domingo, 31 de maio de 2015

RISOS E LÁGRIMAS

Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror. Os bons filmes constituem uma linguagem internacional, respondem à necessidade que os homens têm de alegria, de piedade e de compreensão. São um meio de dissipar a onda de angústia e de medo que invade o mundo de hoje... Se pudéssemos pelo menos trocar entre as nações, em grande quantidade, os filmes que não constituem uma propaganda agressiva, mas que falam a linguagem simples dos homens e das mulheres simples... isso poderia contribuir para salvar o mundo do desastre.
(...)
Charles Chaplin
SEM ESPERANÇA

Da caixa de Pandora, na qual fervilhavam os males da humanidade, os gregos fizeram sair a esperança em último lugar, por considerá-la o mais terrível de todos. Não conheço símbolo algum mais emocionante do que este.
(...)
Albert Camus

BIBI FERREIRA - da peça Gota d´água


LIVRES

Já encontrei homens livres nos lugares mais estranhos e de todas as idades - porteiros, ladrões de automóveis, lavadores de carros, e algumas mulheres também, principalmente enfermeiras ou garçonetes, e de todas as idades. É muito raro encontrar almas livres, mas logo se vê quando são - antes de mais nada pela sensação boa, ótima, por causa da sua proximidade ou da sua companhia.
(...)
Charles Bukowski

sábado, 30 de maio de 2015

ESGOTADOS

E lá ficaram, mas não tão entregues como durante a noite. Ela buscava algo e ele buscava algo, ambos furiosos, fazendo caretas; enterrando a cabeça um no peito do outro eles se buscavam e seus abraços e seus corpos arqueados não os faziam esquecer, mas lembrar-se da obrigação de continuar buscando; como os cães raspam desesperadamente o chão, eles raspavam os seus corpos e, desamparados, decepcionados, para alcançar ainda uma última felicidade, eles às vezes passavam à larga língua sobre o rosto do outro. Só o cansaço os acalmava e os tornava mutuamente gratos.
(...)
Franz Kafka

SANDY DOOLEY


Do mesmo modo que te abriste à alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.

Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão

que a vida só consome
o que a alimenta.


Ferreira Gullar
A DOENÇA-HOMEM

Quando eu me apresento a alguém, pouco me importa que seja branco, negro ou amarelo, capitalista, comunista. Cristão, ateu, judeu, muçulmano, hindu ou budista. Pobre, rico. Para mim me basta e me sobra com que seja um ser humano, pior coisa não poderia ser.
(...)
Mark Twain
VONTADE DE SORTE

O acaso tem seus sortilégios, a necessidade não. Para que um amor seja inesquecível, é preciso que os acasos se encontrem nele desde o primeiro instante como os pássaros nos ombros de São Francisco.
(...)
Milan Kundera

INOCÊNCIA DAS FLORES


O QUE SE PASSA?

A angústia surge do momento em que o sujeito está suspenso entre um tempo em que ele não sabe mais onde está, em direção a um tempo onde ele será alguma coisa na qual jamais se poderá reencontrar.
(...)
Jacques Lacan
É um absurdo dividir as pessoas em boas e más. Elas ou são encantadoras ou tediosas.

Oscar Wilde

RICHARD GERE e JENNIFER LOPEZ - Dança Comigo? dir. de Peter Chelsom, 2004


O REAL É A MULTIPLICIDADE

(...) O uno e o múltiplo são conceitos do entendimento que formam as malhas frouxas demais de uma dialética desnaturada, dialética que procede por oposição. Os maiores peixes passam através dessas malhas. É possível acreditar que se agarra o concreto quando se compensa a insuficiência de um abstrato com a insuficiência de seu oposto? Pode-se dizer durante muito tempo que "o uno é múltiplo e que o múltiplo é uno" - fala-se como esses jovens de Platão, que não poupavam nem a ralé. Combinam-se os contrários, obtém-se a contradição; em nenhum momento se diz o importante, "quanto", "como", "em que caso". Ora, a essência nada é, ou é uma generalidade oca, quando separada desta medida, desta maneira e desta casuística. Combinam-se os predicados, perde-se a Ideia - discurso vazio, combinações vazias em que falta um substantivo. O verdadeiro substantivo, a própria substância, é "multiplicidade", que torna inútil tanto o uno quanto o múltiplo. A multiplicidade variável é o quanto, o como, o cada caso. Cada coisa é uma multiplicidade na medida em que encarna a Ideia. Mesmo o múltiplo é uma multiplicidade; mesmo o uno é uma multiplicidade. Que o uno seja uma multiplicidade (como também foi mostrado por Bergson e Husserl), eis o que basta para destituir de razão propostas de adjetivos do tipo o uno-múltiplo ou o múltiplo-uno. Em toda parte, as diferenças de multiplicidades e a diferença na multiplicidade substituem as oposições esquemáticas e grosseiras. Há tão somente a variedade de multiplicidade, isto é, a diferença, em vez da enorme oposição do uno e do múltiplo. E talvez seja uma ironia dizer: tudo é multiplicidade, mesmo o uno, mesmo o múltiplo. Mas a própria ironia é uma multiplicidade ou, antes, a arte das multiplicidades, a arte de apreender nas coisas as Ideias, os problemas que elas encarnam, e de apreender as coisas como encarnações, como casos de solução para problemas de Ideias. 
(...)
Gilles Deleuze in Diferença e Repetição
Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

Carlos Drummond de Andrade

DÉJÀ VU


As universidades federais da Bahia e do Oeste do Pará aderiram hoje (29) à greve que, segundo o Sindicato Nacional dos Docentes de instituições de Ensino Superior (Andes-SN), já mobiliza 20 instituições públicas de ensino superior. O movimento, que envolve professores e trabalhadores técnico-administrativos de vários estados, começou ontem (28) e é por tempo indeterminado.

Os profissionais querem pressionar o governo federal a ampliar os investimentos na educação pública. Entre as reivindicações, estão a reestruturação da carreira e a reposição de 27% das perdas salariais.

Os docentes aprovaram a greve no dia 16 de maio, durante reunião do Andes-SN, em Brasília. Na lista de instituições mobilizadas, estão a Universidade Federal Fluminense e as federais de Alagoas, Sergipe, do Tocantins, Pará, Amapá e de Lavras (MG).

