domingo, 28 de outubro de 2018

EM TEMPOS DE ELEIÇÃO, O DELÍRIO AJUDA A VIVER

Lembro de um paciente, há alguns anos, me falando que havia uma tesoura enfiada e oculta na sua cabeça. Junto à queixa-crença, ele trazia exames de imagem do cérebro, como RM, TC, USG, todos normais. Perguntei-lhe porque ele insistia que a tesoura continuava alojada no cérebro, já que os exames estavam normais. Respondeu-me que os exames é que estavam errados, ou seja, haviam, sim, falhado já que provavelmente a tesoura estava escondida num locus cerebral de difícil acesso. Apesar de saber das limitações clínicas dos neuroexames por imagem na pesquisa da mente, já que o cérebro não é a mente, neste caso o cérebro era de fato o foco material da clínica. A discrepância entre a vivência-convicção do paciente com a imagem projetada sobre o écran era impressionante. Uma tesoura oculta dentro da cabeça não é qualquer coisa. Pois bem: percebi que os meus argumentos racionais, intelectuais, técnicos, até mesmo os de autoridade ("acredite porque sou médico"), eram completamente inúteis. Eu estava diante de um caso grave de delírio, cuja etiologia (origem) nada tinha a ver com o funcionamento cerebral, já que o cérebro estava absolutamente saudável. Ora, na doença psicossocial petista, em que pese todas as evidências do desmoronamento político-ideológico do partido dos trabalhadores, a crença-delírio prossegue como mecanismo subjetivo de negação de uma realidade muito dura que é a da morte do sonho petista. Como efeito direto  brota uma realidade esvaziada de sentido conforme os rumos possíveis para uma esquerda que queria mudar o mundo. Justiça social! Desse modo, milhões de pessoas que acreditavam no Sonho pós-ditadura de 1964 migraram para o delírio petista dos dias atuais. E sequer desconfiam que estão delirando, pois outros milhões lhe fazem companhia. Também deliram! E do mesmo modo que ocorria com o paciente da tesoura encravada no cérebro, de nada adianta usar argumentos racionais. Nada os convence. Trata-se de um investimento delirante de afetos tristes e mortificantes (melancólicos) só elimináveis à medida em que a prova de realidade ( o devir da História) o mostrar.  Como o Tempo histórico de uma nação é defasado em relação ao Tempo histórico de uma pessoa, milhares, milhões carregarão até a morte o seu "precioso" delírio como algo importante e indispensável (ainda que um fardo) para ajudá-los a viver.

A.M.


P.S. - O texto enfoca o drama dos doentes petistas e não o dos criminosos petistas. Quanto a estes, a Lava-Jato já está tratando...

P.S. - Texto revisado e republicado

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