O FIM E O FIM DO DIAGNÓSTICO PSIQUIÁTRICO - X
Com o fim do diagnóstico psiquiátrico (enquanto instrumento terapêutico), e a colonização da alma, restam os grandes conjuntos síndrômicos a balizar a clínica. Eles surgem de um real atual atravessado pelo horror dos tempos. A morbidade psícossocial aniquila territórios subjetivos no cotidiano das velocidades caóticas. No caso brasileiro, uma opressão oficial, natural, sustentada pela democracia representativa, traz à luz a sabotagem do desejo. Este sofre por ser interrompido, por não produzir produzindo e daí estancar em linhas patológicas a erosão crônica do Sentido. Em que acreditar? Sobram arcaísmos religiosos tanto quanto arcaísmos escolares, estatais, familiares, acadêmicos, jurídicos, políticos. Estaríamos em plena guerra fria? Arcaísmos traduzem a organização das transcendências (algo para além da vida, o culto ao passado, o messianismo populista, a verdade midiática, etc) que, no caso da psiquiatria, substituem os verdadeiros problemas por uma espécie de mecanização do pensamento. A entronização e a reificação do cérebro cumprem a função de imbecilizar modos de subjetivação através da indústria de pseudodiagnósticos cérebro-mentais (alguém já viu um cérebro funcionando?) voltados à reparação de neurocircuitos lesionados e o consumo de axiomas científicos movidos à fé religiosa. Desse modo, o fim do diagnóstico psiquiátrico é correlato ao começo de uma era onde tudo é ou será tecnologia de controle ao gosto das populações consumidoras de ordens implícitas. Uma diferença implantada na psiquiatria implicaria no estilhaçamento dos seus saberes em prol de uma psicopatologia coletiva. Impossível?
A.M
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