Os trabalhadores técnico-administrativos decidiram pela greve em plenária nacional na segunda-feira (25). Segundo a Federação de Sindicatos de Trabalhadores Técnico-Administrativos em Instituições de Ensino Superior Públicas do Brasil (Fasubra), na última reunião com o governo, no dia 22 de maio, foram apresentadas posições que "efetivamente não acatam a centralidade" das demandas dos trabalhadores.

Para a Federação de Sindicatos de Professores de Instituições Federais de Ensino Superior (Proifes), que representa 11 sindicatos, o momento não é para a paralisação.

O Ministério da Educação (MEC) criticou a decisão pela greve, alegando que não houve um amplo diálogo prévio. Por meio de nota, representantes da pasta informaram que a deflagração do movimento agora só faria sentido "quando estiverem esgotados os canais de negociação".

Aline Leal da Agência Brasil, 29.05.2015, 21:23 hs

sexta-feira, 29 de maio de 2015

Só acredito nas pessoas que ainda se ruborizam.

Nelson Rodrigues

JOÃO DONATO e CHUCO VALDÉS


SEM RUMO

A nossa sociedade ocidental contemporânea, apesar do seu progresso material, intelectual e político, dirige-se cada vez menos para a saúde mental, e tende a sabotar a segurança interior, a felicidade, a razão e a capacidade de amor no ser humano; tende a transformá-lo num autômato que paga o seu fracasso com as doenças mentais cada vez mais frequentes e desespero oculto sob um delírio pelo trabalho e pelo chamado prazer.
(...)
Aldous Huxley in O Admirável Mundo Novo, 1932
IMPRESSOS INÚTEIS

Não sei por que os guardo
nessa gaveta íntima.
O certificado de reservista.
O diploma de pós-graduação.
O mapa esperto pra uma festa chata
que rolou uns três meses atrás.
Felizmente não compareci.

Eudoro Augusto

DE OLHOS BEM FECHADOS, de Stanley Kubrick, 1999


SEM MEDIDA

O tempo não é uma medida. Um ano não conta, dez anos não representam nada. Ser artista não significa contar, é crescer como a árvore que não apressa a sua seiva e resiste, serena, aos grandes ventos da primavera, sem temer que o verão possa não vir. O verão há de vir. Mas só vem para aqueles que sabem esperar, tão sossegados como se tivessem na frente a eternidade.
(...)
Rainer Maria Rilke
O DESEJO FUNCIONA POR CONTÁGIO

(...)A propagação por epidemia, por contágio, não tem nada a ver com a filiação por hereditariedade, mesmo que os dois temas se misturem e precisem um do outro. O vampiro não filiaciona, ele contagia. A diferença é que o contágio, a epidemia coloca em jogo termos inteiramente heterogêneos: por exemplo, um homem, um animal e uma bactéria, um vírus, uma molécula, um microorganismo. Ou, como para a trufa, uma árvore, uma mosca e um porco. Combinações que não são genéticas nem estruturais, inter-reinos, participações contra a natureza, mas a Natureza só procede assim, contra si mesma. Estamos longe da produção filiativa, da reprodução hereditária, que só retém como diferenças uma simples dualidade dos sexos no seio de uma mesma espécie, e pequenas modificações ao longo das gerações. Para nós, ao contrário, há tantos sexos quanto termos em simbiose, tantas diferenças quanto elementos intervindo num processo de contágio. Sabemos que entre um homem e uma mulher passam muitos seres, que vêm de outros mundos, trazidos pelo vento, que fazem rizoma em torno das raízes, e não se deixam compreender em termos de produção, mas apenas de devir. O Universo não funciona por filiação. Nós só dizemos, portanto, que os animais são matilhas, e que as matilhas se formam, se desenvolvem e se transformam por contágio.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol 4

quinta-feira, 28 de maio de 2015

ROUBALHEIRA PADRÃO FIFA


NÃO SE SABE

O que é uma mulher? Eu lhes asseguro, eu não sei. Não acredito que vocês saibam. Não acredito que alguém possa saber até que ela tenha se expressado em todas as artes e profissões abertas à habilidade humana.
(...)
Virginia Woolf

quarta-feira, 27 de maio de 2015

DMITRY SPIROS


IRRESISTÍVEL

Não é a maneira mais certa e verdadeira de livrar-se da tentação? ceder a ela? Resista, e sua alma adoece ansiando por coisas proibidas. Cada instinto que nos esforçamos por sufocar germina na mente e nos envenena. O corpo peca uma vez e supera o pecado, porque a ação é um meio de purificação...
(...)
Oscar Wilde
SABEDORIA

A maioria das pessoas preocupa-se com passagens da Bíblia que não entende, mas as que me preocupam são as que eu entendo.

Mark Twain

O CASO ROSWELL


VIVERMORRER

Um homem nasce manso e frágil e  ao morrer está duro e tenso. As plantas verdes são tenras e cheias de seiva, e ao morrer estão murchas e secas. Por isso, os tensos e inflexíveis são os discípulos da morte. Os mansos e frágeis são os discípulos da vida.

Lao-Tsé
SONHARES

O Sonho é a Pior das Cocaínas O sonho é a pior das cocaínas, porque é a mais natural de todas. Assim se insinua nos hábitos com a facilidade que uma das outras não tem, se prova sem se querer, como um veneno dado. Não dói, não descora, não abate – mas a alma que dele usa fica incurável, porque não há maneira de se separar do seu veneno, que é ela mesma.
(...)
Fernando Pessoa

terça-feira, 26 de maio de 2015

HERBIE HANCOCK - Atual Proof (Experience Montreaux)


MEIO DE VIDA

o Brasil tem andado rápido
ando meio catatônico
ela partiu sem dizer aos seus
todos conspiram por nada
onde andam seus delírios
trancaram a porta do ventre
não vejo alumbramentos
eles me disseram que sim
encontro um jeito do silêncio
quebrar o encanto da noite
até uma madrugada parir 
ando meio de banda
enquanto não amanheço

A.M.




