A DISSOLUÇÃO DO SENTIDO
Alain Touraine (Hermanville-sur-Mer, 1925) é um dos últimos sobreviventes de uma geração brilhante que marcou as ciências sociais e o pensamento ocidental desde meados do século XX até o início do XXI. Como sociólogo, seu campo de estudos abrangeu desde as fábricas que no pós-guerra elevaram o país à sociedade pós-industrial até os movimentos sociais e a crise da modernidade. Com suas intervenções no debate público —na França, mas também em outros países europeus, como a Espanha, e na América Latina—, Touraine se tornou uma referência do que em seu país chamam de segunda esquerda —de caráter social-democrata e claramente antitotalitária. O sociólogo conversou com o Ideias por telefone de sua quarentena em Paris.
PERGUNTA. Estamos em guerra, dizem Donald Trump, Emmanuel Macron e Pedro Sánchez. É correto?
RESPOSTA. Tecnicamente, quem enfrenta a guerra é um exército. Que invade o território do país B. São necessários pelo menos dois agentes e ocorre entre humanos. Aqui, em vez disso, o que vemos é o humano contra o não humano. Não critico o uso da palavra guerra, mas seria uma guerra sem combatentes. Não há estrategista: o vírus não é um chefe de Governo. E, do lado humano, acho que vivemos em um mundo sem atores.
P. Sem atores?
R. Nunca tinha visto um presidente dos Estados Unidos tão estranho como Donald Trump, tão pouco presidencial, um personagem tão fora das normas e fora de seu papel. E não é por acaso: os Estados Unidos abandonaram o papel de líder mundial. Hoje não já há nada. E na Europa, se você olhar para os países mais poderosos, ninguém responde. Não há ninguém no topo.
(...)
Marc Bassets, El País, 31/03/2020, 16:20 hs
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