SINAPSES DA ALMA
Os transtornos mentais não explicam nada. Eles é que deveriam ser explicados. Isto significa que a psiquiatria biológica (bem entendido, a psiquiatria hoje hegemônica) funciona com base em entidades clínicas fixas, endurecidas, coisificadas, os chamados transtornos. Munida deste apriorismo metodológico, a pesquisa clínica não avança, não descobre, não cria, não inventa, desconhecendo o que se passa de fato com o paciente (ele não é escutado, ao contrário) bem como com as causas do seu estado psíquico "alterado". É uma constatação prática, até certo ponto óbvia. Olhe em torno, escute relatos, leia artigos e livros de psiquiatria. É tudo atual. O pensamento está ausente. Há ainda um dado complicador: o enquadre teórico dessa psiquiatria notoriamente conservadora (em termos técnicos, teóricos e políticos) conta com traços de déficit cognitivo. Eles travam o diálogo, o que leva a psiquiatria a buscar ajuda de fora. São as neurociências. Uma teologia científica que segue um cortejo sináptico de importantes descobertas imagéticas. No entanto, tais imagens, feitas para serem vistas no écran, passam a funcionar num regime de visibilidade onipresente, constituindo o próprio universo institucional dessa especialidade: transtornos mentais-recheados-de-imagens, descarnados, desossados, cadáveres gordos. Nada explicam. Deveriam ser explicados.
A.M.
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