domingo, 24 de maio de 2015

ACONTECIMENTOS

A vida de uma pessoa consiste num conjunto de acontecimentos no qual o último poderia mesmo mudar o sentido de todo o conjunto, não porque conte mais do que os precedentes mas porque, uma vez incluídos na vida, os acontecimentos dispõem-se segundo uma ordem que não é cronológica mas que corresponde a uma arquitetura interna. Uma pessoa, por exemplo, lê na idade madura um livro importante para ela, que a faz dizer: ‘Como poderia viver sem o ter lido!’ e ainda: ‘Que pena não o ter lido quando era jovem!’. Pois bem, estas afirmações não fazem muito sentido, sobretudo a segunda, porque a partir do momento em que ela leu aquele livro, a sua vida torna-se a vida de uma pessoa que leu aquele livro, e pouco importa que o tenha lido cedo ou tarde, porque até a vida que precede a leitura assume agora uma forma marcada por aquela leitura.
(...)
Ítalo Calvino


É melhor ser pessimista do que otimista. O pessimista fica feliz quando acerta e quando erra.

Millôr Fernandes

ALEXEY SLUSAR


PAIXÃO

O ser humano não consegue viver sem paixão. E a paixão é o estado no qual todos os seus sentimentos e ideias se encontram no mesmo espírito. Tu podes pensar, quase ao contrário, que é o estado em que um sentimento se torna todo-poderoso, um único sentimento que atrai a si todos os outros - um arrebatamento! Não, não querias dizer nada? Seja como for, é assim. Também é assim. Mas a força de uma tal paixão é imparável. Os sentimentos e as ideias só ganham continuidade quando se apoiam uns nos outros, na sua totalidade, têm de se orientar no mesmo sentido e arrastam-se uns aos outros. E o ser humano tenta por todos os meios, pela droga, pela ilusão, pela sugestão, pela crença, pela convicção, por vezes apenas recorrendo ao efeito simplificador da estupidez, criar um estado semelhante àquele. Acredita nas ideias, não por elas às vezes serem verdadeiras, mas porque tem de acreditar em alguma coisa. Porque tem de manter os afectos em ordem. Porque tem de tapar com alguma ilusão o buraco entre as paredes da vida, para não deixar que os seus sentimentos se espalhem ao vento. O caminho certo seria o de, em vez de se entregar a estados ilusórios, procurar pelo menos as condições da autêntica paixão. Mas, feitas as contas, embora o número de decisões que dependem do sentimento seja infinitamente superior ao daquelas que se podem tomar com a pura razão, e todos os acontecimentos decisivos para a humanidade nasçam da imaginação, só as questões da razão se mostram ordenadas de forma suprapessoal; para o resto, nunca se fez nada que mereça o nome de esforço comum ou que sugira sequer a consciência da sua desesperada necessidade.
(...)
Robert Musil

sábado, 23 de maio de 2015

Vivo nas estrelas porque é lá que brilha a minha alma.


Manuel Bandeira

POR QUE OS ALIENÍGENAS NÃO FAZEM CONTATO OFICIAL?


CURA DA LOUCURA?

“Não. A condição humana não termina nunca. Isso é um sonho. A loucura existe desde a noite dos tempos, como a sexualidade, o suicídio ou a morte. Ela faz parte da condição humana. O que muda é a representação que fazemos dela. Na Idade Média, o louco não tinha o mesmo lugar que tem hoje. O grande movimento se deu quando se considerou, a partir do século 18, que a loucura era uma doença mental. Essa é a mudança. Antes, falava-se em possessão do demônio, que era a expressão entre os antigos, de uma fúria interna ligada ao organismo, etc. Hoje, tudo é considerado do ponto de vista da doença. É a nossa época. Pensava-se que seria vencida, pois poderíamos curá-la, como se cura uma doença. Mas não. E a prova é que se pensava isso também do suicídio, que os remédios venceriam o suicídio. Mas não se pode vencer os grandes dados da condição humana. Ela tomará formas diferentes. A humanidade não pode curar-se do que ela é. Já imaginaram uma sociedade que eliminasse a morte, o suicídio, a loucura, o que mais? Curaríamos a neurose. Mas seríamos o quê, então? O que seria o homem livre de suas paixões? Seria um cemitério!”

Elizabeth Roudinesco, entrevista concedida em 1999, disponível em hhp://www.rodaviva.fapesp.br 
NÃO INTERPRETE!

Eu comecei a acreditar que o mundo inteiro é um enigma, um enigma inofensivo que se torna terrível pela nossa própria tentativa furiosa em interpretá-lo como se ele tivesse uma verdade secreta.
(...)
Umberto Eco

ADRIANA CALCANHOTO - Estrelas



O QUE PODE UM CORPO?

A chamada "espiritualidade" é, hoje, concebida e tratada como entidade, coisa. Tal é o efeito devastador do modo de reificação (coisificação) inscrito no circuito de "produção-consumo-produção"capitalístico. Fala-se de espiritualidade como se alguém a possuísse:  mais espiritualidade (bondade?) ou menos espiritualidade: um atributo, uma propriedade, um objeto-virtude a ser cultivado. Não pensamos assim: a espiritualidade não existe. Só existe o corpo, não o organismo fabricado pela medicina e agências conexas (estado, família, direito, escola...), o corpo que nos é tomado e formatado como corpo-organismo, trabalhador, responsável e normal. Mas, ele, o corpo-desejo, está à espreita. O investimento sócio-religioso na espiritualidade cumpre, assim, a função de tamponar a potência do corpo, esvaziá-lo da força de criar a si mesmo e um mundo. Quando alguém fala em melhorar a sua espiritualidade (muitos falam) exala um cheiro inconfundível de conformismo social. No entanto, esse dado é difícil de constatar ou de contestar, de tal modo vem expresso em boas intenções cristãs. Ir contra Cristo?

A.M.
Há tanto tempo giram os astros no espaço;
há tanto tempo se revezam os dias e as noites.
Anda de leve na terra, talvez aonde vais pisar
ainda estejam os olhos meigos de um adolescente.

