sábado, 14 de maio de 2016

QUEM CURA QUEM?

Será possível fazer uma psiquiatria dos afetos? Ela consiste sobretudo numa escuta do paciente que ultrapasse o rochedo diagnóstico da CID-10 em prol da busca de linhas de criatividade subjetiva. Tal tarefa revela-se difícil e inglória na medida em que a psiquiatria biológica (apoiada pela academia e seus congêneres) funciona através de alianças institucionais poderosas. Desse modo, a luta por uma clínica voltada aos afetos dá-se numa linha de risco onde o paciente experimenta o "seu" desejo laminado por formações de poder interessadas tão apenas em domesticá-lo. Na experiência de um caps público, por exemplo, a família e a religião vêm na dianteira do empreendimento de mortificação dessas singularidades desejantes. Mas não só: outras linhas anti-vida disseminam-se na própria concepção de saúde mental, onde políticas públicas utilizam o especialismo tecnicista do médico como a resposta "maior" aos prolemas da loucura e do louco. No território mais cruel e "realístico" da realidade social, sabemos que não é assim. A medicina não cura, salvo em situações muito especiais (certas cirurgias, infecções, etc) e sim a sociedade civil, cuidando de si mesma, é quem cura a medicina dos seus males, entre eles, o da subjetivação burguesa e, portanto, do individualismo egóico-mercantilista.

A.M.

Nenhum comentário:

Postar um comentário