O HORROR DO HUMOR
Não se encontra nos livros de psiquiatria um conceito de afeto. Dito de outro modo, a pergunta "o que é a afetividade?" sequer é posta. Às vezes são encontradas aqui e ali definições ridículas, baseadas no pressuposto de que afetividade é tudo que não é consciência, pensamento, memória, atenção, fala, etc. É de fazer rir. Um raciocínio é assim produzido ao inverso, ou seja, pelo seu negativo.Dos manuais de psicopatologia (cada vez mais raros com a progressiva extinção desse campo de pesquisa) aos tratados de psiquiatria, os textos não assumem a auto-ignorância para com um tema tão essencial à clínica. Contudo, o mais grave ainda não é isso, e sim a construção de um conjunto pseudo-teórico sobre o humor sem quase nada se saber do humor. Um horror! O estado-de-ânimo (humor) decorre dos afetos e não o contrário. O humor se expressa antes de tudo como "afetos sob variados matizes". Trata-se de um dado facilmente observável no cotidiano dos indivíduos não necessariamente doentes. O mau-humor matinal. Ainda assim, surge e se afirma, nos dias atuais, o conceito de bipolaridade, esta pérola de inconsistência teórica e clínica. Os pacientes tendem a acreditar numa empulhação técnica que supostamente irá melhorar suas vidas psíquicas. Toneladas de psicofármacos são enfiados goela abaixo.
A.M
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