Omar Khyyam

Cerejeiras em flor no Japão…

Festival das cerejeiras no Japão… uma celebração da beleza, da impermanência e de um novo começo…

Flor de Cerejeira significa a beleza feminina e simboliza o amor, a felicidade, a renovação e a esperança. É uma flor de origem asiática, conhecida como “Sakura”, a flor nacional do Japão, onde estão documentadas mais de 300 variedades de cerejeiras.
O início da floração das cerejeiras marca o fim do inverno e a chegada da primavera. São aguardadas com ansiedade pelos japoneses, que organizam em todo o país diversas festividades em torno do “Hanami” (ato de contemplação das cerejeiras em flor que deixam a paisagem deslumbrante).
Uma lenda conta que a palavra “Sakura” surgiu com a princesa Konohana Sakuya Hime, que caiu do céu perto do Monte Fuji, tendo se transformado nessa bonita flor. Também existe uma crença que o cultivo de arroz poderá ter originado a palavra, tendo em conta que “Kura” era o depósito onde esse alimento (visto por muitos japoneses como uma oferta divina) era guardado.
Os samurais, os guerreiros japoneses, eram grandes apreciadores da flor de cerejeira. Desde aqueles tempos, passou a estar associada à efemeridade da existência humana e ao lema dos samurais: viver o presente sem medo. Assim, a flor de cerejeira está também associada ao código do samurai, o Bushido.

OS LINGUISTAS SÃO IMPERIALISTAS

(...) Na lingüística, mesmo quando se pretende ater-se ao explícito e nada supor da língua, acaba-se permanecendo no interior das esferas de um discurso que implica ainda modos de agenciamento e tipos de poder sociais particulares. A gramaticalidade de Chomsky, o símbolo categorial S que domina todas as frases, é antes de tudo um marcador de poder antes de ser um marcador sintático: você constituirá frases gramaticalmente corretas, você dividirá cada enunciado em sintagma nominal e sintagma verbal (primeira dicotomia...). Não se criticarão tais modelos lingüísticos por serem demasiado abstratos, mas, ao contrário, por não sê-lo bastante, por não atingir a máquina abstrata que opera a conexão de uma língua com os conteúdos semânticos e pragmáticos de enunciados, com agenciamentos coletivos de enunciação, com toda uma micropolítica do campo social. Um rizoma não cessaria de conectar cadeias semióticas, organizações de poder, ocorrências que remetem às artes, às ciências, às lutas sociais. Uma cadeia semiótica é como um tubérculo que aglomera atos muito diversos, lingüísticos, mas também perceptivos, mímicos, gestuais, cognitivos: não existe língua em si, nem universalidade da linguagem, mas um concurso de dialetos, de patoás, de gírias, de línguas especiais. Não existe locutor-auditor ideal, como também não existe comunidade lingüística homogênea. A língua é, segundo uma fórmula de Weinreich, "uma realidade essencialmente heterogênea". Não existe uma língua-mãe, mas tomada de poder por uma língua dominante dentro de uma multiplicidade política. A língua se estabiliza em torno de uma paróquia, de um bispado, de uma capital. Ela faz bulbo. Ela evolui por hastes e fluxos subterrâneos, ao longo de vales fluviais ou de linhas de estradas de ferro, espalha-se como manchas de óleo. Podem-se sempre efetuar, na língua, decomposições estruturais internas: isto não é fundamentalmente diferente de uma busca das raízes. Há sempre algo de genealógico numa árvore, não é um método popular. Ao contrário, um método de tipo rizoma é obrigado a analisar a linguagem efetuando um descentramento sobre outras dimensões e outros registros. Uma língua não se fecha sobre si mesma senão em uma função de impotência.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol 1

JUSTIÇA


VERBO AMAR

No dia que for possível à mulher amar em sua força e não em sua fraqueza, não para fugir de si mesma, mas para se encontrar, não para se renunciar, mas para se afirmar, nesse dia o amor tornar-se-á para ela, como para o homem, fonte de vida e não perigo mortal.
(...)
Simone de Beauvoir
Qualquer um de nós já amou errado, já odiou errado.

Nelson Rodrigues

MARC RIBOUD


23 de maio de 2011 - 1ª postagem do "Cérebro MENTE"

DEVIRES

 O paciente vive  entristecido pela Grande Máquina. Sua alegria  foi aniquilada  em plena  vigília.  Do nada.   Ninguém assume  a  autoria dos pequenos  crimes.  Eles   são  administrados em nome da  paz  de espírito.  Ora, o   espírito também caga.  Avise  aos últimos  palhaços  que  a    arte   foi  solapada em nome do ideal dos   homens  de branco.  Ao que  me consta, nada  mudou no sulco das  bocas. Elas falam rachando dentes.    Mastigam   auroras   nati-mortas.   Mas o   Rosto carrega  uma expressão justa, como negar? A  bondade natural dos  humanos.  Ó Lovecraft,  socorrei! Apenas uma   cidade  respirando um  arco-íris, manda por  favor...  Não falo por  mim. Por  mim, ó... Falo pelo que  não sou, falo  por  devires. Escutai   a  canção   do mundo... Você  dança?  O paciente sucumbe à  Ordem.  Por  favor, o senhor pode  me dizer  as  horas? Já vai  tarde o tempo dos  mestres, com todo  o  respeito.   Sonâmbulos da própria dor,  como  falar  aos  que  não  falam? A  Grande Máquina é uma   pequena dose de benefícios a  curto e  médio   prazo. Ela  se  insinua na febre dos corredores infectos. Um susto, um sus.  Tudo é  contágio. Resistir à  morte,  e fazer dessa vibração algo  novo, será  possível? Talvez um devir-amante   imerso  em trepadas millerianas. Bicho,  perdoa  o jeito canino: o que  é necessário  para  viver por  viver?   Pacientes  são pacientes  demais.  Armaduras químicas, lições de casa, manuais de sobrevivência, coisas  simples, eles   são  normais. Eu queria um gosto de  sol  em você, em suas dores mais  intensas e  irremediáveis. Pena  que  a sombra dos quintais do passado  anuncie sessões de  tortura regadas à dinheiro. A entrega  é  às  oito. Todos estarão  lá, até o  chefe da  Facção Sinistra,  aquele  mesmo que começou a seduzir  a multidão  com  truques de  falar  macio.  Não   tem jeito. Somos  inocentes radicais.


