sábado, 28 de dezembro de 2013

A FANTÁSTICA FÁBRICA DAS DEPRESSÕES

Tenho atendido muitos pacientes que já chegam com o diagnóstico de Depressão. Tal diagnóstico, é claro, lhes foi imposto por psiquiatras apaixonados pelo ato de passar remédio. É como se fizessem (aos pacientes) dizer a priori: "Eu sou a Depressão". Esta é uma espécie de  identidade factícia que tampona um "vazio" subjetivo de múltiplas causas e linhas existenciais heterogêneas. Ora, tal diagnóstico irá referendar o uso indiscriminado de psicofármacos. A crença instilada na mente do  paciente é a de que o remédio químico irá curá-lo, ainda que a palavra "cura" possa não ser usada. Ela circula implícita mas não menos atuante na produção da morbidade do século. Fico sabendo dessas histórias de terror clínico através dos próprios pacientes, quando dos relatos anamnésticos. O essencial a reter desse breve comentário é: 1-Existem vários tipos de depressão que não se coadunam com as categorias semiológicas da CID-10; 2-Há depressões com indicação exclusiva para psicoterapia; 3-A depressão grave (antiga endógena) tem indicação para farmacoterapia, desde que haja suporte psicológico do próprio psiquiatra, o que não significa psicoterapia no sentido usual. Quero dizer que o remédio químico, por melhor e mais "avançado" que seja, é insuficiente para o Encontro com o deprimido; 4-Há pessoas não deprimidas diagnosticadas como deprimidas. Talvez, sob a palavra de ordem do psiquiatra travestida de ajuda clínica,tornem-se, enfim, deprimidas for ever. 5-A depressão não é uma entidade clínica ou uma essência do ser-doente, mas uma síndrome psíquica gestada por múltiplos vetores etiológicos que é preciso pesquisar; 6- A depressão pode estar no mundo e não no paciente...

A.M.

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