O que é saúde mental?
Trata-se de um conceito historicamente atrelado à medicina. Daí se prestar a um mal-entendido crônico.
É possível condensar tal fato numa negação simples: saúde mental não é a saúde do organismo humano, nem dos seus órgãos, sequer do cérebro.
Uma saúde da mente. Mas o que é a mente? Alguém já viu a mente de alguém? Como trabalhar com algo invisível?
A mente é invisível mas compreende uma realidade tão “real” quanto a dos objetos visíveis. Trata-se da realidade do desejo, dos afetos, dos sentimentos. Isso é a mente.
Ela não aparece, por exemplo, como imagem num exame de ultrassom. Inútil essa busca.
Ora, se os afetos são a mente, ela implica sempre numa relação com outras mentes e por extensão, com tudo que consiste o mundo.
O mundo consiste de mil tipos de relações: econômicas, familiares, sociais, institucionais, culturais, amorosas, religiosas, escolares, comerciais, etc.
Assim, é óbvio dizer que a mente não existe sozinha, isolada, já que está sempre em relação com algo ou alguém.
Temos, então, uma ideia calcada na vida concreta para pensar o conceito de “saúde mental”.
Saúde mental é um bem estar expresso na relação da mente com o mundo. Daí o mundo passa a estar incluido nos métodos (tratamentos) para se obter a saúde mental.
Em outras palavras, o objeto do tratamento em saúde mental não é o cérebro do paciente (como dizem os neuromaníacos), mas o mundo onde ele está e se relaciona. Sociólogos e assistentes sociais vêem isso de cara.
Atenção: em saúde mental é mais adequado (e útil) falar em “cuidado” ao invés de “tratamento.”
Esse modo de ver as coisas traz mudanças importantes na equipe técnica de um caps.O modo de acolher o paciente, o olhar agudo e crítico sobre as suas relações com o mundo e, por fim, mas não menos importante, os seus afetos.
O acolhimento diz respeito ao diagnóstico psicopatológico e às condições que o caps oferece como lugar do cuidado. A pergunta-chave: é possível ajudar esse paciente?
O olhar “agudo e crítico” refere-se à percepção da realidade em torno e no que ela dificulta (ou facilita) o cuidado. O exemplo da família é o mais imediato e simples.
Quanto aos afetos, começa com a pesquisa sobre o que o moveu a buscar ajuda, incluindo os (muitos) que não querem ajuda e são trazidos por terceiros.
A.M.
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