Este blog busca problematizar a Realidade mediante a expressão de linhas múltiplas e signos dispersos.
terça-feira, 31 de março de 2015
segunda-feira, 30 de março de 2015
domingo, 29 de março de 2015
ENTRE OS SABERES
Um trabalho transdisciplinar na Clínica começa com o devir, ou seja, com o Encontro (conteúdo desejante) entre os saberes. Isto significa antes de tudo a dissolução das fronteiras entre as disciplinas e os papéis profissionais.Um devir-loucura cria um espaço-tempo onde estão suspensas as certezas estabelecidas sobre o paciente, inclusive o conceito deste e as suas atualizações técnicas. A implicação do técnico com a clínica é parte dela mesma e motor-combustível à prática. Esta pode (e deve) ser também teórica, pois o pensamento define as linhas do real. Que tipo de real? O virtual, as virtualidades que formigam aqui e ali na produção do inconsciente. Desse modo, para além dos espaços fechados do organismo,o conceito de loucura estabelece compromissos éticos e clínicos.
(...)
A.M. in Trair a Psiquiatria
sábado, 28 de março de 2015
AMNÉSIA SOCIAL OU IMBECILIDADE POLÍTICA?
Levantamento aponta que quase 48% dos ouvidos no Brasil são favoráveis a uma intervenção militar para conter a corrupção
Em 22 de junho de 2013, quando 30 mil foram às ruas de São Paulo contra a proposta de limitar a capacidade de investigação do Ministério Público, uma grande faixa defendia a extinção de todos os partidos políticos para combater a corrupção. No protesto de 15 de março deste ano, as mensagens foram mais claras: cartazes da "Intervenção Militar Já" e "SOS Forças Armadas" eram exibidos por vários manifestantes. Neste sábado (28), um grupo reedita a Marcha da Família, antessala da ditadura iniciada em 1964, com um objetivo: instalar um regime de exceção controlado pela caserna.
A mudança de tom reflete uma mudança na postura de parte dos brasileiros ante uma solução não-democrática para a criminalidade de colarinho branco no Poder Público. Entre 2012 e 2014, a fatia da população que acha justificável um golpe militar quando há corrupção cresceu de 36% para 48%. Ou seja, de pouco mais de um terço, passou a pouco menos da metade.
(...)
Vitor Sorano, iG, São Paulo, 28/03/2015, 12:00 hs
APRENDER COM DELEUZE
(...) Ora, e aqui chego ao conteúdo em si, ao objeto de minha apresentação,
depois de ter evocado o que poderia parecer o simples envelope, a
simples forma; ora, repito – compreendamos corretamente –, o impulso
inicial e permanente do pensamento de Deleuze consiste em liberar todo
pensamento daquilo que o entrava e o deforma. Impulso de liberação, de
desembaraçamento, igualmente válido naquilo que chamamos de prática
da vida cotidiana ou na política: desembaraçar-se das divisões e regras artificiais,
dos poderes, das instituições, dos impedimentos, das representações,
das idéias feitas, dos clichês; de tudo que desvia e bloqueia os processos
postos em movimento. Desembaraçar-se de tudo o que imobiliza, que
sedentariza: palavra-refrão. Se há algo, antes de tudo, que aprendemos com
ele, que dele guardamos, que é sua marca própria e sua luz, é exatamente
esse apelo a reativar sem parar o movimento.
(...)
René Schérer in Aprender com Deleuze
sexta-feira, 27 de março de 2015
VAZAMENTOS
O Sindicato Nacional de Pilotos de Linha da França (SNPL) anunciou que deve apresentar uma denúncia perante a Justiça pelos vazamentos na investigação da queda do avião da Germanwings. O vazamento sobre o conteúdo de uma das caixas-pretas constitui, na opinião do SNPL, um sério descumprimento das normas de investigação de um acidente fundamentais e globalmente aceitas.
(...)
G1 MUNDO, 27/03/2015, 07:16 hs
AMOR-TE
Onde agora? Onde? Tenho uma casa de campo, tenho um diamante do tamanho de um ovo de pomba... Eu pintava os olhos diante do espelho, tinha um compromisso, vivia cheia de compromissos, ia a uma boate com um banqueiro. Enrodilhada na cama, ele tocava na surdina. Meus olhos foram ficando cheios de lagrimas. Enxuguei-os na fralda do saxofone e fiquei olhando para a minha boca que achei particularmente fina. Se você me ama mesmo, eu disse, se você me ama mesmo então saia e se mate imediatamente.
(...)
