VIAGENS DE MIGUEL
O Encontro com uma criança, Miguel. Como dizê-lo? Apenas que circula livre nas colinas verdes do meu pensamento. E brilha como um dia amante. Nada abstrato, já que ele está bem à minha frente (nesse momento) e diz: "pai, o que é a diferença?" Falo que não sei, bem, quer dizer, não sei lhe responder, já que a diferença rigorosamente não é, ela não está, ela vai, ela corre, flui num corpo se fazendo e a se fazer. A diferença é o devir. Tampouco é uma questão de saber, mas de sentir, perceber. A diferença é um certo jeito do afeto, o desejo em suas multiplicidades de risco. Ele não entende bem o que digo e volta a indagar: "mas onde ela anda, onde está?". A resposta vem súbita como num clarão-surpresa: a diferença está em você, ó criança, a diferença é você, correndo e escorrendo pelos campos, montanhas, matas e flores, ventanias de um tempo infindo. Sossegue, você entende: por onde andar, os fluxos da diferença extrairão da sua beleza o sentido, mesmo o sentido do não sentido de viver. E cultivarão a alegria no meio das brutalidades do humano em volta. Tudo porque você é o amar como acontecimento, o sem retorno, o irreversível, o sem explicação, o sem razão, o sem nome. Antes de tudo, poesia, música e dança das florestas.
A.M.
Começa diálogo filosófico. Como os passeios de Sócrates. Mas depois do clarão surpresa dá-se a poesia.
ResponderExcluirO poema começa em "A diferença está em você, ó crianca,