mimado. Eu era pior que qualquer puta;
uma puta só toma o seu dinheiro, nada mais. Eu bagunçava vidas e almas
como se fossem brinquedos. Como é que eu ainda escrevia poemas? Eu era
feito de quê, afinal? Eu era um marquês de Sade pangaré, sem o gênio
dele. Qualquer assassino era mais sincero e honesto que eu. Ou um
estuprador. Não queria botar minha alma em jogo, não queria vê-la
exposta a deboches, sacanagens. Sabia muito bem disso tudo. Eu não
prestava, essa era a verdade. Podia sentir isso, andando de lá pra cá no
tapete. Não prestava. E o pior é que eu passava pelo contrário do que
era: um bom sujeito. Eu entrava na vida dos outros porque eles confiavam
em min. Eu aprontava as minhas cagadas com a maior facilidade. Eu
estava escrevendo a história de amor de uma hiena.
Charles Bukowski
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