sábado, 28 de dezembro de 2013

DEVIR-CONSCIÊNCIA


A consciência, mesmo que pareça  ser  uma  luz vinda de dentro do cérebro, ou da mente, é uma tela. É possível dizer a partir  de um Bergson   deleuziano que a consciência  é  o  contrário da luz. Ela  é uma espécie  de anteparo para  a luz, esta sim, vindo  de fora, do  cosmo. Para pensar desse modo, há a experiência não usual, não  cotidiana, “anormal” do “ser-consciente”. Uma psicopatologia em ato.  No encontro com o paciente  interessa operar clinicamente uma  “outra” consciência. Os  casos mais  ou menos evidentes de alteração  do nível da  consciência (os quadros orgânicos)   são percebidos como tais à medida em que a anamnese é feita com detalhes.  Há uma infinidade deles  ligados à  condições cerebrais específicas. No entanto,  pela via   do Encontro não existe a consciência e sim subjetivações  ou modos de subjetivação. Um modo  de subjetivação é uma composição de afetos. Um traumatismo de crânio, por  exemplo,  pode gerar uma  confusão mental.  Mesmo aí, o nível da consciência compõe  um modo de  subjetivação, e não o contrário. A consciência  chega  depois. Ela é  um efeito proveniente  de  estímulos que  vêm de fora  e com o cérebro estabelecem  relações de uso. Caso o tecido cerebral  esteja  danificado (lesionado) os efeitos mudam. O cérebro é matéria, claro, mas o que  chega  de fora também é matéria. São imagens  formando  a  subjetividade. Assim,  o chamado “mundo interior” não existe senão  como expressão corporal das imagens. Se estas são matéria, são afetos.O que muda então  na avaliação (exame) do paciente  portador de transtorno mental? 1-o comportamento observável é   sobretudo o afetivo-relacional: como o paciente sente  e  reage ao mundo? 2-as funções psíquicas não remetem a  um centro  organizador (a consciência, o eu)  como  modelo de conduta adequada; 3- a capacidade de autonomia social  passa a estar ligada  aos  devires ou processos  desejantes; 4- uma pesquisa  destes  devires ou: que linhas existenciais o paciente constrói? é essencial, mais até  do que obter  um diagnóstico nosológico; 5- traçar um plano de vida  que  comporte os devires como movimentos  singulares: o paciente não é o diagnóstico, sequer a doença (caso exista); ele é uma mistura de elementos  do real e  do não-real; resta usá-la como ato  terapêutico.  

 A.M.

 “ A consciência  é  o contrário  da luz; todos os  filósofos tem vivido  com a idéia de que  a consciência era uma  luz. Pois não  é. O que  é  luz é  a matéria e  daí  a consciência é  o que  revela  a luz. Por  que? Porque a  consciência é a tela negra. A consciência é  a opacidade, que  como tal vai levar a luz a revelar-se, isto é,a refletir-se”, Deleuze, G., Curso de los martes; La  imagem movimento, 1982, tradução  ao espanhol: Ernesto Hernandez, via  Internet,  web  Deleuze, acessado em 09/12/2003, tradução espanhol-português nossa.

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