O QUE PODE UM CORPO?
A chamada "espiritualidade" é, hoje, concebida e tratada como entidade, coisa. Tal é o efeito devastador do modo de reificação (coisificação) inscrito no circuito de "produção-consumo-produção"capitalístico. Fala-se de espiritualidade como se alguém a possuísse: mais espiritualidade (bondade?) ou menos espiritualidade: um atributo, uma propriedade, um objeto-virtude a ser cultivado. Não pensamos assim: a espiritualidade não existe. Só existe o corpo, não o organismo fabricado pela medicina e agências conexas (estado, família, direito, escola...), o corpo que nos é tomado e formatado como corpo-organismo, trabalhador, responsável e normal. Mas, ele, o corpo-desejo, está à espreita. O investimento sócio-religioso na espiritualidade cumpre, assim, a função de tamponar a potência do corpo, esvaziá-lo da força de criar a si mesmo e um mundo. Quando alguém fala em melhorar a sua espiritualidade (muitos falam) exala um cheiro inconfundível de conformismo social. No entanto, esse dado é difícil de constatar ou de contestar, de tal modo vem expresso em boas intenções cristãs. Ir contra Cristo?
A.M.
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