A.M.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

DESCARTÁVEL

Vontade de me jogar fora



Francisco Alvim
SEM COMPREENDER

Por não compreendermos a significação das palavras, nem eu nem meus amigos, uma coisa se tornou muito clara: que há maneiras de não compreender e que a diferença entre a não compreensão de um indivíduo e a não compreensão de outro cria um mundo de terra firma ainda mais sólido que as diferenças de compreensão. Tudo quanto outrora eu pensava ter compreendido desfez-se e eu fiquei como uma lousa limpa. Meus amigos, por outro lado, entrincheiravam-se mais solidamente na pequena vala de compreensão que haviam escavado para si próprios. Morreram confortavelmente em sua pequena cama de compreensão, para se tornarem cidadãos úteis do mundo. Senti pena deles e sem demora abandonei-os um a um, sem o menor pesar.
(...)
Henry Miller

quinta-feira, 21 de maio de 2015


Minha solidão tomou proporções enormes. Nunca os dias foram mais compridos, nunca o sol abrasou a terra com uma obstinação mais cansativa. As horas batiam de século a século, no velho relógio da sala, cuja pêndula, tic-tac, tic-tac, feria-me a alma interior, como um piparote contínuo da eternidade.
(...)
Machado de Assis

quarta-feira, 20 de maio de 2015

WASSILY KANDINSKY


AVENTURA

A Lebre de Março vai ser interessantíssima, e talvez, como estamos em maio, não esteja freneticamente louca... pelo menos não tão louca quanto em março.

Lewis Carroll in Alice no País das Maravilhas

terça-feira, 19 de maio de 2015

OBEDECER A SI MESMO

A norma, está inscrita entre as “artes de julgar”, ela é um princípio de comparação. Sabemos que tem relação com o poder, mas sua relação não se dá pelo uso da força, e sim por meio de uma espécie de lógica que se poderia quase dizer que é invisível, insidiosa.
(...)
Michel Foucault

JOÃO GILBERTO & TOM JOBIM - Desafinado


segunda-feira, 18 de maio de 2015

ÁRVORE

Um passarinho pediu a meu irmão para ser sua árvore.
Meu irmão aceitou de ser a árvore daquele passarinho.
No estágio de ser essa árvore, meu irmão aprendeu de
sol, de céu e de lua mais do que na escola.
No estágio de ser árvore meu irmão aprendeu para santo
mais do que os padres lhes ensinavam no internato.
Aprendeu com a natureza o perfume de Deus.
Seu olho no estágio de ser árvore aprendeu melhor o azul.
E descobriu que uma casca vazia de cigarra esquecida
no tronco das árvores só serve pra poesia.
No estágio de ser árvore meu irmão descobriu que as árvores são vaidosas.
Que justamente aquela árvore na qual meu irmão se transformara,
envaidecia-se quando era nomeada para o entardecer dos pássaros
E tinha ciúmes da brancura que os lírios deixavam nos brejos.
Meu irmão agradecia a Deus aquela permanência em árvore
porque fez amizade com muitas borboletas.

Manoel de Barros
A PSIQUIATRIA FASCISTA

O Movimento da Luta Antimanicomial nasceu junto às lutas políticas no período imediatamente pós-ditadura militar. Era 1987. Ele se alia à chamada Reforma Psiquiátrica e se conjuga ao projeto de implantação do SUS.  Desse modo, pensar, hoje, a Luta, é pensar sócio-políticamente as práticas em relação ao paciente. Tal perspectiva nos conduz, não de volta ao passado, mas ao presente, quando forças conservadoras buscam frear o Movimento. Que forças seriam essas? Ora, elas se expressam como poderes nem sempre explícitos, de tal modo estão disseminados, infiltrados em modos de subjetivação atuais. Mesmo o discurso humanista... Citemos, por ora, tão só a psiquiatria. Ela é avessa à lógica anti-manicomial, pois esta se baseia na análise dos fatores PSICOSSOCIAIS na produção de transtornos mentais. A psiquiatria odeia esse tipo de abordagem. Ela quer mais é cidologizar a Vida, receitar seus psicofármacos, tratar bioquimicamente a condição humana (como se isso fosse possível!) e, é claro, manter um status social hegemônico. Estes dados podem ser facilmente verificados na leitura dos textos (palavras de ordem) e atos das associações psiquiátricas, nos departamentos universitários de psiquiatria e suas pesquisas científicas anódinas, na própria fala de psiquiatras promovidos pela mídia e no exercício da clínica psicopatológica, seja no serviço público ou nos consultórios particulares. Um enunciado de mau gosto ilustra tal estado de coisas. Referindo-se à Luta, ele circula nas hostes psiquiátricas, expressando hostilidade e rancor: " esse é o pessoal da LAMA = Luta AntiMAnicomial".

A.M.

DEZOITO DE MAIO

Dia da Luta Antimanicomial

domingo, 17 de maio de 2015

GATO E CACHORRO

Ele fixaria em Deus aquele olhar verde-esmeralda com uma leve poeira de ouro no fundo. E não obedeceria porque gato não obedece. Quando a ordem coincide com sua vontade, ele atende mas sem a humildade do cachorro, o gato não é humilde, ele traz viva a memória da liberdade sem coleira. Despreza o poder porque despreza a servidão. Nem servo de Deus. Nem servo do Diabo.
Lembro agora daquela história que ouvi na infância e acreditei porque na infância a gente só acredita. Mais tarde, conhecendo melhor o gato é que descobri que jamais ele teria esse comportamento, questão de caráter. Dizia a história que Deus pediu água ao cachorro que lavou lindamente o copo e com sorrisos foi levá-lo ao Senhor. Pedido igual foi feito ao gato e o que ele fez? Escolheu um copo todo rachado, fez pipi dentro e dando gargalhadas entregou o copo na mão divina. 
Conheço bem o gato e sei que ele jamais se comportaria conforme aquela antiga história. O cachorro, sim, bem-humorado faria tudo o que fez ao passo que o gato ouviria a ordem divina mas continuaria calmamente deitado na sua almofada, apenas olhando. Quando se cansasse de olhar, recolheria as patas no calor do peito assim como o chinês antigo recolhia as mãos nas mangas do quimono. Elegante. Calmo. E mergulharia no sono sem sonhos, gato sonha menos do que o cachorro que até dormindo parece mais com o homem. 
Outro ponto discutível: dando gargalhadas? Mas gato não dá gargalhadas, é o cachorro que ri abanando o rabo naquele jeito natural de manifestar alegria. Os meus cachorros — e tive tantos — chegavam mesmo a rolar de rir, a boca arreganhada até o último dente. O gato apenas sorri no ligeiro movimento de baixar as orelhas e apertar um pouco os olhos como se os ferisse a luz, esse o sorriso do gato. Secreto. E distante. Nem melhor nem pior do que o cachorro mas diferente. Fingido? Não, porque ele nem se dá ao trabalho de fingir. Preguiçoso, isso sim. Caviloso. Essa palavra saiu de moda mas deveria voltar porque não existe definição melhor para um felino. E para certas pessoas que falam pouco e olham muito. Cavilosidade sugere cuidado, afinal, cave é aquele recôncavo onde o vinho fica envelhecendo em silêncio, no escuro. Na cave o gato se esconde solitário, porque sabe do perigo das aproximações. Mas o cachorro, esse se revela e se expõe com inocência, Aqui estou!

