ESCURO E SEM RUMO
A barulhenta troca no comando do Ministério da Saúde agravou as lacunas nas informações públicas importantes sobre a crise do coronavírus e fragilizou a interlocução da pasta com Estados e municípios (responsáveis por executar as estratégias de saúde na ponta). Isso no momento mais sério em que o Brasil elevou a curva de infectados e óbitos, e já caminha para seguir o quadro da Espanha, Itália, ou Estados Unidos. Somente após os primeiros dez dias de gestão de Nelson Teich, o novo ministro começou a se pronunciar mais seguidamente sobre o tema. O ministro e sua equipe apresentaram novos dados em dois detalhados boletins e tentaram aplacar o apagão de informações que se desvela sobre a epidemia no país, mas estão longe de tirar todas as dúvidas. Dois meses depois de detectar o primeiro caso de coronavírus, o Brasil ultrapassou o número de mortos contabilizado oficialmente pela China —já são ao menos 5.466 as vítimas brasileiras—, e pelo segundo dia consecutivo somou nesta quarta-feira mais de 400 óbitos novos à contagem. Números oficiais, sem contar os dados que estão sendo subnotificados. Tudo isso enquanto ainda não tem, por exemplo, um desenho do tamanho real da epidemia que já estressa os sistemas de saúde público em vários Estados.
A projeção do estudo do Imperial College de Londres prevê que o total de mortes chegará perto de 10.000 no Brasil já neste final de semana, e compara a curva do Brasil à dos Estados Unidos, onde já morreram quase 60.000 mortos desde o início da pandemia no final de fevereiro. Enquanto isso, o Governo também não apresenta à sociedade a estrutura de saúde global e atualizada que está em funcionamento e disponível para receber os pacientes mais graves com a doença, que, na falta de um medicamento capaz de curá-los, necessitam de aparelhos específicos para conseguirem respirar até superarem a fase mais aguda da infecção. “Quando vai ser o pico? Não sei e ninguém sabe. Um dos grandes problemas de se definir uma data é que aquela sugestão se transforma em promessa de um dado real. Quando aquilo não acontece, todo mundo começa a se perguntar se a gente não está fazendo algo errado apenas porque não deu certo a data”, disse Teich nesta quarta, numa audiência virtual com senadores. O ministro tem evitado falar em projeções e criticado estudos mundiais sobre o tema, embora tenha admitido nesta semana um “agravamento" da crise.
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Beatriz Jucá e Joana Oliveira, El País, São Paulo, 30/04/2020, 10:39 hs
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