terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

DEVIR-MULHER

Todo rosto é uma paisagem.  Mulheres povoam o deserto sem oásis. Paixões são deixadas no caminho dos tuaregues. Encontrei passagens  secretas. Me deixei ir. Dormi com as algas. Salguei nas  entranhas. Escorri  com a  chuva.  O tempo  avisou: a hora  nunca chega. É difícil  encontrar uma  mulher anunciando  o vento, arrastando   enseadas. Lá vem ela  em plena  manhã de  sol. Olho seus olhos. Como posso achá-los senão através de uma  “longa preparação”? Me perco em romances e imagens. Protelo encontros cruéis. Essa alegria  tão alegre,   dói.  Onde  achei   mulheres  de  rosto cósmico,  as  expressões  do mal foram  do  bem.  Fui direto às  que  teceram  vidas e   camas  em   espaços  quentes. Adornei  veias com traços heróicos de coxas lisas.  Olhos  graúdos me ensinaram a nadar  na secura  dos  lábios.  Cabelos muito  pretos cheiravam aos perfumes do orvalho. Eles enlaçavam  a alma viajante das intensidades em brechas do desejo.  Pongando no seu corpo, saí a passear  por planícies infinitas. Isso me trouxe a alegria em pequenos potes. Quantas vezes naufragamos? Toda mulher é uma paisagem. Afirma as horas que chegam doadas em películas de ouro. Nada volta. Estou aqui. Um  coração professa  o anti-romantismo disfarçado de suavidades. Uma voz rouca ecoa musical.  Estágio zero. Nunca se ama uma mulher, mas os seus signos enviados. Os nômades, os feiticeiros, os mágicos, os poetas acendem as tardes translúcidas e luzidias da cidade. Tudo arde, tudo treme na busca da anti-cura para o desvario mais selvagem. As mulheres são melhores.


A.M.

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