Lygia Fagundes Telles
quinta-feira, 26 de março de 2015
PAIXÕES
Basta dizer que não estou amando. Talvez eu seja ‘indomável’ demais para casos de amor prolongados. O que mais preciso é do mundo. Nunca seria capaz de dizer, nos braços de uma mulher, o mesmo que um herói de Wagner: ‘Deixe-me morrer!’. Quero viver… e ver mais do mundo, & Deus sabe por que, e o amor de uma mulher é um dos muitos amores indomáveis. Uma coisa é certa: a paixão goetheana não é a minha. Há irritação, agitação, ‘loucura’ demais em mim para esse estado de languidez. Preciso correr, sempre. Só dois tipos de mulher servem para mim: uma louca Edie que iguala minha própria impaciência e loucura e horror, até a exaustão de um de nós, ou uma garota simples (parecida com a minha mãe) que absorve e compreende e aceita isso tudo. Ontem mesmo uma mulher em San Francisco sufocou seu bebê até a morte porque ela ‘não queria que qualquer outra pessoa o tocasse’. De fato, sim, ‘deixe-me morrer’ em uma paixão wagneriana… vou acreditar no que Leon Robinson diz em ‘Viagem ao fim da noite’ — ‘estou bastante ocupado tentando me manter vivo’. E junte a isso… ‘e me divertindo loucamente’ com isso. Isso começa a indicar a falta de amor peculiar de minha posição nos últimos 3 anos, talvez nos últimos 26 anos… e nunca gostei tanto de uma ideia sobre mim mesmo, sério, e acho que isso também significa algo: espontaneidade é a palavra que mais me agrada… Por Deus, não é todo dia que se encontra um álibi perfeito para si mesmo, e o mais impressionante é que é tão brutalmente verdadeiro!
Jack Kerouac
POLÍTICA
Ah, meu caro Rubião, isto de política pode ser comparado à paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo; não falta nada, nem o discípulo que nega, nem o discípulo que vende. Coroa de espinhos, bofetadas, madeiro, e afinal morre-se na cruz das ideias, pregado pelos cravos da inveja, da calúnia e da ingratidão...
Machado de Assis, in Quincas Borba
quarta-feira, 25 de março de 2015
PODER
Sabemos que ninguém jamais toma o poder com a intenção de largá-lo. O poder não é um meio, é um fim em si. Não se estabelece uma ditadura com o fito de salvaguardar uma revolução; faz-se a revolução para estabelecer a ditadura. O objetivo da perseguição é a perseguição. O objetivo da tortura é a tortura. O objetivo do poder é o poder.
(...)
George Orwell in 1984
terça-feira, 24 de março de 2015
DEPRESSÕES ATUAIS
(...) As depressões podem ser sumariadas numa tipologia de signos permutáveis. Elas correspondem a vetores etiológicos extremamente variados. Por exemplo, alguém fica deprimido durante alguns dias por haver usado um anti-emético chamado metoclopramida. Outro fica deprimido pelo horror que lhe causa o “aquecimento global do planeta Terra” ou a "guerra judeus-palestinos" ou "a Educação no Brasil" ou qualquer coisa, coisa coletiva. Outro se deprime de súbito e aparentemente sem motivo. Depressão "endógena"? Há também o que chamaremos de “depressão sub-clínica”. Ele está deprimido mas não sabe. Leva uma vida morna, entediante, repetitiva, crônica, ajoelhada diante do altar do deus-Cronos. São mil exemplos. Tudo é complexo na sua simplicidade. Depressão é um problema médico? A medicina trabalha e funciona com objetos sólidos e visíveis. Você viu a alma do deprimido? Os vetores etiológicos em jogo nem sempre são identificáveis, até porque são múltiplos e entrelaçados. De toda sorte, as depressões são quadros psíquicos que primam pela multiplicidade dos componentes etiológicos. Neste sentido, deprimidos às vezes não parecem deprimidos e não-deprimidos parecem deprimidos. Tudo se mistura, mesmo nos quadros ditos orgânicos. Traçar uma classificação dos tipos de depressão é tarefa difícil e infindável. O critério primeiro é o do estado subjetivo do paciente. Isso inclui uma atitude técnica permeada pela ética: o paciente está sofrendo e precisa de ajuda imediata ou mediata a partir do diagnóstico de depressão. No entanto, o que vem primeiro é a potência de existir e viver (ética) e depois o diagnóstico da depressão por si só ou em co-morbidade. Estabelecido o diagnóstico, o tratamento virá atrelado a alguma hipótese causal. O êxito terapêutico terá suas possibilidades aumentadas. A profusão de formas clínicas faz por confundir o avaliador (nem sempre o psiquiatra; há equipes multidisciplinares) em termos de etiologia. Mesmo esta sendo obscura, o paciente terá que ser tratado não a partir dos sintomas (são múltiplos e às vezes disfarçados, camuflados), mas das vivências que precedem os sintomas. Um sintoma grave como idéias ou ações suicidas é valorizado conforme as vivências afetivas e os sistemas de crenças mobilizados. Essa postura evita que a depressão seja vista como igual ao sintoma ou à coleção de sintomas ou a doença biomédica e amplia a percepção do campo vivencial do paciente, o que favorece não só a precisão do diagnóstico mas o acesso ao seu universo subjetivo, quase sempre caótico.
(...)
A.M. in Trair a psiquiatria
Aqueles que escapam do inferno
nunca falam sobre isso
e nada mais incomoda eles
(...)
Quero dizer, coisas como
falta de uma refeição,
ir para a cadeia,
bater seu carro
ou mesmo morrer.
Quando você perguntar-lhes,
"como as coisas estão indo? "
eles vão responder: "bem, muito bem ... "
Uma vez que você foi para o inferno e voltou
é o bastante
é a mais silenciosa celebração conhecida.
Uma vez que você foi para o inferno
e voltou, você não olha para trás
quando o chão range.
o sol está no alto a meia-noite
E coisas como os olhos de ratos
ou um velho pneu em um terreno baldio
pode torná-lo feliz.