Lygia Fagundes Telles
Eu sou o poeta do Corpo

Eu sou o poeta do Corpo
e sou o poeta da alma,
as delícias do céu
estão em mim
e os horrores do inferno
estão em mim
- o primeiro eu enxerto
e amplio ao meu redor,
o segundo eu traduzo
em nova língua.

Eu sou o poeta da mulher
tanto quanto o do homem
e digo que tanta grandeza existe
no ser mulher
quanta no ser homem,
e digo que não há nada maior
do que uma mãe de homens.

Canto o cântico da expansão e orgulho:
já temos tido o bastante
em esquivanças e súplicas,
eu mostro que tamanho
nada mais é do que desenvolvimento.

você já passou os outros,
já chegou a Presidente?
É pouco: até aí hão de chegar
e irão ainda mais longe.

Eu sou aquele que vai com a noite
tenra e crescente,
e invoco a terra e o mar
que a noite leva pela metade.
Aperte mais, noite de peito nu!
Aperte mais, noite nutriz magnética!
Noite dos ventos do sul,
noite das poucas estrelas grandes!
Noite silenciosa que me acena
- alucinada noite nua de verão!

Sorria, ó terra cheia de volúpia,
de hálito frio!
Terra das árvores líquidas e dormentes!
Terra em que o sol se põe longe,
terra dos montes cobertos de névoa!
Terra do vítreo gotejar da lua cheia
apenas tinta de azul!
Terra do brilho e sombrio encontro
nas enchentes do rio!
Terra do cinza límpido das nuvens,
por meu gosto mais claras e brilhantes!
Terra que faz a curva bem distante,
rica terra de macieiras em flor!
Sorria: o seu amante vem chegando!

Pródiga, amor você tem dado a mim:
o que eu dou a você, por tanto, é amor
- indizível e apaixonado amor!


Walt Whitman

PROFESSORA!!!!!


ALMAS QUÍMICAS

Nos tempos que correm, o desejo é uma produção coletiva atrelada à máquina do capital. Este subsumiu a realidade social e consolidou a equação socius=capital. O desejo perde força, potência e  passa a ser agenciado como “capital”. Assim, o “sofrimento”, que também é desejo, vem das relações capitalistas  de produção e  não de “dentro” do eu,  mesmo que este seja vivenciado como  algo interno, privado. A realidade "interna" é produzida "de fora", sabemos, desde tenras eras da infância. Três segmentos sociais (o paciente, a família e a psiquiatria) compõem um funcionamento maquínico expresso em pontos de aplicação das manobras do capital enquanto produção de um certa clínica, nem sempre a clínica certa. Tais segmentos são derivados das quantidades abstratas do desejo, produzidos pela máquina do socius capitalista que descodifica os fluxos e ao mesmo  tempo os reterritorializa na esfera técnica da clínica, na pessoa do médico, dos Caps, da equipe, etc. Esta é uma superfície de ação prática que pouco depende de instâncias teóricas “explicativas” das causas da patologia mental. Não por acaso, os compêndios ou manuais de psiquiatria são simplórios em termos  de produções teóricas sobre fatores etiológicos não-bioquímicos das doenças. Sim, pois o que está verdadeiramente em jogo na avaliação do paciente é o controle não só do seu comportamento (isso é óbvio demais) mas da sua alma. Para controlar há que produzir. Como a alma é imaterial, sem deixar de ser concreta, o controle passa a ser a produção de uma alma neuro-química seguindo os padrões de funcionamento do organismo. 
(...)
A.M. in Trair a psiquiatria 
TODO MUNDO ACREDITA...

Muitos ortodoxos falam como se fosse obrigação dos céticos contraprovar dogmas consagrados, e não dos dogmáticos comprová-los. Isso é, claro, um equívoco. Se eu sugerisse que entre a Terra e Marte há um bule de chá chinês rodando em torno do Sol numa órbita elíptica, ninguém seria capaz de contraprovar minha afirmação, desde que eu tenha tido o cuidado de acrescentar que o bule é pequeno demais para ser revelado até pelos nossos telescópios mais potentes. Mas, se eu prosseguisse dizendo que, como minha afirmação não pode ser contraprovada, é uma presunção intolerável por parte da razão humana duvidar dela, imediatamente achariam que eu estava falando maluquices. Se, porém, a existência do bule tivesse sido declarada em livros antigos, ensinada como a verdade sagrada todos os domingos e instilada na cabeça das crianças na escola, a hesitação em acreditar em sua existência se tornaria um traço de excentricidade e garantiria ao questionador o atendimento por psiquiatras numa era esclarecida ou por um inquisidor em eras anteriores.
(...)
Bertrand Russell

OLEG TAKAREV


Não há poema em si, mas em mim ou em ti.

Octavio Paz
POR QUE?

