A DIFERENÇA NÃO TEM IDENTIDADE
O olhar da diferença é um olhar cego. Ele não vê, apenas enxerga. Percebe impressões vagas e exatas. Trabalha nos detalhes ínfimos das coisas. Funciona como quando se diz que "o amor é cego". Não que a diferença seja o amor, até porque este não existe como coisa, substância, essência, objeto sólido, mas como amar, acontecimento. Mais ainda, amar o acontecimento como o que não retornará jamais, e que sempre virá com a manhã na noite mais profunda e leve.No exercício dos seus paradoxos, nas cambalhotas (cf. Carlos Castañeda) do pensamento da alegria, o olhar da diferença é mais que um olhar, muito mais que a própria perspicácia desse olhar. É que o"amar" enxerga nas trevas, orienta-se por sensações. Questão ética: a potência, enfim. É uma prática de vida, um estremecimento, um frêmito, um grito silencioso, um instante lunático encravado nas horas que Virgínia Woolf captou com todas as suas forças, com todo o esplendor da poesia que viveu.
A.M.
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