segunda-feira, 11 de outubro de 2021

SOPA DE FÁRMACOS

O uso de psicofármacos em psiquiatria clinica tem como objetivo ( ou deveria ter) a supressão dos sintomas que o paciente refere. Como geralmente a queixa compreende vários sintomas, há uma tendência atual dos psiquiatras em prescrever vários remédios para vários sintomas, dispostos lado a lado, conforme a equação sintoma=remédio. Recebi uma paciente com 7 fármacos há 7 anos. Humor hipotimico, ansiedade, fobia, delirio, alucinação, insônia, entre outros, sintomas "alvejados" um a um num manejo, digamos, pouco inteligente do tratamento. Qual? Importante pois, registrar que na avaliação clinica se considere duas linhas de análise: 1-Uma hipótese diagnóstica; 2-A vivência do paciente que precede e mistura os vários sintomas. Usamos  "diagnóstico" como função terapêutica e não como função de controle. Quanto a vivência, trata-se de detectar os afetos (sentimentos) e as crenças (valores) presentes nesse momento existencial. Garantidas linhas de análise das circunstâncias atuais, será possível reduzir um pouco (senão muito...) a onda gigantesca de prescrições desnecessárias e nocivas. No entanto, é evidente o reinado da psicofarmacologização generalizada em caps, ambulatórios, consultórios e manicômios (mesmo nos maquiados). Por que? Porque medicar, prescrever remédios (não só em psiquiatria, mas nas demais especialidades) tornou-se, faz tempo, uma relação social, uma forma de relação social, uma instituição, enfim, plantada como objeto de consumo no coração da subjetividade moderna. A vida tornou-se uma sedação continuada: como dar alta?

A.M.

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