LIÇÕES DO CAOS
Há moribundos demais no noticiário político. Impossível prever quem chegará vivo à próxima sucessão presidencial. Quando a posteridade puder falar sobre os dias atuais sem ter que esperar pela próxima delação premiada, talvez chame a Operação Lava Jato de “o epitáfio de uma era”. A perspectiva de massacre conduz a uma conclusão inexorável: 2018 não é mais o que era.
Em 2014, quando Dilma Rousseff foi reeleita, Aécio Neves era o principal líder da oposição e Lula representava o sonho de continuidade jamais vista. Esboçava-se um novo embate entre PSDB e PT. Decorridos menos de dois anos, Dilma foi devolvida ao convívio com os netos, Aécio é protagonista de inquéritos no STF e Lula está atormentado pelo medo de ser preso.
Numa velocidade de truque cinematográfico, desfez-se o bipartidarismo que embalava as disputas presidenciais no Brasil há mais de duas décadas. O PSDB, incorporado ao governo de Michel Temer, virou força auxiliar do PMDB. O PT, devolvido à oposição, derrete como sorvete exposto ao sol. E a Lava Jato, ardendo a pino, revela que forças poderosas tornaram-se impotentes para detê-la.
Alternativa tucana a Aécio, o chanceler José Serra também virou uma biografia sub judice depois que seu nome soou nas delações da Odebrecht e da OAS. O governador paulista Geraldo Alckmin, outro presidenciável do ninho, permanece no páreo apenas até certo ponto. O ponto de interrogação. A plateia aguarda pelo levantamento do sigilo do anexo da deduragem da Odebrecht sobre governadores.
Não há alternativas a Lula. Outros partidos têm excesso de cabeças e carência de miolos. O PT sofre da mesma carência. A diferença é que tem apenas uma cabeça, cuja placa esquentou depois que a força tarefa do Juízo Final passou a se ocupar dos seus confortos: o tríplex do Guarujá, o sítio de Atibaia, o guarda-volumes da Granero, as palestra$…
O novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a dizer que Michel Temer poderia virar um candidato à reeleição. Improvável. Se sobreviver às delações, à fúria de Eduardo Cunha e aos processos que ameaçam carbonizar a chapa Dilma-Temer na Justiça Eleitoral, Temer terá de executar um ajuste fiscal que se assemelha ao sorvo de um gigante, que leva o prato junto. Seu eventual sucesso será proporcional à sua impopularidade.
Ministro de Temer e presidente do PSD, Gilberto Kassab diz, em privado, o que todos negam sob holofotes: filiado mais ilustre da legenda, Henrique Meirelles, o czar da economia, tem pretensões presidenciais.
Com a experiência de quem saltou do Ministério da Fazenda, sob Itamar Franco, para dois mandatos na Presidência, o grão-tucano Fernando Henrique Cardoso duvida da viabilidade eleitoral de Meirelles. Recorda que seu prestígio veio do Plano Real, que, ao domar a superinflação, elevou automaticamente o poder de compra dos brasileiros. Quanto a Meirelles, diz FHC, tudo o que tem a oferecer é “sangue, suor e lágrimas”.
O cenário de terra arrasada é propício ao surgimento de demagogos, versões nacionais de Donald Trump. Enquanto isso não ocorre, restam como alternativas Marina Silva ou o caos —que muitos acreditam ser a mesma coisa. Os principais atores da política brasileira perderam o controle sobre o futuro. Embora se considerem cheios de vida, parecem jurados de morte.
Do Blog do Josias de Souza,18/09/2016, 03:50 hs
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