Não posso. Não posso pensar na cena que visualizei e que é real. O filho que está de noite com dor de fome e diz para a mãe: estou com fome, mamãe. Ela responde com doçura: dorme. Ele diz: mas estou com fome. Ela insiste: durma. Ele diz: não posso, estou com fome. Ela repete exasperada: durma. Ele insiste. Ela grita com dor: durma, seu chato! Os dois ficam em silêncio no escuro, imóveis. Será que ele está dormindo? - pensa ela toda acordada. E ele está amedrontado demais para se queixar. Na noite negra os dois estão despertos. Até que, de dor e cansaço, ambos cochilam, no ninho da resignação. E eu não agüento a resignação Ah, como devoro com fome e prazer a revolta. 
(...)
Clarice Lispector

B.B.KING - The Thrill Is Gone


sábado, 16 de maio de 2015

FRENTE A FRENTE

Foi o melhor dos tempos, foi o pior dos tempos. Foi a idade da sabedoria, foi a idade da tolice. Foi a época da fé, foi a época da incredulidade. Foi a estação da luz, foi a estação das trevas. Foi a primavera da esperança, foi o inverno do desespero. Tínhamos tudo diante de nós, não havia nada antes de nós. Todos íamos direto para o céu, todos íamos direto para o outro lado.
(...)
Charles Dickens
O Brasil não tem povo, tem público.

Lima Barreto

sexta-feira, 15 de maio de 2015

ROSTIDADES

Os manuais de rosto e de paisagem formam uma pedagogia, severa disciplina, e que inspira as artes assim como estas a inspiram. A arquitetura situa seus conjuntos, casas, vilarejos ou cidades, monumentos ou fábricas, que funcionam como rostos, em uma paisagem que ela transforma. A pintura retoma o mesmo movimento, mas o inverte também, colocando uma paisagem em função do rosto, tratando de um como do outro: "tratado do rosto e da paisagem". O close de cinema trata, antes de tudo, o rosto como uma paisagem, ele se define assim: buraco negro e muro branco, tela e câmera. Mas já as outras artes, a arquitetura, a pintura, até o romance: close que os anima inventando todas as correlações. E sua mãe é uma paisagem ou um rosto? Um rosto ou uma fábrica? (Godard). Não há rosto que não envolva uma paisagem desconhecida, inexplorada, não há paisagem que não se povoe de um rosto amado ou sonhado, que não desenvolva um rosto por vir ou já passado. Que rosto não evocou as paisagens que amalgamava, o mar e a montanha, que paisagem não evocou o rosto que a teria completado, que lhe teria fornecido o complemento inesperado de suas linhas e de seus traços? 
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs
DESPERTAR

O telefone é um susto.
Do outro lado da linha
Alguém articula um bom-dia
rouco de pedra.
Engano
Eu não moro mais aqui.


Eudoro Augusto

A VOLTA DO DINHEIRO


PULSÕES DO ABISMO


É o papel de Fred, inconscientemente, envenenar minha felicidade. Ele enfatiza as incongruências do amor de Henry. Eu não mereço um amor pela metade, diz ele. Mereço coisas extraordinárias. Mas o meio amor de Henry vale mais para mim do que todos os amores de mil homens.

Imaginei por um momento um mundo sem Henry. E jurei que no dia que perder Henry, eu matarei minha vulnerabilidade, minha capacidade para o verdadeiro amor, meus sentimentos, com a devassidão mais frenética. Depois de Henry não quero mais amor. Só foder, por um lado, e solidão e trabalho, por outro. Nada mais de mágoa.

Depois de não ver Henry por cinco dias por causa de mil obrigações, não pude suportar. Pedi a ele para se encontrar comigo durante uma hora entre dois compromissos. Conversamos por um momento, então fomos para um quarto do hotel mais próximo. Que necessidade profunda dele. Só quando estou em seus braços as coisas parecem direitas. Depois de uma hora com ele, pude continuar o meu dia, fazendo coisas que não quero fazer, vendo pessoas que não me interessam.

Um quarto de hotel, para mim, tem a implicação de voluptuosidade, furtiva, fugaz. Talvez o fato de não ver Henry tenha aumentado a minha fome. Eu me masturbo frequentemente, com luxúria, sem remorso ou repugnância. Pela primeira vez eu sei o que é comer. Ganhei dois quilos. Fico desesperadamente faminta, e a comida que como me dá um prazer duradouro. Nunca comi desta maneira profunda e carnal. Só tenho três desejos agora: comer, dormir e foder. Os cabarés me excitam. Quero ouvir música rouca, ver rostos, roçar-me em corpos, beber um Benedictine ardente. Belas mulheres e homens atraentes provocam desejos em mim. Quero dançar. Quero drogas. Quero conhecer pessoas perversas, ser íntima delas. Nunca olho para rostos inocentes. Quero morder a vida e ser despedaçada por ela. Henry não me dá tudo isso. Eu despertei o seu amor. Maldito seja o seu amor. Ele sabe foder como ninguém, mas eu quero mais que isso.

Eu vou para o inferno, para o inferno, para o inferno.

Selvagem, selvagem, selvagem.


Anaïs Nin

quinta-feira, 14 de maio de 2015

MANABU MABE


FACES DO PODER

Repetem-nos sem cessar que vivemos numa democracia. Todo o poder para o povo! A idéia nasce na Atenas de Péricles, onde, já então, nem as mulheres nem os escravos participavam da vida da cidade.A democracia é, desde a origem, uma boa palavra para o poder. Não passa de uma das modalidades da opressão exercida desde o século XIX pela burguesia industrial. Não existe, em lugar nenhum, uma "verdadeira!, "boa" ou "real" democracia, como acreditavam os democratas de esquerda. A facilidade com a qual eles outorgam a garantia democrática a regimes que assassinam os revolucionários presos (República Federal da Alemanha, Espanha) mostra a fragilidade desse conceito decadente.
(...)
C. Guillon e Y Le Bonnicc in Suicídio modo de usar,1983
A INVERSÃO

A pior forma de tirania que o mundo sempre viu é a tirania do fraco sobre o forte. Esta é a única forma de tirania que dura.
(...)
Oscar Wilde

quarta-feira, 13 de maio de 2015

JOÃO DONATO & BUD SHANK - Night And Day


ILUSÕES DO EU

Eu sou vários! Há multidões em mim. Na mesa de minha alma sentam-se muitos, e eu sou todos eles. Há um velho, uma criança, um sábio, um tolo. Você nunca saberá com quem está sentado ou quanto tempo permanecerá com cada um de mim. Mas prometo que, se nos sentarmos à mesa, nesse ritual sagrado eu lhe entregarei ao menos um dos tantos que sou, e correrei os riscos de estarmos juntos no mesmo plano. Desde logo, evite ilusões: também tenho um lado mau, ruim, que tento manter preso e que quando se solta me envergonha. Não sou santo, nem exemplo, infelizmente. Entre tantos, um dia me descubro, um dia serei eu mesmo, definitivamente. Como já foi dito: ouse conquistar a ti mesmo.
(...)
Nietzsche
Não posso voltar para ontem porque lá eu era uma outra pessoa.

