ALMAS QUÍMICAS
Nos tempos que correm, o desejo é uma produção coletiva atrelada à máquina do capital. Este subsumiu a realidade social e consolidou a equação socius=capital. O desejo perde força, potência e passa a ser agenciado como “capital”. Assim, o “sofrimento”, que também é desejo, vem das relações capitalistas de produção e não de “dentro” do eu, mesmo que este seja vivenciado como algo interno, privado. A realidade "interna" é produzida "de fora", sabemos, desde tenras eras da infância. Três segmentos sociais (o paciente, a família e a psiquiatria) compõem um funcionamento maquínico expresso em pontos de aplicação das manobras do capital enquanto produção de um certa clínica, nem sempre a clínica certa. Tais segmentos são derivados das quantidades abstratas do desejo, produzidos pela máquina do socius capitalista que descodifica os fluxos e ao mesmo tempo os reterritorializa na esfera técnica da clínica, na pessoa do médico, dos Caps, da equipe, etc. Esta é uma superfície de ação prática que pouco depende de instâncias teóricas “explicativas” das causas da patologia mental. Não por acaso, os compêndios ou manuais de psiquiatria são simplórios em termos de produções teóricas sobre fatores etiológicos não-bioquímicos das doenças. Sim, pois o que está verdadeiramente em jogo na avaliação do paciente é o controle não só do seu comportamento (isso é óbvio demais) mas da sua alma. Para controlar há que produzir. Como a alma é imaterial, sem deixar de ser concreta, o controle passa a ser a produção de uma alma neuro-química seguindo os padrões de funcionamento do organismo.
(...)
A.M. in Trair a psiquiatria
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