sábado, 29 de janeiro de 2022

UNIVERSO DA DIFERENÇA

Nada é estável. Mesmo a natureza, com seu cortejo teológico anexado à crença  humana na  “maternidade”, é fluida e mutante. Mãe-natureza, você nos  socorre? Nada. Não há garantias,  salvação ou igualdade de direitos. Quem estabeleceu os direitos? A natureza é em essência  cruel e indeterminada, ainda que bela. Esqueça a moral. O argumento da prática é o empírico  invisível e fugidio. Defensores do estado (ou do mercado) se pegam  em discursos intermináveis. Eles querem mais é controlar a natureza.Ao contrário, o universo da diferença não tem controle, não tem  cronos. O caos se avizinha num tom musical. Aproveite. A questão  é a da alegria, força maior. Encontrar quem o socius codificou como o excluído, mesmo  que, pela via  da Ciência,  seja  o incluído. As palavras  iludem e fazem  de um problema, a  solução. Inverta:  faça  da  solução um problema. Nada a compreender,  mas a  aceitar. Quem  delira  espaços, culturas, continentes, povos, políticas e a abertura do cosmos? Quem  habita zonas produtivas  do inconsciente? Como chegar às angústias do seu mundo? A psiquiatria “confessa” o  fracasso. A psicanálise, arrogante, brocha. Estamos, pois, a buscar espíritos sensíveis que encontrem a diferença sem o bom senso do cristianismo. Traçar linhas  da existência onde a razão vacila. Investir um risco infinito: afinal, quem é você? Não uma identidade, estou  certo. A hora  do  sonho cedeu  lugar à  exigência de uma tarefa clara. Foi à cidade? Pagou as contas?  O coração da gente  é o  de  uma  rua  da  cosmópolis.  Nada  é fixo. Hoje, o alimento dos  deuses do capital envenenou raízes edipianas.  Resistir, resistir à infâmia, à vergonha e ao fascismo na medida em que nascer o inumano em nós. Estar em carne, mesmo em espírito.Viver de paradoxos. Pertencer ao universo que vaza  representações e canções à margem. Desejar linhas minoritárias do corpo.A psicologia não  quer. Ela odeia  a diferença. Não combina. Tem ares  de ciência rasa. Tampouco a psiquiatria e a sociedade. Elas se alimentam de medianos. Oh, os medianos! Há boas  intenções, sabemos. Afinal, o humanismo marcou nossos gens.  Mas um grande riso sem motivo tornou-se  o motivo  do riso. A hora do acontecimento se aproxima. 


A.M.


Obs.: texto revisado, ampliado e republicado.

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