sábado, 25 de abril de 2020

FASCISMO EXPLÍCITO

Durante a coletiva sobre a saída de Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro mencionou o nome da cientista política carioca Ilona Szabó. No começo do ano passado, o ex-ministro a nomeou para o cargo de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, um órgão composto por membros da sociedade civil. Assim que soube da indicação, Bolsonaro a exonerou. No discurso desta sexta feira, 24 de abril, Bolsonaro disse que Ilona era “abortista" e defendia a "ideologia de gênero”. Presidente do Instituto Igarapé, Ilona tem ampla experiência e respaldo internacional no estudo e atuação de questões de segurança pública. Em entrevista a Marie Claire, ela conta que precisou deixar o país também em função de ataques e perseguições que extrapolaram as redes sociais. Aproveitou a oferta de uma bolsa de estudos e  mudou-se para Nova York, onde dedicou-se ao estudo das perseguições virtuais e concluiu: “há um fechamento do espaço cívico no Brasil". 

Marie Claire: Hoje o presidente Jair Bolsonaro disse que você era abortista e defensora da ideologia de gênero, como se defender a legalização do aborto e debater questões de gênero fosse um problema. Como recebeu essas palavras?
Ilona Szabó: Impressionante porque é a segunda vez que ele faz isso. Prefere citar temas que não são minhas pautas de trabalho. Também não sei o que é ideologia de gênero, gostaria que alguém me explicasse. O presidente sabe claramente quais são as minhas posições. Temos muitos pontos de diferença e o principal deles é o controle de armas. Trabalho pela regulação responsável de armas. E acho que ele faz isso, especialmente com mulheres, para jogar outros grupos que tem posições mais radicais contra a gente. Tem um grupo forte, do lobby das armas, das pessoas que acham que armar todo mundo é um caminho, ele quer juntar mais gente para me perturbar nas redes sociais. Obviamente isso não fica só nas redes sociais.

MC: Você já recebeu outros ataques provocados por falas do presidente? E de que maneira os ataques extrapolaram as redes sociais?
IS: Sou alvo de ataques há bastante tempo, mas eles ficaram piores a partir de 2017. Vi animosidades em um lugares públicos, indo pegar uma ponte aérea, eventos. Mas infelizmente no governo Bolsonaro os ataques têm outros desdobramentos. Tivemos que tomar uma série de medidas de segurança no Instituto Igarapé, mudar a sede. Fui passar um tempo fora do Brasil, fazer um fellowship. Eu já queria fazer uma reflexão, mas a questão de não conseguir fazer uma análise de risco da segurança da minha família, das pessoas que trabalham comigo, provocou essa mudança. Tive oportunidade de fazer uma pesquisa sobre o fechamento do espaço cívico no Brasil. Conversei com pessoas: jornalistas, artistas, gente havia saído do governo, para saber dos desdobramentos dos ataques online na vida pessoal delas. E são muitos. Inclusive porque tem chantagens, intimidações, outro tipo de monitoramento que nos coloca em um momento bastante crítico. Os ataques não são só online, vão para a vida pessoal, institucional e profissional.
(...)

Maria Laura Neves, Marie Claire, do Home Office, 25/04/2020, 00:25 hs

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