O ROSTO
(...) Os manuais de rosto e de paisagem formam uma pedagogia, severa
disciplina, e que inspira as artes assim como estas a inspiram. A arquitetura
situa seus conjuntos, casas, vilarejos ou cidades, monumentos ou fábricas,
que funcionam como rostos, em uma paisagem que ela transforma. A
pintura retoma o mesmo movimento, mas o inverte também, colocando
uma paisagem em função do rosto, tratando de um como do outro: "tratado
do rosto e da paisagem". O close de cinema trata, antes de tudo, o rosto
como uma paisagem, ele se define assim: buraco negro e muro branco, tela
e câmera. Mas já as outras artes, a arquitetura, a pintura, até o romance:
close que os anima inventando todas as correlações. E sua mãe é uma
paisagem ou um rosto? Um rosto ou uma fábrica? (Godard). Não há rosto
que não envolva uma paisagem desconhecida, inexplorada, não há
paisagem que não se povoe de um rosto amado ou sonhado, que não
desenvolva um rosto por vir ou já passado. Que rosto não evocou as
paisagens que amalgamava, o mar e a montanha, que paisagem não evocou
o rosto que a teria completado, que lhe teria fornecido o complemento
inesperado de suas linhas e de seus traços?
(...)
G. Deleuze e F. Guattari in Mil Platôs, vol 5
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