Lewis Carroll

GRANDES ESCRITOS


terça-feira, 12 de maio de 2015

UMA ÉTICA

Costurar as feridas e amar o inimigo que odiar faz mal ao fígado, isso sem falar no perigo da úlcera, lumbago, pé frio. Amar no geral e no particular e quem sabe nos lances desse xadrez-chinez imprevisível. Ousar o risco. Sem chorar, aprendi bem cedo os versos exemplares. Não chores que a vida é luta renhida.
(...)
Lygia Fagundes Telles

segunda-feira, 11 de maio de 2015

O PLANO

Quão louco e estranho e divertido parecia tal plano, na hora que eu pensava nele! - seguir os passos da sombra, ver onde é que ela vivia, se é que vivia mesmo, e conversar com ela como se fosse uma pessoal igual ao resto de nós.
(...)
Virginia Woolf

PHILIP GLASS - Symphony for Eight - Conjunto Ibérico


domingo, 10 de maio de 2015

Que importa àquele a quem já nada importa que um perca e outro vença .. se a aurora raia sempre ... se cada ano com a Primavera as folhas aparecem ... e com o Outono cessam? E o resto, as outras coisas que os humanos acrescentam à vida, que me aumentam na alma? Sim, sei bem que nunca serei alguém. Sei, enfim, que nunca saberei de mim. Sim, mas agora, enquanto dura esta hora, este luar, estes ramos, esta paz em que estamos .. deixem-me crer o que nunca poderei ser. Ser um é cadeia, ser eu é não ser. Viverei fugindo mas vivo a valer. O mistério do mundo, o íntimo, horroroso, desolado, verdadeiro mistério da existência, consiste em haver esse mistério. Quanto mais fundamente penso, mais profundamente me descompreendo. Só a inocência e a ignorância são felizes, mas não o sabem. São ou não? Que é ser sem o saber? Ser, como a pedra, um lugar, nada mais. Quanto mais claro vejo em mim, mais escuro é o que vejo. Quanto mais compreendo menos me sinto compreendido.
(...)

Fernando Pessoa

OPERAÇÃO PRATO

UFOS, O ENIGMA

No final da década de 1970, mais precisamente nos anos de 1977, 1978 e 1979, vários estados da região Norte e Nordeste, notadamente Amazonas e Pará, na região Norte e Maranhão e Piauí, na região Nordeste, foram palco de estranhos eventos que provocaram medo na população local. Várias pessoas, em sua maioria mulheres, eram atacadas por fachos de luz provenientes de estranhos objetos luminosos que sobrevoavam a região durante a noite.

O primeiro caso teria ocorrido na noite de 25 para 26 de abril de 1997, na região da Ilha dos Caranguejos, no litoral do Maranhão, quando quatro pescadores, Firmino, Apolinário, Aureliano e José, pescavam na região a bordo do barco Maria Bonita. No dia 26 de abril o barco foi encontrado a deriva, com um dos tripulantes morto e os outros vivos, mas bastante debilitados. Eles declararam terem sido atingidos por uma uma luz vinda do céu .

Os casos continuaram a ocorrer na região e no últimos trimestre de 1977, a região ao norte de Belém, foi assolada pelo fenômeno, já apelidado de Chupa-Chupa, devido à natureza de seus ataques. Tal situação gerou um cima de terror e pânico coletivo. Moradores das regiões de incidência do fenômeno começaram a abandonar a região. A situação atingia níveis críticos. O posto de saúde da cidade estava lotado de vítimas do fenômeno. Elas estavam debilitadas e aterrorizadas. 

 O prefeito da cidade de Vigia, que era uma das mais atacadas pelo fenômeno, enviou um oficio à Aeronáutica avisando que OVNIs estavam incomodando os pescadores locais e criando pânico na região. Ele pediu providências da Aeronáutica que destacou uma equipe investigar as ocorrências. Era o início da chamada Operação Prato.

Em poucos meses de atividades, a equipe de oficiais da Aeronáutica conseguiu dezenas de fotografias de várias gravações em vídeo de Objetos não identificados sobrevoando a região de Colares, no Pará. A equipe coletou o depoimento de dezenas de pessoas de diversas cidades atingidas pelo fenômeno. Este material todo gerou um relatório técnico-operacional impresso com centenas de páginas contendo depoimentos, relatos pessoais da equipe da FAB, croquis e mapas das ocorrências, e desenhos ilustrativos. Tudo isto com a precisão e objetividade característicos das Forças Armadas. 

A Operação Prato sempre esteve presente nos meios ufológicos nacionais e internacionais. Haviam algumas cópias das fotografias e o relatório operacional da Operação em poder de Ufólogos, porém faltavam declarações dos próprios militares envolvidos na Operação. Em 1997, estes militares começaram a relatar suas experiências publicamente. O primeiro deles foi o comandante da Operação, o então Coronel Uyrangê Bolivar Sores Nogueira de Hollanda que em longa entrevista à Revista UFO apresentou detalhes até então inéditos sobre o Fenômeno Chupa-Chupa e as experiências da Operação frente ao misterioso enigma.

Fonte: site FENOMENUM - A pesquisa Ufológica com Seriedade e Objetividade, acessado em 26/01/2015

Nota do Blog: A entrevista acima, registrada em vídeo, foi concedida  a A.J. Gevaerd e Marco Antonio Petti, respectivamente, editor e co-editor da Revista UFO,  na residência do coronel Uyrangê de Hollanda em agosto de 1997 na sua residência em Cabo Frio, litoral do Rio de Janeiro.
Esta postagem está sendo reprisada porque, inexplicavelmente, teve o vídeo da entrevista bloqueado (?!)