(...) Uma vez que você foi para o inferno
e voltou.
Charles Bukowski
O GRITO
Eu sou uma pessoa excitável que só entende vida liricamente,
musicalmente, em quem sentimentos são muito mais fortes que a razão.
Eu estou tão sedenta para o maravilhoso que só o maravilhoso tem poder sobre mim.
Qualquer coisa que eu não possa transformar em algo maravilhoso, eu deixo ir.
Realidade não me impressiona. Eu só acredito em intoxicação, em êxtase,
e quando vida ordinária me algemar, eu escapo, de uma maneira ou de outra.
Nenhum muro mais.
Anaïs Nin
segunda-feira, 23 de março de 2015
CHORO
E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará. A moça - que não era Capitu, mas também tem olhos de ressaca - levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário: por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.
(...)
Machado de Assis
domingo, 22 de março de 2015
MIL SEXUALIDADES
(...) Dizemos, portanto, que a castração é o fundamento da
representação antropomórfica e molar da sexualidade. Ela é a crença universal que reúne e ao mesmo tempo dispersa os homens e as
mulheres sob o jugo de uma mesma ilusão da consciência, e que
os faz adorar esse jugo. Todo esforço para determinar a natureza
não humana do sexo, por exemplo, o “grande Outro”, conservando
o mito da castração, fracassa de antemão. E o que quer dizer
Lyotard no seu comentário, no entanto tão profundo, do texto de
Marx, quando assinala a abertura do não humano como devendo
ser “a entrada do sujeito no desejo pela castração”? Um grito de
viva à castração para que o desejo seja forte? Que só se deseja
fantasmas? Que ideia perversa, humana, demasiado humana. Que
ideia vinda da má consciência e não do inconsciente. A representação molar antropomórfica culmina no que a fundamenta, a ideologia
da falta. Ao contrário, o inconsciente molecular ignora a castração,
porque nada falta aos objetos parciais que, enquanto tais,
formam multiplicidades livres; porque os múltiplos cortes não param de produzir fluxos em vez de os recalcar num mesmo e único
corte capaz de estancá-los; porque as sínteses constituem conexões
locais e não-específicas, disjunções inclusivas, conjunções
nômades: uma transexualidade microscópica em toda parte, que
faz com que a mulher contenha tantos homens quanto o homem,
e o homem mulheres, capazes de entrar, uns com os outros, umas
com as outras, em relações de produção de desejo que subvertem
a ordem estatística dos sexos. Fazer amor não é fazer só um, nem
mesmo dois, mas cem mil. Eis o que são as máquinas desejantes
ou o sexo não humano: não um, nem mesmo dois, mas n sexos. A
esquizoanálise é a análise variável dos n sexos num sujeito, para
além da representação antropomórfica que a sociedade lhe impõe
e que ele mesmo atribui à sua própria sexualidade. A fórmula esquizoanalítica
da revolução desejante será primeiramente esta: a
cada um, seus sexos.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in O anti-édipo
O SEGREDO
Na relação com a mulher, como presa e servidora da luxúria coletiva, expressa-se a infinita degradação na qual o homem existe para si mesmo, pois o segredo desta relação tem sua expressão inequívoca, decisiva, manifesta, desvelada, na relação do homem com a mulher e no modo de conceber a relação imediata, natural e genérica.
(...)
Karl Marx
Desmatamento na Amazônia cresce 215% em um ano, segundo o Imazon
Em um ano, o desmatamento na Amazônia aumentou mais de 200%. O número foi calculado pela organização não-governamental Imazon.
O instituto de pesquisa Imazon, em Belém, monitora o desmatamento na Amazônia há mais de 20 anos. No levantamento divulgado esta semana, foram derrubados 1.700 quilômetros quadrados de floresta nativa, entre agosto de 2014 e fevereiro deste ano. A área desmatada é maior que a cidade de São Paulo.
Comparando essa derrubada com o período anterior, o desmatamento na Amazônia aumentou 215%.
(...)
Globo.com, 21/03/2015, 21:43 hs
sábado, 21 de março de 2015
MATAR: EU E TU
Descobri outro dia que a gente só se mata por causa dos outros, para fazer efeito, dar reação, compreende? Se não houvesse ninguém em volta para sentir piedade, remorso e etc. e tal, a gente não se matava nunca. Então descobri um jeito ótimo, me matar e continuar vivendo. Largo meus sapatos e minha roupa na beira do rio, mando cartas e desapareço.
(...)
Lygia Fagundes Telles
NO RIO
400 FAMÍLIAS VIVEM EM CONDIÇÕES INSALUBRES
400 FAMÍLIAS VIVEM EM CONDIÇÕES INSALUBRES
Como quem recebe uma visita, Walquíria Aparecida Tinoco, de 31 anos, vai mostrando o apartamento onde vive, numa invasão de um conjunto de prédios em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio. No lugar do banheiro, um cômodo vazio. A família usa um balde ou sacos plásticos para suprir a ausência da privada. Com um baldinho, tem-se algo que lembra um banho. Na sala, há apenas uma pia e, sobre ela, restos da janta do dia anterior e legumes que ainda serão preparados para o almoço. Não tem geladeira e, na hora de mostrar o fogão, ela retira de uma bolsa um fogareiro à base de álcool.
