domingo, 24 de outubro de 2021

EXCERTO DE ENTREVISTA - M. FOUCAULT - 15 de maio de 1966

-Isso não impede que essa nova forma de pensamento (*), com números ou não, se apresente fria e bastante abstrata...

M.F. - Abstrata? Responderei então: o humanismo é que é abstrato! Todos esses gritos do coração, todas essas reivindicações da pessoa humana, da existência, são abstratas, quer dizer, separadas do mundo científico e técnico, que, sim, é o nosso mundo real. O que me irrita no humanismo é que ele é doravante esse guarda-vento através do qual se refugia o pensamento mais reacionário, onde se formam alianças monstruosas e impensáveis: pretender-se aliar Sartre e Teilhard, por exemplo. Em nome de que? Do homem! Quem ousaria dizer mal do homem!  (...) (...) Não se deve confundir a tepidez mole dos compromissos com a frieza que caracteriza as verdadeiras paixões. Os escritores que nos agradam mais, a nós, "frios" sistemáticos, são Sade e Nietzsche, que, com efeito, diziam "mal do homem". Não eram eles também os escritores mais apaixonados?


(*) Refere-se ao estruturalismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário