O DESEJO FUNCIONA POR CONTÁGIO
(...)A
propagação por epidemia, por contágio, não tem nada a ver com a filiação
por hereditariedade, mesmo que os dois temas se misturem e precisem um do
outro. O vampiro não filiaciona, ele contagia. A diferença é que o contágio, a
epidemia coloca em jogo termos inteiramente heterogêneos: por exemplo,
um homem, um animal e uma bactéria, um vírus, uma molécula, um
microorganismo. Ou, como para a trufa, uma árvore, uma mosca e um porco.
Combinações que não são genéticas nem estruturais, inter-reinos,
participações contra a natureza, mas a Natureza só procede assim, contra si
mesma. Estamos longe da produção filiativa, da reprodução hereditária, que
só retém como diferenças uma simples dualidade dos sexos no seio de uma
mesma espécie, e pequenas modificações ao longo das gerações. Para nós,
ao contrário, há tantos sexos quanto termos em simbiose, tantas diferenças
quanto elementos intervindo num processo de contágio. Sabemos que entre
um homem e uma mulher passam muitos seres, que vêm de outros mundos,
trazidos pelo vento, que fazem rizoma em torno das raízes, e não se deixam
compreender em termos de produção, mas apenas de devir. O Universo não
funciona por filiação. Nós só dizemos, portanto, que os animais são matilhas,
e que as matilhas se formam, se desenvolvem e se transformam por contágio.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol 4
Nenhum comentário:
Postar um comentário