domingo, 14 de outubro de 2018

UMA BOA PESSOA

Na psiquiatria biológica a percepção que se tem do paciente é a de um objeto sólido, visível, mensurável, e em vias de ser encaixado num juízo de valor. Diz-se "diagnóstico". Ou pior: uma condenação. A psiquiatria biológica, por muitos chamada psiquiatria científica, avança sobre o seu paciente no intuito de adestrá-lo. Não há encontro. Trata-se de um ato encoberto pela racionalidade médica e pelo lugar de poder que ocupa o doutor. Tudo é política, tudo é força. A linguagem douta funciona em pressupostos implícitos (palavras-de-ordem inconscientes) onde ela institui o direito naturalizado de fazer o mal quando se acredita estar fazendo o bem. Afinal, o ser-médico (forma social identitária) estabelece condições de verticalizar ad nauseam a relação com o paciente, fazendo dela um campo de produção-consumo ao modo capitalístico dos valores de troca. Estamos em pleno regime de Mercado! Por isso o conceito de "pessoa", tão cristão, tão sublime, tão humanístico, se revela inútil para analisar formas de microfascismos no exercício da medicina. Tão boa pessoa, oh, por que o doutor trata o paciente desse modo? Por que ele o humilha como se isso fosse a coisa mais natural do mundo?

A.M.

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