A DIFERENÇA NA SAÚDE MENTAL - VII
"Loucura" não é um conceito médico. No entanto, ele é utilizado pela medicina psiquiátrica com outro nome: psicose. Na pratica clínica esse diagnóstico (psicose) faz por autorizar a intervenção médica sobre a conduta de alguém. Não que em muitas situações isso não seja indicado e válido. A questão é outra. A loucura, numa clínica da diferença, é a referência empírica e teórica para se estabelecer uma ética de cuidado ao paciente. Assim, é preciso estender o conceito de "loucura" a uma psicopatologia que sirva ao paciente e não às instituições que o sustentam como subjetividade "inferior". Loucura é a experiência de desorganização psíquica fora dos padrões sociais vigentes. Esse fato precede a manobra diagnóstica psiquiátrica de capturar (e talvez internar) o chamado portador de transtorno mental. É que a loucura se constitui como caos não necessariamente visível ou mais precisamente como complexo de forças que se aliam, se chocam, se roçam, se alimentam umas das outras no que chamamos (cf. Deleuze-Guattari) de inconsciente produtivo. Não seria tão só o paciente a sofrer os seus efeitos. E não seria a psicanálise a única autorizada a pesquisá-los. Esse é o inconsciente à luz do dia, ao alcance de todos e assunto coletivo para seres viventes. Pensar desse modo (louco?) é pensar diferente com toda a potência de uma clínica nova.
A.M.
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