domingo, 7 de outubro de 2018

A fúria da beleza

(...)
Acontece às vezes e não avisa. 
A coisa estarrece e abre-se um portal. 
É uma dobradura do real, uma dimensão dele, 
uma mágica à queima-roupa sem truque nenhum. 
Porque é real. 
Doeu a flor em mim tanto e com tanta força 
que eu dei de soluçar! 
O esplendor do que eu vi era pancada, 
era baque e era bonito demais! 

Penso, às vezes, que vivo para esse momento 
indefinível, sagrado, material, cósmico, 
quase molecular. 
Posto que é mistério, 
descrevê-lo exato perambula ermo 
dentro da palavra impronunciável. 
Sei que é desta flechada de luz 
que nasce o acontecimento poético. 

Poesia é quando a iluminação zureta, 
bela e furiosa desse espanto 
se transforma em palavra! 
A florzinha distraída 
existindo singela na rua paralelepípeda esta manhã, 
doeu profundo como se passasse do ponto. 
Como aquele ponto do gozo, 
como aquele ápice do prazer 
que a gente pensa que vai até morrer! 
Como aquele máximo indivisível, 
que, de tão bom, é bom de doer, 
aquele momento em que a gente pede pára 
querendo que e não podendo mais querer, 
porque mais do que aquilo 
não se agüenta mais, 
sabe como é? 

Violenta, às vezes, de tão bela, a beleza é! 


Elisa Lucinda

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