Com os dois filhos, Walquíria chegou ao conjunto Jambalaia há dois anos. Assim como ela, cerca de 400 famílias vivem no local junto a uma montanha de lixo, esgoto a céu aberto, porcos e cavalos. São seis prédios localizados entre a Avenida Manoel Caldeira de Alvarenga e a Rua Valdemar Medrado Dias. Um deles está interditado por ficar sobre um brejo. Os outros têm a estrutura danificada. Buracos entre as juntas nos corredores, vão do elevador sem qualquer proteção, trepidações e fiação de alta tensão passando por dentro dos cômodos são alguns dos riscos enfrentados por quem não tem para onde ir. Parte de um prédio chegou a desabar em 2013, e os moradores usaram cordas para resgatar uma família.
— Viver aqui é uma luta diária. Estamos expostos a tudo — resumiu ela.
(...)
Fonte: Extra Digital, 21/03/2015, 09:48 hs
SOBRENATURAL TERRENO
Talvez, mais tarde, haja alguma inteligência que reduza o meu fantasma a algo comum — uma inteligência mais serena, mais lógica e muito menos excitável do que, a minha, que perceba, nas circunstâncias a que me refiro com terror, nada mais do que uma sucessão comum de causas e efeitos muito naturais.
Edgar Allan Poe
SEM REFERÊNCIAS
A clínica psicopatológica atual (sob a égide do capitalismo mundial integrado) despedaça os signos das chamadas "escolas" de psicoterapia, da psicologia e da psiquiatria. Nenhum modelo , pois, "dá conta" do que está acontecendo nos processos de subjetivação que espoucam por toda a parte. Psicose, depressão, pânico, angústia, obsessão, fobia, etc, nada disso quer dizer algo se não estiver conectado com as condições sociais da vida contemporânea.Falar em "aparelho psíquico", por exemplo, não só é um insulto à inteligência pesquisadora, como é apelar para um fóssil teórico que não ajuda a ajudar alguém. Ao contrário, atrapalha as ações clínicas mais elementares. Neste sentido, o trabalho com o paciente terá que ser inventado ou será tão só um jogo calcado no senso comum abençoado pela semiótica do capital.
A.M.
CANSAÇO
Sou a mulher mais cansada do mundo. Fico cansada assim que me levanto. A vida requer um esforço de que me sinto incapaz. Por favor passa-me esse livro pesado. Preciso de pôr qualquer coisa pesada sobre a cabeça. Necessito constantemente de pôr os meus pés sob almofadas para que consiga continuar na terra. De outro modo sinto-me partir, partir a uma velocidade tremenda, tão leve me sinto. Sei que estou morta. Logo que pronuncio uma frase a sinceridade morre e torna-se numa mentira cuja frieza me gela. Não me digas nada, vejo que me entendes, mas tenho receio dessa compreensão, tenho medo de encontrar alguém semelhante a mim e ao mesmo tempo desejo-o. Sinto-me tão definitivamente só, mas tenho tanto medo que o isolamento seja violado e eu não seja mais o cérebro e a lei do meu universo. Sinto-me no grande terror do teu entendimento, meio por que penetras no meu mundo; e que, sem véus, tenha então que partilhar o meu reino.
(...)
Anaïs Nin
sexta-feira, 20 de março de 2015
VIAGENS DE MIGUEL
Aos 4 anos, Miguel reafirma um personagem conceitual. Para isso, Deleuze respira e me inspira. Ele (Miguel) circula, muitas vezes, pelado, pelos cantos e escaninhos da Casa. É preciso dizer que usamos a casa como o seu universo de sentido, o qual , quase sempre não é o nosso, adultos seguros de si, adultos normais, normalizados. Miguel, então, aparece e brilha quando menos se espera, desejo, puro desejo, sempre a buscar e obter conexões de toda ordem. Ele delira o mundo e o cosmos. Daí e aí o Momento se faz: um confronto, um grito, uma recusa, uma contradição, tudo multiplicado por mil. Miguel, forte, potente, charmoso, intenso, assedia a natureza pois a natureza são seus vôos terrestres (imanentes) onde as imagens (tão profusas...) lhe inserem devires. Isso tudo se me escapa (tenho que admitir...) e ao mesmo tempo me captura numa série existencial intrigante. Miguel=Vida, quem és?
A.M.
É VERDADE!
(...) Tanto no amor como na natureza ou na arte, não se trata de prazer, mas de verdade. Ou melhor, só usufruímos os prazeres e as alegrias que correspondem à descoberta da verdade. O ciumento sente uma pequena alegria quando consegue decifrar uma mentira do amado, como um intérprete que consegue traduzir um trecho complicado, mesmo quando a tradução lhe revela um fato pessoalmente desagradável e doloroso.
(...)
G. Deleuze in Proust e os signos
DEVIR-ROMÂNTICO
O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formamos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.
(...)
Fernando Pessoa
A ANA FLOR
Ó tu, bem-amada dos meus vinte e sete sentidos, amo-te!
Tu teu tu a ti eu a ti tu a mim-Nós?
Isso (diga-se de passagem) não é daqui.
Quem és tu, inumerável fémea? Tu és – és tu? –
Há quem diga que deves ser – deixa-os dizer, os que não sabem
como o campanário está de pé.
