O CONCEITO EM DELEUZE
Como muitos se propõe a falar de filosofia e dar-lhe uma definição, então precisamos começar limpando o terreno das más definições, das definições fracas, mancas, em uma palavra: inconsistentes. Comecemos então com a definição negativa, afinal, o que a filosofia não é?
Vemos ao menos o que a filosofia não é: ela não é contemplação, nem reflexão, nem comunicação
Contemplação: a filosofia não é contemplação porque ela não é desinteressada… Aos que respondem que a filosofia não serve para nada, Deleuze retribui com uma gargalhada galhofeira. Mas no fundo é triste que alguns pensem assim. Se a Filosofia é contemplação sem interesse algum, então sua utilidade é nula! De que adianta contemplar o mundo das ideias e tropeçar em uma pedra aqui? O filósofo não possui compromisso nenhum com o Universal, não está nem preocupado com isso, porque seu ato de filosofar é pura e simplesmente criar conceitos. Conceitos estes absolutamente singulares, quase particulares, que preencherão o plano de imanência.
Comunicação: a filosofia também não possui compromisso algum com o consenso. O meio termo é uma aberração para ele! Em sua função, o filósofo não espera que os conceitos sejam aceitos nem compreendidos por todos. Pelo contrário, quantas vezes a filosofia não cria o desconforto, a angústia? Os conceitos possuem fundamento e não se rendem à opinião geral. A voz do povo é a voz de Deus? Pois bem, diz o filósofo, Deus está morto! Não podemos esperar do filósofo uma comunicação que esclareça e crie consenso, ele não está preocupado com isso. Devemos fugir das discussões e comentários de internet, a filosofia tem mais o que fazer… Cada um tem a filosofia que merece, alguns, inclusive, não possuem nenhuma.
Reflexão: O horror da filosofia às discussões nos leva à última proposição negativa. Quem disse que é necessário a filosofia para refletir? Ora, de modo algum! Podemos refletir com qualquer outra coisa, com as árvores, com uma música, com um poema, com números. O matemático não espera o filósofo para refletir sobre seus problemas. O biólogo não espera o filósofo para refletir sobre os animais. O poeta não espera o filósofo! Ninguém espera a filosofia para pensar (talvez por isso o filósofo possa, mais do que ninguém, habitar a solidão). O pensamento habita a filosofia, mas não é exclusivo de seu campo.
A filosofia não possui compromisso nenhum com o Universal, com o consenso ou com a doxa (opinião). Seus caminhos são outros, ela opera por singularidades. Para Deleuze e Guattari, o conceito será o centro da filosofia, sua razão de ser; podemos resumir tudo em uma fórmula simples: Filosofar = criar conceitos. Pode parecer estranho em um primeiro momento, talvez prático demais. Quer dizer então que os conceitos não estão escondidos por trás dos fenômenos, ou brilhando no céu? Sim, é exatamente isso, filosofar é a prática de criar, inventar, construir, talhar e dar consistência aos conceitos. E podemos ir além, não há altar para os conceitos, eles precisam ser arrancados do ato do pensamento.
Rafael Tindade do site "Razão inadequada"