OS LINGUISTAS SÃO IMPERIALISTAS
(...) Na lingüística, mesmo quando se
pretende ater-se ao explícito e nada supor da língua, acaba-se permanecendo
no interior das esferas de um discurso que implica ainda modos de agenciamento
e tipos de poder sociais particulares. A gramaticalidade de Chomsky,
o símbolo categorial S que domina todas as frases, é antes de tudo um
marcador de poder antes de ser um marcador sintático: você constituirá
frases gramaticalmente corretas, você dividirá cada enunciado em sintagma
nominal e sintagma verbal (primeira dicotomia...). Não se criticarão tais
modelos lingüísticos por serem demasiado abstratos, mas, ao contrário, por
não sê-lo bastante, por não atingir a máquina abstrata que opera a conexão
de uma língua com os conteúdos semânticos e pragmáticos de enunciados,
com agenciamentos coletivos de enunciação, com toda uma micropolítica do
campo social. Um rizoma não cessaria de conectar cadeias semióticas,
organizações de poder, ocorrências que remetem às artes, às ciências, às
lutas sociais. Uma cadeia semiótica é como um tubérculo que aglomera atos
muito diversos, lingüísticos, mas também perceptivos, mímicos, gestuais,
cognitivos: não existe língua em si, nem universalidade da linguagem, mas
um concurso de dialetos, de patoás, de gírias, de línguas especiais. Não
existe locutor-auditor ideal, como também não existe comunidade lingüística
homogênea. A língua é, segundo uma fórmula de Weinreich, "uma realidade
essencialmente heterogênea". Não existe uma língua-mãe, mas tomada de
poder por uma língua dominante dentro de uma multiplicidade política. A
língua se estabiliza em torno de uma paróquia, de um bispado, de uma
capital. Ela faz bulbo. Ela evolui por hastes e fluxos subterrâneos, ao longo
de vales fluviais ou de linhas de estradas de ferro, espalha-se como manchas
de óleo. Podem-se sempre efetuar, na língua, decomposições estruturais
internas: isto não é fundamentalmente diferente de uma busca das raízes. Há
sempre algo de genealógico numa árvore, não é um método popular. Ao
contrário, um método de tipo rizoma é obrigado a analisar a linguagem
efetuando um descentramento sobre outras dimensões e outros registros.
Uma língua não se fecha sobre si mesma senão em uma função de
impotência.
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol 1
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