Trazes um chapéu nos teus pés e andas com as
mãos, com as mãos é que tu andas.
Olá roupas vermelhas e tuas, justas em pregas brancas. Vermelha
te amo, Ana Flor, vermelha a ti amo – tu teu tu a ti eu a ti tu a mim –
Nós?
Isto (diga-se de passagem) pertence ao fogo frio.
Vermelha flor, vermelha Ana Flor, que diz a gente?
Tema de concurso: 1. Ana Flor tem um passarinho.
2. Ana Flor é vermelha.
3. De que cor é o passarinho?
Azul é a cor do teu cabelo louro.
Vermelho é o arrulho do teu pássaro verde.
Tu, simples rapariga com o vestido de todos os dias, tu querida verde
criatura, amo-te – tu teu tu a ti eu a ti tu a mim –
Nós?
Kurt Schwitters
FIM DOS TEMPOS ?
Religiões afro farão ato contra Gladiadores do Altar
Adeptos da Umbanda e Candomblé pedirão que Ministério Público Federal investigue grupos de igrejas evangélicas que se apresentam como militares
Rio - Representantes de religiões afro-brasileiras de pelo menos seis estados do Brasil, inclusive o Rio, farão ato de protesto e se reunirão com o Ministério Público Federal, na segunda-feira, para pedir investigação sobre os objetivos do grupo Gladiadores do Altar. Criado em janeiro deste ano pela Igreja Universal do Reino de Deus, ele é composto por mais de 4 mil jovens com idade até 26 anos. Em vídeos exibidos na internet, os Gladiadores do Altar aparecem uniformizados, mostram postura militar e batem continência.
“Sabemos do histórico de perseguições e violência contra centros espíritas e integrantes de religiões afro-brasileiras, praticadas por membros da Igreja Universal em todo o país. Líderes da Umbanda e do Candomblé estão preocupados com o que pode vir a ser esse novo grupo”, ressaltou o advogado Luiz Fernando Martins da Silva, que elaborou a petição a ser entregue ao MPF.
O documento cita a Lei de Segurança Nacional (LSN), que proíbe a formação de grupos paramilitares e propaganda de discriminação racial, de luta pela violência entre as classes sociais e de perseguição religiosa.
'Gladiadores do Altar' da Universal provocam polêmica e já atraem jovens do Rio
Segundo a assessoria de imprensa da Universal, os Gladiadores são jovens com vocação missionária e que estudam a Bíblia, sem desenvolver qualquer prática militar. Ainda de acordo com a assessoria, foram feitas apresentações do projeto em igrejas de algumas capitais, e nelas os jovens aparecem marchando e entoando frases de efeito. “Foram eventos únicos, com coreografia ensaiada, para marcar festivamente a ocasião”, diz a nota.
Os mais antigos centros espíritas de Salvador, na Bahia, tomaram a frente do movimento, depois que o babalorixá Babá Pecê lançou carta aberta, na qual mostrava sua preocupação com o que viu nos vídeos. Além da Bahia, umbandistas e candomblecistas do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão e Rio Grande do Norte farão a manifestação e entregarão petição ao MPF em seus estados, dia 23. Na terça, os religiosos de Brasília farão o mesmo.
Para o pastor João Soares da Fonseca, da Primeira Igreja Batista do Rio, não se pode julgar antes de ver os fatos. “A Universal gosta muito de marketing arrojado, sensacionalista. Talvez seja mais um lance espetacular de publicidade. Acho que, por enquanto, o medo não é justificado”, opina o pastor.
Mulheres de saia verde-oliva e rapazes de farda
“Jesus, o capitão, avante os levará. A milícia dos remidos marcha impoluta”. Com saias até o joelho da cor verde-oliva e blusas camufladas, jovens mulheres cantam o hino religioso, no altar. São quase 20h30, quando um grupo de rapazes se perfila na porta da igreja. Uma voz masculina grita: “Atenção! Exército de Cristo”. Os rapazes respondem: “Jesus”. O chamado é repetido mais uma vez. Era a senha que eles esperavam.
Com uma bandeira do Brasil e outras duas — uma parece ser de uma denominação religiosa —, os jovens entram marchando ao rufar dos tambores, que lembram marcha militar. O ritual, como mostra um vídeo postado no You Tube, acontece numa pequena igreja de Xerém, na Baixada Fluminense.
Os garotos usam calça, coturno e camiseta — também camuflada —, onde se lê “Exército de Cristo”. Eles dão meia volta e param na posição de sentido. “Senhores, vocês enfrentarão a maior batalha de suas vidas.
Os senhores estão preparados?”, grita o “comandante’, enquanto revista a “tropa” militar-religiosa. “Soldado Ferreira, quem é o nosso inimigo? É a sua igreja? É o seu pastor? São seus irmãos?”, interroga o ‘sargento’. “Não, senhor! É o diabo e seu exército”, responde o jovem, para a plateia de fiéis.
De novo, o “superior” faz perguntas: “Soldado Oliveira, quem lhe capacita: “O Espírito Santo, senhor!”, responde o rapaz. Em seguida, o “sargento” dá ordem de comando à tropa: “Descansar”.
Expressões de guerra no discurso
Tomada de território, soldado, inimigo, exército. O linguajar lembra o cenário de guerra, mas com bases em um discurso religioso. Uma mistura que pode ser perigosa, se dentro desse ‘batalhão’ o fanatismo for a base da doutrina. Para o psicólogo e colunista do DIA Fernando Scarpa, a prática militarizada cria uma “massa de homogeneidade de pensamento.” “O problema não é isso dentro da igreja. É quando sai dela.
Movimento criado em janeiro deste ano gera polêmica
São batalhões para vencer o mal. Mas o que é considerado o mal? Por outro lado, é interessante notar que são grupos também que conseguem tirar pessoas das ruas e do tráfico”, argumentou ele. Antropóloga e professora da UFF, Ana Paula Miranda explicou que, de uma maneira geral, pode se observar um “projeto de poder” nesses ‘exércitos’, mas que isso não é uma novidade no meio religioso. “Isso sempre existiu. As Cruzadas eram com soldados de guerra. A Igreja Católica teve um projeto imperial de poder. O novo é essa prática no Brasil em grupos evangélicos”, afirmou ela.
O sociólogo Luiz Vaz acredita que existem possibilidades de este ritual se “alastrar’ em outras denominações. Mas o perigo, segundo ele, é o fundamentalismo que pode alimentar esses ‘exércitos’. “O objetivo deles não é muito claro: se é uma atividade cultural, social. Fato é que eles querem fiéis, para ter poder.”
Chistrina Nascimento e HilKa Telles, O Dia, 20/03/2015
A FRAUDE ENCANTADA
No cristianismo nem a moral, nem a religião têm qualquer ponto de contado com a realidade. São oferecidas causas puramente imaginárias (‘Deus’, ‘alma’, ‘eu’, ‘espírito’, ‘livre arbítrio’ – ou mesmo o ‘não-livre’) e efeitos puramente imaginários (‘pecado’, ‘salvação’, ‘graça’, ‘punição’, ‘remissão dos pecados’). Um intercurso entre seres imaginários (‘Deus’, ‘espíritos’, ‘almas’); uma história natural imaginária (antropocêntrica; uma negação total do conceito de causas naturais); uma psicologia imaginária (mal-entendidos sobre si, interpretações equivocadas de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, os estados do 'nervus sympathicus' com a ajuda da linguagem simbólica da idiossincrasia moral-religiosa – ‘arrependimento’, ‘peso na consciência’, ‘tentação do demônio’, ‘a presença de Deus’); uma teleologia imaginária (o ‘reino de Deus’, ‘o juízo final’, a ‘vida eterna’).
(...)
Friedrich Nietzsche
quinta-feira, 19 de março de 2015
RUMO AO NADA
O diagnóstico psiquiátrico, antes de pretender ser um enunciado científico, era uma palavra de ordem que disciplinava e segregava um organismo, o paciente. Isso remonta ao século XIX, quando a instituição psiquiátrica percebia o louco e teorizava sobre a loucura. O diagnóstico era a teoria, ainda não científica. Hoje, nas entranhas do século XXI, tal dispositivo vai além: o biopoder (Foucault) e a sociedade de controle (Deleuze) se encarregam de produzir a "cientificidade" e controlar corpos e mentes, não só dos chamados usuários em saúde mental, mas de todos nós.
A.M.
FALAR DE SI
Como o perigo de desagradar provém principalmente da dificuldade em avaliar quais as coisas que se notam e quais as que não são notadas, pelo menos por prudência nunca deveria a gente falar de si mesmo, pois esse é um tema em que seguramente a nossa visão e a alheia não coincidem nunca.
Ao mau costume de falar de si mesmo e dos próprios defeitos, cumpre acrescentar, como formando bloco com o mesmo, esse outro hábito de denunciar nos carácteres alheios defeitos análogos aos nossos. E constantemente estamos a falar nos referidos defeitos, como se fora uma espécie de rodeio para falar de nós mesmos, em que se juntam o prazer de confessar e o de absolvermo-nos.
(...)
Marcel Proust
quarta-feira, 18 de março de 2015
terça-feira, 17 de março de 2015
POEMA DO AEROPORTO
Que ficou de mim nos quartos de hotel?
No verde quintal da infância?
Nas cidades estrangeiras
testemunhas da solidão?
Ah! a indiferença ofensiva das coisas!
A desmemória natural dos homens!
O ataque ininterrupto do Tempo!
Por que não sou como os marinheiros
que bebem esquecimento?
Antes pertenço
à espécie de pássaros,
que se embriagam de amplidões,
sem que lhes amorteça
o instinto do ninho.
Cassiano Nunes
Que ficou de mim nos quartos de hotel?
No verde quintal da infância?
Nas cidades estrangeiras
testemunhas da solidão?
Ah! a indiferença ofensiva das coisas!
A desmemória natural dos homens!
O ataque ininterrupto do Tempo!
Por que não sou como os marinheiros
que bebem esquecimento?
Antes pertenço
à espécie de pássaros,
que se embriagam de amplidões,
sem que lhes amorteça
o instinto do ninho.
Cassiano Nunes
segunda-feira, 16 de março de 2015
GEOFILOSOFIA
Os direitos do homem não dizem nada sobre os modos de existência imanentes do homem provido de direitos. E a vergonha de ser um homem, nós não a experimentamos somente nas situações extremas descritas por Primo Levi, mas nas condições insignificantes, ante a baixeza e a vulgaridade da existência que impregnam as democracias, ante a propagação desses modos de existência e de pensamento-para-o-mercado, ante os valores, os ideais e as opiniões de nossa época. A ignomínia das possibilidades de vida que nos são oferecidas aparecem de dentro. Não nos sentimos fora de nossa época, ao contrário, não cessamos de estabelecer com ela compromissos vergonhosos. Este sentimento de vergonha é um dos mais poderosos motivos da filosofia. Não somos responsáveis pelas vítimas, mas diante das vítimas. E não há outro meio senão fazer como o animal (rosnar, escavar o chão, nitrir, convulsionar-se) para escapar ao ignóbil: o pensamento mesmo está por vezes mais próximo de um animal que morre do que de um homem vivo, mesmo democrata. Se a filosofia se reterritorializa sobre o conceito, ela não encontra sua condição na forma presente do Estado democrático, ou num cogito de comunicação mais duvidoso ainda que o cogito da reflexão. Não nos falta comunicação, ao contrário, nós temos comunicação demais, falta-nos criação. Falta-nos resistência ao presente. A criação de conceitos faz apelo por si mesma a uma forma futura, invoca uma nova terra e um povo que não existe ainda.
(...)
G.Deleuze e F. Guattari in O que é a filosofia?
POÇO SEM FIM
Ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque volta a ser preso
Décima fase da Operação Lava Jato começou nesta segunda-feira.
O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato de Souza Duque voltou a ser preso nesta segunda-feira (16), quando teve início a décima fase da Operação Lava Jato. Entre os crimes investigados nesta etapa estão associação criminosa, corrupção ativa e passiva, lavagem, uso de documento falso e fraude em licitação.
Duque foi preso na casa dele, no Rio de Janeiro. O empresário paulista Adir Assad, investigado na CPI do Cachoeira, também foi preso.
A Polícia Federal cumpre as prisões desde as 6h desta segunda-feira. De acordo com a PF, além dos dois mandados de prisão preventiva, serão cumpridos quatro mandados de prisão temporária e 12 mandados de busca e apreensão. Todos os presos devem ser levados para o Paraná.
(...)
Camila Bonfim, da TV Globo, 16/03/2015,08:47 hs
domingo, 15 de março de 2015
VIVER
Talvez eu nunca seja feliz, mas esta noite estou contente. Nada além de uma casa vazia, o morno e vago cansaço após um dia ao sol plantando estolhos de morango, um doce copo de leite frio e um prato raso de mirtilos cobertos com creme. Agora sei como as pessoas conseguem viver sem livros, sem faculdade. Quando a gente chega ao final do dia tão cansada precisa dormir, e ao amanhecer haverá mais morangos para plantar, e vai-se vivendo em contato com a terra. Em momentos assim me consideraria uma tola se pedisse mais...
(...)
Sylvia Plath
BELEZA!
A beleza não existe, especialmente num rosto humano – ali está apenas o que chamamos fisionomia. Tudo é um imaginado, matemático, um conjunto de traços. Por exemplo, se o nariz não sobressai muito, se as costas estão bem, se as orelhas não são demasiadamente grandes, se o cabelo não é muito comprido. Esse é um olhar generalizante. A verdadeira beleza vem da personalidade e nada tem a ver com a forma das sobrancelhas. Me falam de mulheres que são lindas… Quando as vejo, é como olhar um prato de sopa.
Charles Bukowski
sábado, 14 de março de 2015
O TEMPO NÃO VOLTA
"Esquerda" e "Direita" são conceitos originários da Revolução Francesa (1789). Foram importantes e úteis em certo momento da História. Hoje, com o capitalismo "aparentemente" vencedor funcionando em escala planetária, tal visão dual tornou-se um arcaísmo político. Isso não impede, ao contrário, que ele seja utilizado enquanto linguagem ("somos a Esquerda") e prática social ("ajudamos os Pobres") por grupos locupletados no poder, com o fim de iludir a população. O caso do Brasil é emblemático... e atualíssimo.
A.M.
ÉTER
Tudo se me evapora. A minha vida inteira, as minhas recordações, a minha imaginação e o que contém, a minha personalidade, tudo se me evapora. Continuamente sinto que fui outro, que senti outro, que pensei outro. Aquilo a que assisto é um espetáculo com outro cenário. E aquilo a que assisto sou eu.
(...)
Fernando Pessoa
TRABALHO DE SÍSIFO
Os professores da rede estadual de São Paulo aprovaram uma greve por tempo indeterminado.
Eles querem 75,33% de aumento salarial, reabertura de salas fechadas, contratação dos professores temporários, convocação de concursos, entre outras reivindicações. A próxima assembleia será no dia 20.
Os professores da rede estadual decidiram entrar em greve por tempo indeterminado. A decisão foi tomada na tarde desta sexta (13) em assembleia no Masp (Museu de Arte de São Paulo). A próxima reunião deve acontecer no dia 20.
De acordo com a Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo), cerca de 10 mil pessoas participaram do ato. No momento, os manifestantes seguem em caminhada pela rua da consolação em conjunto com a CUT (Central Única dos Trabalhadores) e outras entidades. No final da caminhada, na Praça da República, os professores realizarão um ato em defesa da escola pública.
Os professores reivindicam aumento salarial de 75,33%, aplicação da jornada do piso, desmembramento das classes superlotadas, contratação dos docentes temporários, aumento do valor do vale-transporte e do vale-alimentação, fim da violência nas escolas; entre outras.
A Secretaria de Educação do Estado de São Paulo orienta, em nota, que todos os estudantes da rede estadual compareçam às escolas na segunda-feira, apesar da greve. "A Pasta acredita que a decisão de um dos sindicatos de professores, a Apeoesp, não representa os mais de 230 mil professores da rede, que devem comparecer às aulas, de maneira costumeira", afirmou.
Na nota, a pasta diz ainda que havia elaborado um plano de carreira juntamente com os servidores que estabeleceu um aumento acumulativo de 45% em quatro anos. "Os profissionais da Educação ainda podem conquistar o reajuste salarial anual de 10,5% por meio da valorização pelo mérito."
(...)
Do UOL, São Paulo,13/03/2015,19:49 hs
MAQUINAÇÕES
Paradoxo: no campo da chamada saúde mental, o conceito de "mente" é tributário de uma visão biomédica, portanto, positivista, cientificista. Desse modo, é um conceito inútil para a pesquisa da etiologia (causas) dos transtornos mentais. Pior: Esse dado não é percebido pelos que lidam com a problemática da saúde mental, já que instâncias do biopoder (cf. M. Foucault) se encarregam de produzir a vida, naturalizando-a. Ou seja, o paciente chega já "pronto": uma doença a ser cuidada, tratada. Tal realidade não se restringe apenas à clínica (o contato direto com o que sofre) mas à toda uma compreensão político-institucional em relação aos poderes vigentes. Estes se imiscuem em hábitos mentais de submissão aos axiomas do capitalismo mundial integrado, versão brasileira. A equação mente=cérebro=organismo (via instituições) impõe uma realidade que se dissemina pelo pensamento como verdade do pensamento, ou como o próprio pensamento. Sob tais condições, como afirmar uma diferença?
A.M.
Atos contra medidas do governo, mas pró-Dilma?
Dilma Rousseff dividiu o asfalto em duas faixas. Numa, promete desfilar neste domingo a rapaziada da ala chapa quente. Noutra, trafegou nesta sexta-feira a pelegada do bloco chapa branca. É grande a diferença entre os dois grupos. Um é a sociedade civil. Outro, a sociedade organizada. Um é o público. Outro, a coisa pública. Um faz pressão popular. Outro, lobby. Um é grito. Outro, resmungo. Um é explosão. Outro, flatulência.
Custeada pelo déficit público e pelo imposto sindical, a infantaria desta sexta contou com uma rica intendência —balões e faixas profissionais, bandeiras e camisetas vermelhas, carros de som, ônibus, um kit-manifestação e até vale-protesto. Lideradas por entidades como CUT, MST e UNE, três aparelhos capturados pelo Estado petista, essas manifestações serviram para sinalizar que Dilma ainda encontra algum apoio nas ruas. Mesmo que tenha que procurar um pouco.
Em poucas horas, descerá ao meio-fio a turma do ambiente virtual das redes sociais. Nas suas últimas aparições, essa gente fez roncar as praças em junho de 2013 e crispou o cenho defronte dos estádios durante a Copa. Ninguém espera para este domingo nada tão grandioso. Mas Dilma está apreensiva. Dependendo da temperatura do asfalto, o derretimento do que lhe resta de imagem será mais rápido.
(...)
Blog do Josias de Souza,14/03/2015, 05:44 hs
sexta-feira, 13 de março de 2015
DEVIR-LOUCURA
Os devires são o conteúdo do desejo, a materialidade do real funcionando em conexões. A concepção de Encontro nutre-se desses fluxos. Portanto, antes da técnica, o Encontro. Este pode ser com alguém ou com algo que não se assemelhe aos rostos conhecidos. Se houver a manutenção de identidades caras à psiquiatria, nada de novo acontecerá. É certo que a psiquiatria tem uma identidade; precisa disso, vive disso, do idêntico a si mesmo. Os devires, ao contrário, são relações sem forma, sem ponto fixo de apoio na representação da realidade. Eles são a própria realidade. Atravessam os sintomas psicopatológicos, dando-lhes um sentido (não um significado) naquilo que acontece ao paciente. Nos quadros graves o sentido parece ficar encoberto pelos sintomas. Por exemplo, o paciente não fala, não anda, não se alimenta. A demanda por um atendimento, às vezes emergencial, faz do sentido um significado simples: ele está doente e precisa de ajuda. Esta é a clínica da lógica tradicional parida do modelo biomédico. No entanto, o Sentido emerge do Encontro. Trata-se do devir-loucura, o que excede a linguagem.
(...)
A.M.
ESGOTAMENTO
Secaram as sementes no silêncio da rocha e mineral. As palavras que não chegamos a gritar, as lágrimas retidas, as pragas que se engolem, a frase que se encurta, o amor que matamos, tudo isso transformado em minério magnético, em turmalina, em ágata, o sangue congelado em cinábrio, sangue calcinado tornado galena, oxidado, aluminizado, sulfatado, calcinado, o brilho mineral de meteoros mortos e sóis exaustos numa floresta de árvores secas e desejos mortos.
(...)
Anaïs Nin
Assinar:
Postagens (Atom)